Em uma ação que a polícia define como "bem planejada", nove criminosos invadiram, em 11 de fevereiro, uma subestação de energia no bairro Praia de Belas, em Porto Alegre, e levaram seis bobinas com condutores elétricos avaliadas em R$ 1,2 milhão. Usando uniformes da empresa responsável, eles renderam funcionários e vigilantes, que foram amarrados, roubaram os rolos e, na fuga, utilizaram rotas pré-definidas para evitar passar por câmeras de monitoramento. Quase cinco meses depois, a polícia identificou seis envolvidos na ação e o inquérito segue em andamento. Nenhuma das bobinas foi recuperada pelas equipes.
Dos nove homens que invadiram a empresa naquela madrugada, seis foram identificados pela polícia - a instituição não divulgou a identificação dos investigados. Dois deles chegaram a ser presos, mas foram liberados e seguem sendo investigados. Um dos homens é um PM da reserva que foi preso em março, em Gravataí, e ficou detido por cerca de dois meses. Atualmente, ele utiliza tornozeleira eletrônica e mora no município da Região Metropolitana.
Conforme a investigação, o PM aposentado teria integrado o grupo fazendo a segurança do perímetro do local durante o roubo e escoltando os comparsas após a ação. Ele foi identificado porque, durante a fuga, usou o próprio veículo, e a placa do carro foi identificada pelos investigadores em imagens de câmeras de segurança. Na ocasião, o automóvel e celulares do PM foram apreendidos, além de uma arma que foi localizada na casa do homem. Em depoimento, o policial permaneceu em silêncio.
O outro homem preso foi detido logo após o roubo, também em Gravataí. Ele era o motorista de um dos dois caminhões usados no assalto, segundo a investigação.
Investigação
A polícia não informou muitos detalhes sobre a apuração, porque a investigação segue em andamento e o processo corre em segredo de Justiça.
No entanto, o delegado responsável pelo inquérito, Luciano Peringer, informou que algumas linhas de investigação sobressaem, após os meses de trabalho. Contrariando uma suspeita inicial, de que a carga obtida no roubo poderia ter sido encomendada, a polícia acredita que o material não teria destino específico: só depois do assalto os criminosos teriam oferecido o produto para venda.
Além disso, a polícia também acredita que o grupo tenha vendido os cabos de cobre por peso, não nas bobinas como equipamento. Dessa forma, o valor de lucro é estimado em R$ 600 mil, segundo a polícia.
— Em princípio, não tinha um destino específico. Eles subtraíram o produto e iriam vender como cobre, por peso, não como equipamento, a bobina em si. Seria para ser derretido e utilizado, visando o lucro, já que o cobre tem preço elevado para venda. É uma ação totalmente diferente do habitual. O que mais vemos é o furto de cabos em postes, que é praticado por usuários de drogas e para serem vendidos rapidamente, e ocorrem em menor quantidade — explica o titular da delegacia de Repressão aos Crimes contra o Patrimônio e Serviços Delegados (DRCP).
A polícia também acredita que o grupo tenha recebido informação de algum funcionário do local, que teria informado sobre as bobinas. Até o momento, essa pessoa não foi identificada. Nenhuma das bobinas foi recuperada até agora.
As equipes afirmam que ainda aguardam o resultado de algumas perícias feitas no local após a ação, que serão utilizadas no inquérito.
Ação planejada
A ação que durou pouco menos de duas horas é definida pelo delegado como bem planejada e estudada. O grupo ingressou no local utilizando uniformes da empresa e rendendo funcionários e seguranças, que foram amarrados, tiveram os olhos vendados e foram ameaçados. As vítimas só conseguiram escapar depois que os ladrões foram embora. Toda a ação ocorreu em frente a um batalhão da Brigada Militar.
Cada bobina roubada tem peso aproximado de 2,5 toneladas, ou seja, a carga toda chega a 15 toneladas, recheada de fios de cobre. Para levar os equipamentos, dois caminhões foram usados na ação: um caminhão munck serviu para içar as bobinas no pátio e carregar o outro veículo.
Os dois veículos foram emprestados sob alegação de que iria ocorrer apenas um frete, segundo a polícia. As placas deles foram clonadas na tentativa de despistar qualquer tipo de abordagem policial e identificação.
Além disso, outras medidas foram adotadas pelos criminosos para dificultar o trabalho policial. Durante a ação, eles utilizavam máscaras no rosto, evitavam as câmeras e traçaram uma rota de fuga do local para evitar passar por câmeras de monitoramento espalhadas pela cidade.
— Foi um crime bem planejado. Há uma ousadia do fato de ser cometido em frente a um batalhão da Brigada Militar, em uma região bem movimentada. Foi algo estudado. Eles evitam câmeras, usavam as mesmas vestimentas que os funcionários da empresa, fizeram rotas alternativas na saída dali. Teve todo um cuidado para dificultar ao máximo a atuação da polícia — analisa o delegado.
A subestação de energia Porto Alegre 4 fica localizada na esquina das avenidas Praia de Belas e Ipiranga. O local pertencia à CEEE-GT e teve o contrato de concessão arrematado pela empresa paulista MEZ Energia em 2020.
GZH procurou o grupo, que afirmou apenas que "contribuiu com as autoridades e deu assistência aos funcionários".