A Polícia Civil deflagrou operação nesta sexta-feira (29), em Porto Alegre, após descobrir uma forma inusitada de furto de veículos. Após confirmar cinco casos, a investigação apurou, desde agosto, que uma quadrilha do bairro Pitinga — entre a Lomba do Pinheiro e a Restinga — estava agindo em grande parte da cidade.
Pelo menos quatro pessoas se passavam por donos de carros estacionados e acionavam guinchos para furtar os automóveis, inclusive, com fatos registrados por câmeras de segurança.
Os 25 agentes da Delegacia de Roubos de Veículos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) cumpriram quatro mandados de busca, já que as ordens judiciais de prisão foram indeferidas. No entanto, um dos investigados foi preso em flagrante porque estava com um veículo furtado em sua residência. O carro e várias peças de outros foram apreendidos. A ação ocorreu em locais próximos, em ruas do bairro Pitinga, na Zona Sul.
Alguns dos suspeitos já têm antecedentes criminais, principalmente por furto ou roubo de veículos. Além de responderem agora pelos delitos, com pena de até oito anos de prisão, eles irão responder também por associação criminosa, com detenção de até três anos de reclusão.
O delegado Rafael Liedtke, responsável pela apuração, diz que nunca viu um "modus operandi" igual em vários anos de atuação na polícia. Segundo ele, desde agosto, foram cinco furtos e uma tentativa confirmadas nos bairros Higienópolis, Camaquã, Partenon, Ipanema e Vila Ipiranga. Tudo ocorria em plena luz do dia.
O grupo monitorava potenciais vítimas, já que tinham uma lista de carros encomendados para furtar. Segundo a apuração, eles ficavam rodando por várias vias da Capital e, ao encontrar um veículo em específico, cada um dos investigados tinha uma função no esquema.
Simulação
Pelo menos um dos ladrões acompanhava o dono do automóvel, conferindo se a pessoa iria demorar ou não. Confirmada essa etapa, outro homem acionava por telefone um guincho, sendo que nenhum deles ficava ao lado do carro estacionado. A empresa recebia o endereço e se deslocava para o local.
— É aí que ocorre o furto e o golpe. Eles ligam para vários guinchos, alternam para nunca ser o mesmo, e se passam pelo dono do carro, alegando que perderam a chave ou que deixaram dentro do veículo. Nunca vi ação deste tipo em anos de atuação na Região Metropolitana — diz Liedtke.
Em áudio obtido pela polícia, criminoso aciona um guincho e se passa por proprietário do veículo que irá furtar:
Sem saber que era um crime, o responsável pelo guincho era recebido pelo suposto proprietário — na verdade um integrante da quadrilha — e retirava o veículo, levando-o para um endereço indicado pela quadrilha, geralmente na Restinga. O motorista do guincho acreditava que estaria levando o carro para um chaveiro.
Liedtke já ouviu quatro condutores e proprietários das empresas, sendo que todos confirmaram o fato de terem recebido pelo pagamento do serviço e que jamais desconfiaram que se tratava de um furto.
Desmanche ou clonagem
Depois de conduzido a um endereço combinado, simulando ser de um chaveiro, os ladrões acionavam mais um comparsa para repassar o veículo a terceiros, geralmente responsável por desmanches ou pela adulteração do carro. Por meio desta nova técnica usada pelos criminosos, foram confirmados os furtos de um Mitsubishi L200 Outdoor, ano 2001; Peugeot 206, ano 2003; Nissan Pathfinder, ano 1998; Renault Clio, ano 2007 e um Ford Escort, ano 1999.
A polícia não divulgou os nomes dos investigados e apura a participação de outros envolvidos, principalmente na receptação e clonagem dos carros furtados. Outras vítimas podem acionar o Deic pelo telefone 0800-510-2828 ou pelo WhatsApp (051) 98444 0606.