No primeiro semestre de 2021 foram registrados 587 roubos a motoristas e passageiros de ônibus e lotações no RS. O número caiu 39,5% e ficou em 355 no mesmo período de 2022, de acordo com dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP) do RS, divulgados no último dia 14.
Encarregado da força-tarefa da Polícia Civil que desde 2016 é focada na investigação e punição deste crime e em 2018 foi transformada em Delegacia de Repressão a Roubos em Transporte Coletivos, o delegado Daniel Mendelski explica que o diferencial do trabalho de sua equipe é o bom atendimento às vítimas, que gera reação e aumenta a eficiência das etapas da investigação.
— Na delegacia, nossa preocupação é acolher da melhor maneira possível. Geralmente as vítimas são trabalhadores, e que precisam se sentir confortáveis para falar sobre o ocorrido. Isso potencializa a eficiência da investigação, aumenta os detalhes do relato e nos leva mais rapidamente ao reconhecimento de suspeitos. Na outra ponta, isso também qualifica nossos pedidos ao Judiciário, pois deixa o inquérito mais completo — explica o delegado.
A atuação da força-tarefa, centralizada na 2ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre, na Avenida Getúlio Vargas, diminuiu as ocorrências a bordo de coletivos no Estado. No primeiro semestre de 2016, quando o trabalho teve início, foram registrados 3.194 roubos. Se comparado com os 355 documentados pela SSP no primeiro semestre de 2022 é uma redução de 88,8%.
Mendelski aponta também para a eficiência do Judiciário quando considera os pedidos de detenção:
— Conseguimos, utilizando as imagens de câmeras internas dos ônibus e das ruas, identificar boa parte dos infratores. E aí vejo que pelo menos 90% deles acabam ficando detidos depois de um inquérito ser apresentado com provas concretas, que é a nossa prática. Quando este índice de prisão aumentou e o lucro dos bandidos diminuiu, da mesma maneira na pandemia, os próprios criminosos acabam buscando outras atividades.
Ainda que o registro de ocorrência virtual seja uma facilidade para as vítimas, o delegado reforça a importância do atendimento presencial. Isso porque muitos casos têm os suspeitos rapidamente encontrados por meio da análise de imagens das câmeras de circuito interno dos veículos ou da prefeitura de Porto Alegre nas ruas próximas ao local do crime.
— Quando se é uma equipe especializada em um determinado crime, fica mais fácil encontrar o perfil da vítima e combater os riscos para ela — resume o titular.
O telefone direto para informações de atendimento na 2ª Delegacia é o (51) 3288-8528.
Na manhã dessa quinta-feira (21), a reportagem de GZH foi ao Centro de Porto Alegre ouvir a percepção de segurança dos passageiros. Oito homens e mulheres, com idades que variam entre 17 e 67 anos, foram entrevistados em paradas de ônibus ao longo da Avenida Senador Salgado Filho, do Terminal Parobé e do Terminal Uruguai. Todos eles embarcam pelo menos três vezes por semana em linhas que circulam na Zona Sul, Zona Leste e Zona Norte.
Nenhum dos ouvidos foi assaltado a bordo de veículos do transporte público, mas quatro relataram já ter sido alvo de roubo em alguma parada enquanto esperavam a condução ou dizem conhecer outra pessoa que tenha passado por isso.
— Os ladrões perceberam que é mais fácil assaltar fora do que dentro do ônibus — opina a estudante Jessica Mello, 33 anos, enquanto esperava, no Terminal Parobé, pelo 762 Rubem Berta que a levaria de volta para casa depois de uma manhã de aula.
— Aqui é o pior lugar que tem em questão de roubos. Vejo muitos, geralmente com pessoas mais velhas como vítimas. Passam correndo, arrancam corrente do pescoço ou pegam o celular da mão e somem correndo — complementa.
A autônoma Shirlei Gomes, 40 anos, contou ter presenciado assalto dentro de ônibus em 2020 — foi a única passageira ouvida por GZH que relatou ter visto ataque dentro de um coletivo. Na ocasião, ela diz que escapou de ter os pertences levados por estar sentada em uma fileira de bancos no fundo do veículo, que fazia a linha 179 Serraria.
— Não me sinto segura nem dentro do ônibus, ainda mais quando não tem cobrador no veículo, pois é um funcionário a menos para auxiliar em qualquer situação. Na parada, então, já fui assaltada algumas vezes, principalmente nos primeiros horários da manhã, quando tem menos gente — explica Shirlei, moradora do bairro Guarujá, onde apenas duas linhas atendem sua demanda de transporte ao Centro, e tiveram frequência reduzida na pandemia.
— O problema não é pegar o ônibus, é descer dele e voltar para casa de noite. Preciso descer perto da Redenção e é muito escuro e vazio — complementa a estudante Laura Martins, 21 anos, que aguardava o 375 Agronomia.
Policiamento
A função de combater os crimes dentro e fora dos ônibus de maneira ostensiva cabe à Brigada Militar. O comandante do policiamento da Capital (CPC), coronel Fernando Nunes, explica que a sensação de insegurança é potencializada pelo retorno da circulação em níveis semelhantes com o pré-pandemia e o fluxo de compartilhamento das informações entre vítimas de assaltos.
— Mudou o comportamento do passageiro. Agora não há mais tanto dinheiro vivo a bordo, nem no bolso do passageiro nem no caixa do cobrador, como tinha anos atrás — explica o coronel.
O comandante do CPC destaca que, geralmente, o alvo dos ladrões é o celular da vítima:
— Em paralelo a essa queda nos delitos dentro de coletivos, amparada no investimento em tecnologia e na qualidade das investigações, percebemos uma tendência leve de aumento recente nas ocorrências contra pedestres e focamos nossos esforços nisso. O alvo destes ladrões é o celular. É importante ressaltar que quem compra o celular sem procedência está dando força a estes crimes e pode sim ser uma futura vítima dessa violência.
Nunes afirma que as ações de fiscalização da Guarda Municipal ao comércio ilegal de aparelhos roubados tem o apoio constante da BM. Nas paradas de ônibus, a presença de soldados com motos de patrulhamento é a principal estratégia para coibir a ação de assaltantes nas regiões de grande circulação de transporte coletivo.
— O assaltante não é um especialista em roubo de ônibus, mas sim um oportunista. Ele atua entre o deslocamento, onde a chance aparecer. O policiamento com motos garante mobilidade e velocidade em eventual perseguição aos assaltantes, que também costumam usar veículos como bicicleta e moto para aumentar a chance de fuga — detalha Nunes.