A defesa de Alexandra Salete Dougokenski, 35 anos, iniciou sua fala às 16h45min desta quarta-feira (18). O foco dos advogados foi demonstrar que a mãe não tinha nenhum motivo que justificasse o assassinato do filho Rafael Mateus Winques, 11 anos. A acusação alega que a ré assassinou o garoto porque ele lhe desobedecia e não acatava suas ordens para não fazer uso excessivo do celular.
Capitaneando a defesa, o advogado Jean Severo iniciou a fala destacando a palavra "motivação", que foi escrita num quadro branco. Na sequência, dirigiu-se aos jurados e citou o nome de um deles. O momento levou a um bate-boca com os promotores, que alegaram que eles estavam expondo o Conselho de Sentença, em razão da transmissão do júri pelo Youtube. A juíza Marilene Campagna negou o pedido do Ministério Público e ressalvou que não havia problemas em nominar os jurados, desde que não fosse citado o sobrenome.
Severo seguiu com uma fala mansa, ao longo dos primeiros 15 minutos, cumprimentando a magistrada, os advogados que integram a banca e os promotores. Por fim, dirigiu-se à ré.
— Olha a responsabilidade que eu tenho — esbravejou, olhando para Alexandra, sobre o compromisso de buscar sua absolvição.
Na sequência, disse que encontrou Alexandra no Presídio Madre Pelletier, em Porto Alegre, e que ela disse que estava desesperada e com saudades da família.
— Essa moça aqui, eu tenho certeza, ou não estaria aqui, que ela não matou o Rafael. Mãe não mataria. Se condenada hoje, nem sei se vou ver essa moça de novo — alegou.
O advogado pediu que Alexandra se erguesse e ela caminhou até próximo dele. Neste momento, sustentou que a cliente é uma "figura frágil", que não conseguiria carregar o filho até o local onde o corpo foi encontrado.
— Não consigo imaginar a Alexandra, levantando numa madrugada fria, saindo de casa passo a passo. O piá dormindo, numa caminha quente, ela vai lá arranca uma corda do varal, chega no quartinho, vê o Rafa, aquele anjo, vai amarrando uma corda e puxando até que o menino ficasse roxo. Por que ela faria isso? Qual a motivação? Ah, porque ele ficava muito no celular? — indagou o advogado.
Questionou por que ela não se irritou com o filho mais velho, que também ficava no celular. Neste momento, pediu que ela sentasse novamente.
Severo seguiu a fala e contou que a própria esposa dele o alertou de que ele só deveria ingressar na defesa de Alexandra se tivesse certeza de que ela não era a autora do crime. Severo contou que foi até o presídio conversar com Alexandra:
— Eu faço uma análise da vida pregressa dessa moça. Eu quero saber: era uma mãe agressiva, tinha uma coisa contra ela no Conselho Tutelar? Converso com a família, falo com o Anderson (filho mais velho da ré). Ele me diz: "a mãe nunca deu um tapa em nós; uma vez ela deu em nós e foi chorar no banheiro". Eu comecei a achar estranho esse caso, me chamou atenção.
O advogado qualificou a investigação como "capenga" e disse que, após decidir assumir o caso, foi criticado, especialmente nas redes sociais.
— Uma mãe que foi condenada por manter a casa limpa, organizada, por ser uma mãe rígida. Quem deu educação? Foi o Rodrigo (Winques, pai de Rafael)? Não, foi essa moça aqui — disse.
O criminalista voltou a reforçar que Alexandra não tinha motivos para matar o filho.
— Eles precisavam achar uma motivação e não tem. Se encontrarem uma motivação, condenem, mas não tem. Hoje em dia, a criançada não sai do celular — afirmou, argumentando que Alexandra sequer havia agredido o filho anteriormente, embora ele já tivesse o hábito de jogar no celular.
— É um salto gigantesco. É a morte do filho. (...) Eu não posso conceber uma mãe matar um filho. Eu perco as esperanças — disse.
Severo sustentou que a versão apresentada por Alexandra no Palácio da Polícia, na qual ela admitiu ter matado o filho com a corda de varal, só ocorreu após ela ser coagida. O advogado exibiu trecho do vídeo do interrogatório, no qual Alexandra afirma que está passando mal.
— Planalto não pode admitir isso — afirmou.
Severo também exibiu um vídeo no qual Alexandra afirma que a polícia teria dito para ela mudar o depoimento. Na sequência, buscou enfatizar que Rodrigo não era presente e que não tinha relação de pai com Rafael.
— Um pai que não sabe a data de aniversário do filho, isso pra mim não tem explicação. E aí eu vou dar crédito para qual versão. Mas ela confessou? Mas a confissão não é a rainha das provas. As pessoas confessam por medo, para proteger alguém, porque já foram muito julgadas — disse.
O advogado enfatizou que Alexandra já está condenada por ter perdido o filho.
— O maior erro da Alexandra foi não ter falado a verdade no primeiro momento. Uma pessoa aterrorizada, com medo, ela sai de si, ela desliga, ela fica no automático. Essa moça é uma faccionada? Não. Se ela for absolvida, vai terminar de criar esse guri (o filho mais velho). Ela já está condenada por toda a vida — afirmou.
Moradores pedem pena máxima
Enquanto a defesa de Alexandra falava, moradores começaram a se reunir em frente ao Conselho Tutelar de Planalto. O prédio está localizado do outro lado da Rua Siqueira Campos, em frente ao Fórum de Planalto. No local, mulheres começaram a encher balões brancos. As envolvidas são professoras do menino Rafael e mães de alunos. O garoto estudava no Instituto Estadual de Educação Padre Vitório.
Faixas com os pedidos "pena máxima" e "Justiça por Rafael" foram estendidas, junto a uma camiseta com a foto de Rafael, na praça da prefeitura. No local também foram colocadas asinhas de anjo, já que o menino passou a ser chamado dessa forma.
A fisioterapeuta Mariele Zanella, 41 anos, está entre as organizadoras da manifestação. Ela disse que em razão de ser uma cidade pequena, com cerca de 10 mil habitantes, houve engajamento nas buscas, assim que o sumiço de Rafael se espalhou.
— Toda a comunidade se mobilizou na época em buscas. A única pessoa que não tentou ajudar foi justamente a mãe. A gente espera por Justiça. Estamos fazendo isso pelo Rafael. Esperamos a condenação máxima — disse.
Durante o protesto, os manifestantes deram as mãos, rezaram e gritaram pedindo por Justiça.