Há dois meses, familiares de Alessandra Dellatorre, 29 anos, equilibram sentimentos todos os dias. Despertam com a esperança renovada, por vislumbrarem pela frente mais uma chance de obterem alguma notícia da advogada, mas à noite adormecem agoniados, por não conseguirem nenhuma resposta. Em 16 de julho, Ale saiu de casa para fazer uma caminhada em São Leopoldo, no Vale do Sinos, e não retornou.
Desde então, familiares estão engajados nessa tentativa de desvendar o que aconteceu com a advogada e, principalmente, saber onde ela está.
— Tem sido dias infindáveis, de muita angústia, muita dor. Mesmo assim, nossas esperanças, estão sempre se renovando. Todos os dias recebemos mensagens de pessoas com informações, que infelizmente não se confirmam. Recebemos também palavras de apoio, orações. E isso tem nos dado esperanças. Sabemos que as pessoas estão atentas. Estão sendo os nossos olhos, estão buscando pela Alessandra. É muito importante saber que existe essa ajuda e isso tem nos dado muita força e esperança — descreve a tia Érica Dellatorre, 49 anos.
Irmã do pai de Alessandra, a psicóloga é madrinha da advogada. Há 29 anos, foi a primeira a segurar a afilhada no colo, quando a recém-nascida chegou no quarto no hospital. Recorda dessa cena com profundo afeto até hoje.
— Quando tinha 20 anos, foi me dado esse grande presente que é ser madrinha dela. Madrinhas e padrinhos são segundos pais. Essa é a relação de sentimentos que eu tenho com ela. É nesse sentido que me sinto. É um amor, incondicional, imenso, que tenho por ela
— descreve a tia.
Ao longo desses dois meses, a família vem realizando inúmeras ações em busca de respostas sobre o paradeiro de Alessandra. A apuração da Polícia Civil, que atualmente está em sigilo, não apontava inicialmente para nenhuma evidência de crime. Foram realizadas buscas em áreas de matos pelos policiais, com auxílio dos bombeiros e cães farejadores, mas nada de concreto foi localizado que permitisse apontar o que aconteceu com a advogada.
Enquanto isso, os parentes se engajaram em campanhas na internet e na distribuição de cartazes alertando para o caso. Na última semana, um outdoor foi instalado no Centro de São Leopoldo, na esquina da Rua Dom João Becker com a Rua São João. Nele, há fotos de Alessandra e o telefone (51)99771-5838, que tem sido usado pela família para tentar obter novas pistas.
Érica diz que a família não consegue compreender o que aconteceu com a advogada, mas os parentes não acreditam mais na possibilidade de que Alessandra tenha tirado a própria vida, já que o corpo não foi localizado. Ampliaram a divulgação do caso inclusive para fora do Estado, na esperança de que alguma notícia possa partir de qualquer lugar.
— Essa possibilidade de suicídio hoje é uma tese para nós já superada. Muita coisa pode ter acontecido, mas não sabemos o quê. Por isso, a cada dia juntamos nossas forças para localizá-la. Estamos contando com uma grande equipe de apoio, com um escritório de advocacia, que está fazendo uma investigação defensiva. E as pessoas que ativamente atuam todos dias nas buscas, na panfletagem, e na divulgação do caso — detalha a madrinha.
Com intuito de reunir na mesma cerimônia as pessoas que têm orado para que Alessandra seja encontrada, a família realizará uma missa na próxima semana. No sábado (24), ocorrerá o encontro no Santuário Padre Reus, em São Leopoldo, a partir das 16h30min. Quem não puder comparecer, poderá acompanhar a transmissão pelo Facebook do santuário.
— Queremos fazer um momento intenso de orações. Uma corrente de orações para a volta da Alessandra, para que consigamos encontrá-la, ou que o caminho de alguém possa se iluminar e que ela seja encontrada. Acreditamos que com o trabalho, o apoio de todos, a continuidade de investigação, vamos conseguir dar um ponto final feliz para esse episódio, que tem sido muito triste para nossa família. Desistir, para nós, não é uma opção — reforça Érica.
Investigação em sigilo
O desaparecimento de Alessandra está sob investigação da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de São Leopoldo. Câmeras de segurança chegaram a registrar parte do trajeto feito pela advogada. Ela vestia moletom preto e calça da mesma cor. No entanto, ela não chegou a retornar para casa. A advogada não costumava levar telefone celular quando saía para se exercitar.
Pelo menos 20 pessoas, que poderiam contribuir de alguma forma com a apuração, foram ouvidas pela investigação, que segue em aberto. Segundo o delegado André Serrão, da DHPP, a polícia continua atrás de novas informações e conferindo as que são recebidas. No entanto, detalhes só devem ser divulgados ao final da apuração. Quem tiver informações que possam contribuir com a elucidação do desaparecimento deve entrar em contato com a Polícia Civil pelo telefone 0800-642-0121.
Dicas de como agir
Em desaparecimentos
- Registre o desaparecimento na polícia assim que for percebido
- Leve uma fotografia atualizada para repassar aos policiais
- Outras informações relevantes no momento do registro são saber se a pessoa tem telefone celular e se foi levado junto, se possui redes sociais, os dados de conta bancária, se possui veículo e qual a placa, locais que costuma frequentar, pessoas com quem mantêm contato (amigos, familiares), se é usuária de drogas e se houve alguma desavença que pode ter motivado o sumiço
- Comunique o desaparecimento aos amigos e conhecidos, que podem auxiliar com informações. Ao divulgar o sumiço, informe os contatos de órgãos oficiais como Polícia Civil e Brigada Militar para receber informações. Isso evita que criminosos interessados em extorquir familiares de desaparecidos se aproveitem da situação
- Outra orientação importante é que as famílias comuniquem a polícia não somente o desaparecimento, mas também a localização. É muito comum os policiais depararem com casos de pessoas que não estão mais desaparecidas, mas que no sistema constam como sumidas porque o registro de localização não foi feito
Se forem crianças ou adolescentes
- Percorra locais de preferência da criança
- Saiba informar quem são os amigos dela e com quem pode estar
- Esteja atento às roupas que a criança ou adolescente está usando e, em caso de sumiço, descreva para a polícia
- Mantenha alguém à espera no local de onde ela sumiu. É comum que ela retorne para o mesmo ponto
- Ensine as crianças, desde pequenas, a saberem dizer seu nome e o nome dos pais
- Quando a criança ou adolescente for localizada, informe a polícia