Em 2015, no julgamento pela morte de Daniela Ferreira, ocorrida em Agudo, em 2012, o acusado Rogério de Oliveira, hoje com 52 anos, foi descrito por policiais que trabalharam na investigação como um criminoso frio, reincidente, de altíssima periculosidade e sem qualquer apreço pela vida. Do meio século que ele viveu até aqui, passou mais da metade na cadeia. As últimas condenações ativas de Oliveira somam 65 anos, 10 meses e 15 dias de reclusão.
A morte de Daniela, pela qual ele ainda cumpre pena, em regime fechado, na Penitenciária Estadual de Santa Maria, completa 10 anos nesta sexta-feira (29). O corpo da vítima, que tinha 18 anos quando foi morta, nunca foi encontrado.
Rogério de Oliveira já cumpriu 33 anos, cinco meses e 24 dias. Ainda restam 32 anos, quatro meses e 21 dias de pena. No entanto, daqui a 12 anos, caso não cometa nenhuma falta grave, poderá progredir de regime, indo para o semiaberto em 18 de abril de 2034. Caso contrário, ele sairá do sistema, obrigatoriamente, em 25 de julho de 2042, quando completará 30 anos recluso, tempo máximo que uma pessoa pode ficar presa segundo as leis brasileiras.
Pelo caso Daniela, Oliveira foi condenado a 36 anos e 10 meses de reclusão. Foram 24 anos pelo homicídio, nove anos e 10 meses pelo estupro e três anos pela ocultação do cadáver.
Histórico criminoso
Oliveira entrou no mundo do crime ainda jovem, em 1990, quando tinha 20 anos. No primeiro crime pelo qual foi condenado, ele era empregado de uma residência e assaltou o local. O proprietário tinha 90 anos, foi agredido, e as demais pessoas (filho, nora e dois empregados) foram rendidos, amarrados e obrigados a receber injeções de um calmante, para que não pudessem reagir.
Quarenta e cinco dias depois, Oliveira e outro comparsa renderam uma mulher quando ela chegava em casa. Eles a amordaçaram e estupraram durante várias horas. O caso é exemplar do sadismo do criminoso, que ainda teria queimado o corpo da vítima usando um isqueiro e desodorante aerossol.
Ele foi sentenciado por esses dois crimes. Quando saiu da cadeia, em 1999, cometeu um homicídio, em Porto Alegre. Ele ainda cumpria pena por este assassinato, em regime semiaberto, quando Daniela desapareceu, em 2012.
Investigação do caso Daniela
A primeira prova contra Rogério de Oliveira pelo desaparecimento de Daniela surgiu em imagens de câmeras de segurança, que mostraram que a vítima passou por ele na Avenida Concórdia, às 6h15min do dia 29 de julho de 2012. Instantes depois, o criminoso aparece novamente nas imagens, andando no sentido contrário, agora para o mesmo lado de Daniela.
Durante as 12 horas seguintes ele não foi visto e, em depoimento durante as investigações, não esclareceu onde estava. Às 18h30min daquele domingo ele chegou na casa de um amigo e colega de trabalho, onde passaria a noite após um baile. Aparentava cansaço e estava sujo de barro. Ao ser questionado a respeito de onde esteve, respondeu que estava na empresa de construção onde trabalhava. Ele pegou os pertences que estavam no local e foi para a casa de outro colega.
Na segunda-feira, dia 30, trabalhou normalmente. No dia seguinte, logo que chegou ao trabalho, pegou um saco e foi em direção a uma área de matagal, aos fundos da empresa. Voltou duas horas depois. Ao ser questionado pela gerente sobre onde estivera, respondeu que fora ao presídio, onde dormia, para buscar uma chave. A gerente ligou para a casa prisional e o administrador do Presídio de Agudo negou que ele tivesse ido até lá. Ao ser questionado pelo diretor do presídio, Oliveira alegou que ficou por duas horas esperando um supermercado abrir.
Familiares de Daniela também foram até a casa prisional, de posse do vídeo no qual o suspeito aparecia, para perguntar ao diretor se ele conhecia o homem. Oliveira foi questionado uma terceira vez. Ele, então, disse que não revelaria onde estava e não falaria mais nada.
Naquela terça, o suspeito foi preso e posto em uma cela com outros dois apenados. O criminoso teria revelado a estes companheiros de cárcere que estava preocupado com a possibilidade de o corpo de Daniela ser encontrado, porque a perícia descobriria que ele a estuprou.
Segundo os detentos, Oliveira deu detalhes do crime. Depois que os dois se cruzaram pela rua, como registrado pelas câmeras de vigilância, ele teria convidado a vítima para uma bebida. Os dois teriam ido até a empresa em que ele trabalhava, onde ele teria dado a Daniela um líquido contendo energético e cocaína. Ele então teria tentado ter relações sexuais com ela, mas ela não quis. Em seguida, Oliveira a estuprou e matou, segundo teria contado aos companheiros de cela. Ele ainda teria afirmado que a polícia dificilmente encontraria o corpo.
A polícia apreendeu um casaco, uma bota, uma faca e outros objetos de Oliveira. Uma camiseta também foi recolhida. Ela apresentava manchas que aparentavam ser de sangue. Em exame de DNA, a perícia foi conclusiva ao constatar que havia material genético de uma filha de Celi Fuchs, mãe de Daniela, na roupa do homem.
Versão
Em depoimento durante o julgamento do caso, Oliveira se disse vítima de uma conspiração armada pela Polícia Civil e por agentes do Presídio Estadual de Agudo. Segundo ele, para dar uma resposta à sociedade, o incriminaram.
Além disso, Oliveira alegou que, após cruzar com Daniela na Avenida Concórdia naquela manhã de domingo, dois homens em um carro Gol de cor branca os abordaram e obrigaram a entrar no veículo. Depois disso, eles teriam sido levados para uma área rural e, quando o veículo parou, ele teria conseguido fugir, mas Daniela não.
À época as autoridades se manifestaram sobre as alegações do réu, dizendo que toda a investigação foi baseada em provas concretas com indicativos de que Oliveira cometeu os crimes.