Sem querer se identificar, por medo de represálias, a mulher que aparece em um vídeo durante uma abordagem da Brigada Militar, em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, afirma que sente "medo" após a ação — considerada fora dos padrões pela própria corporação. Na ocorrência da noite de domingo (1º), no bairro São José, dois policiais militares teriam agredido ela e o marido. O caso veio à tona depois que imagens que mostram um PM colocando um saco plástico sobre a cabeça da mulher circularam em redes sociais.
O casal, alvo da ação, foi localizado e ouvido pela reportagem da RBS TV. A mulher falou, anonimamente, sobre o ocorrido. O companheiro dela corroborou o relato, mas preferiu não conceder entrevista.
A situação chegou também à Corregedoria da Brigada Militar que abriu inquérito para investigar a situação e espera concluí-lo em uma semana. Os dois agentes envolvidos no caso foram afastados enquanto corre o inquérito policial. Chamados a depor na segunda-feira, eles ficaram em silêncio.
A vítima disse que temeu pela própria vida durante a abordagem:
— Eu tava aqui fora, tomando cerveja, porque é normal eu vir pra cá, né? Aí a polícia veio e simplesmente abordou meu marido. Aí ele pegou, e veio já com a arma na cabeça dele: "Entra, entra, entra". Nós entramos. Ali foi um filme de terror. Botaram saco na cabeça dele, algemaram ele, bateram nele. Aí vieram em mim. Botaram saco na minha cabeça. A sorte foi que a pessoa foi e filmou, se não acho que não ia nem estar mais aqui — disse.
Segundo testemunhas, os policiais fecharam a porta do bar durante a abordagem ao casal. A filmagem foi feita por meio de uma fresta. A mulher que aparece nas imagens diz que os agentes pediam por informações e também afirma que os policiais roubaram dinheiro na ação:
— Até as bebidas eles levaram. Levaram bebida, levaram força de dinheiro, que é o nosso sustento.
Para o corregedor-geral da BM, coronel Vladimir da Rosa, embora o caso ainda esteja sob investigação, as imagens da mulher tendo o saco plástico posto sobre a cabeça já evidenciam desrespeito aos manuais da corporação.
— É impactante no sentido de que foge do padrão operacional que nós adotamos, que todos os dias é trabalhado nas paradas de serviço quando os profissionais ingressam para tirar o seu serviço e tem a conversa com o coordenador, sargento, tenentes, capitães sobre o procedimento de melhor agir em prol da nossa sociedade — afirmou o oficial.
A mulher abordada diz que os policiais fugiram do local ao perceber que a ação estava sendo filmada e que ameaçaram matá-los, caso o vídeo fosse publicado.
— Medo, medo. Porque os que tinham que estar protegendo a gente fizeram isso — comenta.