Última testemunha a ser ouvida na tarde desta quinta-feira (22) durante o julgamento de um dos réus pela morte do então secretário de saúde de Porto Alegre, em 2010, o policial civil Sylvio Edmundo dos Santos Júnior reforçou a tese do Ministério Público de que Eliseu Santos foi vítima de homicídio. Está sendo julgado o réu Robinson Teixeira dos Santos, 35 anos, que responde pelo assassinato e é acusado de ter levado os matadores até o local do crime, entre outros delitos.
Em seu depoimento, que inciou pouco depois das 14h30min, o policial afirmou que na época trabalhava na Delegacia de Homicídios, que pertencia ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). Na noite de 26 de fevereiro de 2010, quando Eliseu foi assassinado no bairro Floresta, em Porto Alegre, na saída de um culto religioso, o policial estava de folga, mas foi chamado para auxiliar no caso.
O policial contou que no local identificou testemunhas para tentar compreender a dinâmica do crime. Sobre a atuação dos criminosos, disse acreditar que não se tratava do tipo de comportamento de alguém que pretendesse roubar um veículo. Na época, a morte de Eliseu acabou sendo concluída pela Polícia Civil como um latrocínio (roubo com morte), pelo entendimento de que os bandidos tinham tentado roubar o carro da vítima, que acabou morta a tiros.
O policial, que discordou dessa conclusão, chegou a prestar depoimento naquele período ao Ministério Público, que realizou uma investigação paralela, na qual apontou que o secretário teve a morte encomendada por ter descoberto um esquema de corrupção envolvendo a empresa de segurança Reação, que à época atendia os postos de saúde da Capital.
Sylvio afirmou que, se os criminosos quisessem realmente roubar um carro, não teriam ficado parados dentro de um veículo, aguardando o secretário. Ele pontuou também que localizou outro Corolla estacionado nas proximidades – que seria um alvo mais fácil para ladrões de carro.
— Não é tipo de modus operandis de quem vai assaltar. Elementos armados, dentro de um carro, próximo da igreja de onde secretário saiu, o carro dele estacionado na (rua) Hoffmann, e chamam secretário pelo nome — apontou o policial.
O policial também recordou que, antes do assassinato de Eliseu, um outro funcionário da secretaria de Saúde teve a casa alvejada por disparos de arma de fogo.
— Começava a se delinear ali uma pressão em cima da secretaria para renovar o contrato (com a empresa Reação) — disse.
Sylvio afirmou ainda que, enquanto estava realizando o levantamento no local do crime, recebeu dois telefonemas que lhe levantaram suspeita. Um deles teria sido de Jorge Renato Hordoff de Mello, então proprietário da empresa Reação, e outro de Marcelo Machado Pio, um dos sócios da empresa Reação. Os dois, segundo o policial, questionaram sobre a morte de Eliseu e tentaram criar álibis, afirmando que estavam em outros locais – um deles, num centro religioso na zona sul de Porto Alegre, e outro, num churrasco em Osório. Tanto Marcelo como José Renato são réus no mesmo processo e têm julgamentos agendados para outubro e novembro deste ano.
— Ligando para meu telefone particular, e não o funcional que eu usava à época. Querendo criar um álibi, já achei que tinha muita coisa. As duas pessoas que tinham interesse direto em contrato milionário com a prefeitura — disse o policial.
O agente relatou que chegou a levar até a polícia essa informação sobre os telefonemas, que julgava pertinente para o caso, mas que optaram por não colher seu depoimento porque a apuração já se delineava para latrocínio. Nesse cenário, ele disse que acabou indo até o MP. Sylvio relembrou ainda que, dias antes de ser morto, Eliseu havia dado entrevista à imprensa relatando a suspeita de corrupção.
— Foi um homicídio. Foi um crime de mando — disse o policial.
Os depoimentos do dia
O depoimento de Sylvio é o último das testemunhas ouvidas nessa quinta-feira. Antes dele, prestaram depoimento um morador das proximidades de onde aconteceu o crime, que relatou ter visto os criminosos fugirem após o assassinato de Eliseu, e a viúva do secretário, Denise Goulart da Silva, que relatou o drama vivido pela família após a perda do marido. Também foi ouvido no começo da tarde o advogado Leudo Santos Costa, que atuou para a empresa Reação. Em seu relato, o advogado disse que Marcelo Machado Pio chegou a falar em “matar Eliseu”.
Após o fim do depoimento do policial, deverá ser ouvido o réu Robinson, que responde por homicídio qualificado, fraude processual, formação de quadrilha, receptação de veículo e adulteração de placa. Logo depois, iniciarão os debates entre Ministério Público, que é representado pelos promotores Lucia Helena Callegari e Eugênio Amorim, e entre a defesa, pela qual atuam os advogados Cássia Juliana Vargas Dornelles, Diorge Diander da Cunha Rocha e Pâmela Donida Farias. Cada parte, terá uma hora e meia para fazer sua defesa, podendo haver ainda réplica e tréplica de uma hora para cada um. Ao fim, os sete jurados se reúnem e decidem se o réu é culpado ou não pelo crime.