A Polícia Civil voltou a agir contra uma quadrilha que tinha uma forma atípica de agir para furtar veículos em Porto Alegre. Sete meses após uma operação contra criminosos que se passavam por donos de carros estacionados e acionavam guinchos para retirar os automóveis dos locais, novos mandados de busca contra o grupo foram cumpridos nesta sexta-feira (3).
Se antes os alvos eram apenas os ladrões, agora a Delegacia de Roubo de Veículos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) apura se o proprietário de um guincho tem ligação com os suspeitos. Os agentes cumpriram uma ordem judicial na residência dele, no bairro Lomba do Pinheiro, e também na casa de mais três integrantes do grupo — os pedidos de prisão foram indeferidos pela Justiça.
O responsável pela ação, delegado Rafael Liedtke, diz que o homem tem 43 anos e antecedentes criminais por uso de carteira de habilitação falsa. Ele teve o celular apreendido, e esse era o objetivo da polícia.
Na operação realizada em outubro do ano passado, um dos quatro investigados foi preso porque estava com um carro furtado. Liedtke diz que ele teve o celular apreendido e, posteriormente, desbloqueado judicialmente.
— Apesar de não termos conseguido as prisões, obtivemos as ordens judiciais de busca porque encontramos no aparelho do preso várias mensagens que comprovaram o envolvimento do guincheiro nos furtos — explica o delegado.
Mensagens
Em uma das trocas de mensagens encontradas no celular de um dos presos na ofensiva de 2021 aparece uma conversa entre um dos ladrões, que se passou por dono de carro estacionado na Capital, e o proprietário de guincho investigado:
— Cupincha. Tiramos as rodas ali, entendeu? Já botamos no Corsa para tu pegar o Corsa apoiado. Eu só estou tô vendo com o cara do ferro-velho que não tá me atendendo.
— Ô Cupincha. Tá na mão lá. Dá para nós tirar as rodas lá e ele vai pagar o preço que for pra nós.
— Bah, tava pensando também cupincha. Bah, só tenho que comprar um bagulhinho aqui, tá ligado?
— Ô cupincha, mas tu não tem com quem arrumar aí? Pra nós fazer essas placas hoje ali.
Desde que a polícia passou a investigar o caso, a partir de agosto de 2021, seis furtos deste tipo foram confirmados — sendo um deles o de uma Doblô em Gravataí — e os demais nos bairros Higienópolis, Camaquã, Partenon, Ipanema e Vila Ipiranga , em Porto Alegre. Após a primeira operação, não houve mais casos do tipo.
Simulação
Conforme a investigação, os crimes sempre ocorriam da mesma forma. Pelo menos um dos ladrões, em um veículo próprio, acompanhava o dono do automóvel a ser furtado para conferir se ele iria demorar ou não para estacionar o carro. Confirmada essa etapa, outro homem acionava por telefone um guincho, sendo que nenhum deles ficava ao lado do carro estacionado. A empresa recebia o endereço e se dirigia para o local.
Na maioria dos casos, sem saber que era um crime, o responsável pelo guincho era recebido pelo suposto proprietário — na verdade, um integrante da quadrilha — e retirava o veículo, levando-o para um endereço indicado pela quadrilha, geralmente na Restinga. Quase todos motoristas de guincho acreditavam que estariam levando o carro para um chaveiro. Mas um deles, que foi alvo da polícia nesta sexta-feira na Lomba do Pinheiro, era o único que sabia de tudo e ainda auxiliava nos furtos, segundo o delegado Liedtke.
Os crimes apurados são: furtos qualificados de veículos, associação criminosa, receptação e clonagem. Vinte agentes participaram, nesta sexta, da segunda fase da operação “Guincho 155”.