Um homem foi preso em flagrante nessa segunda-feira (12) após atirar e matar a ex-mulher, Michelli Nicolich, 37 anos, e o filho de dois anos na zona leste de São Paulo. O caso foi registrado como feminicídio.
O homem preso pelo crime é Ezequiel Lemos Ramos, 39 anos. Ele estudava Medicina em Pedro Juan Caballera, no Paraguai, e tinha registro de CAC — grupo que engloba caçadores, atiradores e colecionadores. No braço esquerdo, o suspeito tem uma tatuagem com o rosto do candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ramos teve a prisão em flagrante convertida em preventiva na tarde de terça-feira (13). Segundo a Polícia Civil, ele deve ser indiciado por duplo homicídio doloso qualificado, feminicídio e tentativa de homicídio.
Titular do 49º Distrito Policial de São Paulo, delegado Leandro Resende Rangel, afirma que o crime aconteceu no trajeto da escola dos filhos do homem.
— Como ele sabia que a ex-mulher ia passar pelo local, que era o caminho que ela fazia para buscar os filhos na escola, ficou esperando lá — disse o delegado, ao Estadão.
— Quando ela passou com o carro, ele deu um monte de tiro e acabou atingindo um dos filhos e ela — continuou Rangel, que afirmou ainda que aguarda a conclusão dos laudos de quantos disparos foram efetuados.
Ao ser atingida pelos tiros, a mulher perdeu o controle do veículo, um Uno, e bateu com o carro em um poste. No automóvel, além de Michelli, estavam os dois filhos do ex-casal: o mais novo, de dois anos, que também foi assassinado, e o mais velho, de quatro, que acabou não sendo atingido pelos disparos.
— Esse (o filho mais velho) vai fazer cinco anos agora em outubro e não sofreu nenhum ferimento — disse o delegado.
O crime, segundo a Polícia Civil, aconteceu por volta de 16h10min de segunda-feira. Ramos foi preso em flagrante logo depois.
— Um policial de folga estava próximo e ouviu os disparos. Foi lá para ver o que estava acontecendo e conseguiu detê-lo — disse o delegado.
A carabina usada no crime sumiu do local e ainda não foi localizada pela polícia.
— A arma foi furtada durante a confusão que se deu no momento em que ele foi preso. Não temos a informação de um comparsa, mas a gente não descarta essa possibilidade totalmente. Estamos esclarecendo as circunstâncias — complementou o delegado.
Estudante de medicina e CAC
De acordo com o que foi apurado pela polícia até o momento, Ramos estudava Medicina em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz divisa com Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul. Ele tinha registro de CAC — colecionador, atirador desportivo e caçador. No braço, ele tem uma tatuagem com o rosto de Lula.
— Ou seja, ele pode comprar arma, tinha arma registrada no nome dele, pode ter arma em casa e transportar para o estande e de volta do estande — disse Rangel.
O Estadão mostrou no fim do último mês que a quantidade de armas registradas por caçadores, atiradores e colecionadores, que compõem o grupo de CACs, quase triplicou desde dezembro de 2018 e ultrapassou, em julho deste ano, a marca de 1 milhão. Os dados são dos institutos Igarapé e Sou da Paz.
De acordo com o levantamento, o acervo de armamentos em posse dos CACs no Brasil subiu de 350.683 para 1.006.725, entre dezembro de 2018 e julho deste ano.
— Ele diz que estava tendo um problema com ela em relação a um dinheiro que eles deveriam ter dividido. E disse que ela também não estaria deixando ele ver os filhos — afirma o delegado, explicando que o montante que teria gerado a briga seria de R$ 70 mil.
Segundo Rangel, há suspeitas de contradição no depoimento do suspeito preso.
— Às vezes, falava uma coisa, às vezes, outra. Ele estava transtornado — conta o delegado.
O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) informou que, em audiência de custódia realizada na tarde de terça, Ramos teve a prisão em flagrante convertida em preventiva. A conversão havia sido solicitada pela Polícia Civil de São Paulo.
Feminicídios
Dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo indicam que, até julho deste ano, 34 mulheres foram vítimas de homicídio doloso (quando há a intenção de matar) na capital paulista. Destes crimes, 13 são casos registrados como feminicídio.
Até o mesmo período de 2021, a Polícia Civil contabilizou 57 mulheres vítimas de homicídio, sendo 22 por feminicídio. Ao longo de todo ano passado, foram 87 homicídios dolosos contra mulheres e 33 feminicídios.