A frente da Corregedoria-Geral da Brigada Militar, o coronel Vladimir Luís Silva da Rosa afirma que houve "postura criminosa" na ação em que dois policiais foram flagrados cobrindo a cabeça de uma mulher com um saco plástico durante uma abordagem em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. O caso é investigado pela corregedoria em um inquérito policial militar (IPM), e os dois PMs, lotados no 3⁰ batalhão de NH, foram afastados de suas funções enquanto é feita a apuração.
A ação ocorreu em um bar do bairro São José, na noite de domingo (1º), e foi flagrada em um vídeo, sem que os brigadianos percebessem. Segundo relato da mulher que aparece na imagem, os PMs chegaram ao local apontando arma para a cabeça do marido dela e mandando entrarem no bar. A vítima, que preferiu não se identificar, afirma que o companheiro foi agredido, algemado e que também teve um saco de plástico também colocado na cabeça. Depois, algemaram a mulher e a cobriram com a sacola.
Na tarde desta terça-feira, a mulher prestou depoimento à corregedoria. Os dois PMs responsáveis pela ação foram chamados a depor na segunda, e ficaram em silêncio.
GZH apurou que um dos soldados ingressou na corporação em novembro de 2018, e o outro em março de 2021.
Sem informar muitos detalhes, Rosa ressaltou que o caso é investigado desde segunda-feira (2), quando a BM tomou conhecimento do vídeo. O corregedor não informou se outras abordagens do tipo já haviam ocorrido no local e nem o contexto da ação. Também é apurado se mais PMs estariam envolvidos, aguardando do lado de fora do estabelecimento. Apesar de a abordagem ter sido realizada, nenhum boletim de atendimento foi aberto pelos PMs no bar.
— Há muitos elementos que precisamos investigar, e também não podemos comprometer a apuração. A única certeza que temos é que houve postura criminosa, a de botar a sacola na cabeça de uma pessoa — disse Rosa.
O corregedor avalia que a conduta foge dos padrões de abordagem da Brigada Militar e não condiz com a prática da corporação.
— Entendemos que é algo que foge dos nossos padrões operacionais. Tanto que assim que recebemos o vídeo, fomos verificar a veracidade, ouvir as vítimas e logo depois os PMs foram afastamos. A BM faz cinco mil abordagens por dia no Estado. Dessas, a gente tem esse caso que fugiu da conduta. Não são casos recorrentes, mas pontuais.
Ao citar outros casos de policiais que tiveram suas condutas criticadas, como o que resultou na morte de um jovem em São Gabriel, Rosa reafirmou que são casos isolados. Ele ainda avaliou como positiva a medida que irá inserir câmeras de monitoramento em uniformes de agentes da BM e da Polícia Civil no Estado.
— É algo positivo, porque aí teremos a visão do PM para a sociedade e da sociedade para o PM. Vai ser um grande instrumento de prova para os casos. Todo o soldado ou oficial que sair para fazer policiamento estará usando a câmera.
Casos do tipo, de ação de PMs em serviço, são investigados dentro da própria BM. Mesmo que a vítima registre boletim de ocorrência, o caso é destinado à corregedoria da corporação, e não para a Polícia Civil, que abre inquérito apenas em casos de homicídio doloso.
PMs teriam levado dinheiro e bebidas
Segundo testemunhas da abordagem, os policiais fecharam a porta do bar durante a ação. A mulher que aparece na imagem afirmou que os agentes pediram por informações e que também roubaram dinheiro e bebidas do local. A vítima disse ainda que os PMs fugiram do local ao perceber que a ação estava sendo filmada e ameaçaram matá-los, caso o vídeo fosse publicado.
O batalhão onde os policiais estão lotados se manifestou por meio de nota. Confira:
"O comando do 3⁰ Batalhão de Polícia Militar, sediado em Novo Hamburgo, comunica que tomou ciência de vídeo onde dois homens fardados aparecem em condutas incompatíveis com a atividade policial militar. Informa, ainda, que foram identificados o local e os dois policiais militares que aparecem nas referidas imagens, e que a Corregedoria-Geral já instaurou procedimento para a apuração das circunstâncias do fato. A Brigada Militar de Novo Hamburgo afastou os policiais militares das atividades até que seja concluída a investigação", diz o texto assinado pelo comandante, tenente-coronel Jacques Peiter.
Comandante Regional da BM no Vale do Rio dos Sinos, o coronel João Ailton Iaruchewski afirmou que presta apoio a corregedoria "no que for necessário".