Uma multidão realizou durante a tarde de sábado (22), em Porto Alegre, um ato público contra o racismo. A manifestação começou na Praça da Encol, no bairro Bela Vista, e continuou em caminhada pela Avenida Nilópolis até o clube Grêmio Náutico União (GNU), situado a poucas centenas de metros do início da passeata. O objetivo foi protestar contra insultos e imitações de macaco feitas por alguns frequentadores do clube ao cantor Seu Jorge, em show realizado no último dia 14.
Na ocasião acontecia o evento de reinauguração de salão no Grêmio Náutico União (GNU). Conforme testemunhas, que inclusive depuseram na Polícia Civil, Seu Jorge teria sido hostilizado com gritos de "uh, uh, uh", simulando o som feito por macacos, além de ter sido xingado com termos como "negro vagabundo" e "preguiçoso". A agressão aconteceu após o cantor chamar ao palco um artista menor de idade, tocador de cavaquinho, e fazer um apelo para que não ocorra no país o rebaixamento da maioridade penal para 16 anos (projeto que tramita no Congresso). Alguns relatos atribuem ao cantor também sinais de apoio a um candidato político, algo negado pelo artista. Ele deverá prestar depoimento, por vídeo, no início de novembro.
O ato contra o racismo e em apoio a Seu Jorge foi organizado pelo coletivo Vidas Negras Importam e reuniu, na estimativa dos organizadores e de integrantes da BM (que acompanhou a manifestação), mais de 2 mil pessoas.
— Estamos aqui, negros e não-negros, para fazer um alerta sobre a questão do racismo. Todos os dias, milhares e milhares de pessoas são discriminadas em função da sua cor. Esse tipo de preconceito tem de ser varrido — discursou Gilvando Silva Antunes, do Vidas Negras Importam.
Integrantes de partidos políticos de esquerda, inclusive vereadores e ex-deputados, compunham grande parte dos integrantes da passeata, que também teve participação de associados do Grêmio Náutico União (GNU). O psicanalista Roberto Amorim, sócio e atleta do clube, disse que já colheu mais de 150 assinaturas numa carta com pedido de desculpas, que será enviada a Seu Jorge em nome dos associados.
— Se o Seu Jorge é recebido com imitações de macaco, imaginem o que acontece com um cidadão comum. Alguém que tem sua pele como marcador. Queremos que isso jamais se repita no clube — resume Amorim.
Os manifestantes se postaram em frente à sede do GNU e entoaram cânticos contra o racismo e o fascismo. Após, se deslocaram em passeata novamente pela Nilópolis, de volta até a praça da Encol. No caminho, dois incidentes. Primeiro, um motorista de um automóvel conversível gritou "Lula Ladrão" e foi vaiado e xingado pelos integrantes da passeata. Depois, um cidadão com uma bandeira do Brasil foi perseguido pelos manifestantes, porque, segundo eles, teria feito um gesto com a mão imitando arma. Ele levou socos e cadeiradas, até ser socorrido pela Brigada Militar.
PMs separaram os brigões e fizeram um cordão de isolamento em torno da passeata, que prosseguiu até a avenida Protásio Alves e depois se dispersou.
Clube comenta a manifestação
Em nota, o Grêmio Náutico União se posicionou sobre a manifestação de que foi alvo: "Em relação às manifestações contra o racismo promovidas neste sábado (22) em frente ao Grêmio Náutico União, elas são legítimas e têm total apoio do Clube, desde que realizadas de maneira pacífica. O Grêmio Náutico União lamenta os fatos ocorridos durante apresentação do cantor Seu Jorge, no dia 14 de outubro, em suas dependências, com a presença de associados e não-associados. O Clube se solidariza com o artista, que foi escolhido para realizar o show por sua representatividade na cultura nacional e pelo reconhecimento internacional, e destaca o respeito ao profissional e ao seu trabalho. O Grêmio Náutico União repudia qualquer tipo de discriminação e está colaborando com a Polícia Civil para a apuração dos fatos".