Começou nesta quinta-feira (15) o julgamento de quatro réus no processo que apura as responsabilidades pela morte de Fernando Chaves Gomes, aos 21 anos. Os trabalhos são presididos pelo juiz Orlando Faccini Neto, do 2º Juizado da 1ª Vara do Júri de Porto Alegre. O corpo da vítima foi encontrado com mais de cem perfurações, no dia 16 de dezembro de 2017, na Estrada Martim Félix Berta, no bairro Mario Quintana. A previsão é de dois dias de julgamento.
Eles respondem por homicídio, corrupção de menores, fraude processual, furto, receptação e por submeter adolescente à prostituição. São réus Felipe Santos Gonçalves, Andriele da Rosa Lopes, Lucas dos Santos Marques e Daniel Nunes Bittencourt Júnior. Um réu teve o processo dividido e responde separadamente, para outro houve prescrição do crime de receptação e outro aceitou suspensão condicional do processo.
Conforme a acusação do Ministério Público (MP), a vítima, que era de Passo Fundo e era garoto de programa, foi torturada e executada com golpes de faca. Tudo foi gravado e enviado para dois mandantes do crime, que eram ex-namorados do jovem e teriam encomendado o assassinato por ciúmes. Uma mulher de 23 anos, moradora de Parobé, foi presa, e um empresário de 34 anos, de São Paulo, encontrado morto no dia em que policiais gaúchos iriam prendê-lo.
Policiais civis prenderam na oportunidade os executores e apontaram o envolvimento de dois adolescentes, sendo um deles uma jovem de 16 anos usada para atrair a vítima. Outra mulher foi denunciada por ter emprestado o apartamento onde o crime aconteceu, também no bairro Mario Quintana.
Crime planejado
Conforme a Polícia Civil e o MP, o planejamento do crime teria começado em setembro de 2017, três meses antes da execução. A suspeita é de que a ex-namorada de Gomes tenha iniciado contatos com presidiários e, a partir daí, financiada pelo empresário paulista, contratado uma facção criminosa para executar o rapaz. A suspeita é de que tenham pago R$ 8 mil pela morte.
Uma semana antes do homicídio, a adolescente de 16 anos serviu como isca para a execução. Ela foi até Passo Fundo acompanhada por um homem para fazerem um programa com a vítima. Até então, Gomes achava que a mulher, na verdade uma adolescente, tinha ido sozinha. Dias depois, ela fez novo contato. Era um pedido para que Gomes fosse até Porto Alegre para outro programa com ela e uma amiga. Pagaram adiantado uma parte do valor.
A investigação apurou que tudo não passava de uma armação para atrair a vítima, que chegou na Capital por volta de 23h do dia 15 de dezembro e foi encontrado morto por volta de 6h do dia 16.
Investigação
O crime passou a ser solucionado a partir da identificação da vítima e da obtenção de imagens de câmeras de segurança. Um dos executores, identificado, foi preso, e um homem que participou da logística para atrair a vítima acabou revelando a história durante depoimento.
A partir disso, os investigadores da 5ª Delegacia de Homicídios passaram a apurar a rotina de Gomes e chegaram ao envolvimento de dois ex-namorados dele.
— Ao que tudo indica, o empresário de São Paulo estava inconformado com o final do relacionamento, acrescido a uma dívida que a vítima tinha com ele. Fez contatos com familiares do garoto de programa no interior do Estado e chegou à ex-namorada — afirmou a delegada Luciana Smith, responsável pela investigação, na época da conclusão do inquérito policial.
A mulher prestou depoimento como testemunha antes de ser presa. Ela confirmou que ficou surpresa ao saber que Fernando Gomes havia mantido um relacionamento com um homem em São Paulo e, para amigas, falou em vingança.
Tortura
Conforme as investigações, dentro do apartamento cedido para os criminosos executarem a vítima, o jovem foi amarrado e torturado com golpes de faca. Tudo foi gravado em vídeo. Gomes implorou para não ser morto depois de mencionar os nomes dos dois possíveis mandantes do crime. A perícia comprovou a presença do sangue da vítima dentro do apartamento.
Gomes sofreu dezenas de facadas antes de ser enrolado em um lençol e ter o corpo transportado no porta-malas de um carro até cerca de três quadras do edifício, onde foi abandonado e, pela última vez, torturado.
Na oportunidade, a polícia apurou que as imagens foram enviadas para os dois mandantes. Após elucidar o caso, agentes foram para São Paulo prender o empresário. Ao chegar na cidade, a polícia local informou que ele cometeu suicídio.
Temendo que os demais suspeitos pudessem fugir, a polícia prendeu os outros executores em Porto Alegre e a outra mandante do crime em Parobé.