De janeiro a setembro deste ano, 156 veículos em situação de furto ou roubo que passaram por câmeras do cercamento eletrônico de Porto Alegre foram recuperados. O dado revela que, a cada dois dias, um automóvel volta para o dono com ajuda da tecnologia na Capital. Nos primeiros nove meses de 2021, 25% dos alertas de identificação gerados pela leitura de placas de veículos levados por criminosos resultaram em carros resgatados.
De todo o perímetro monitorado na Capital, as zonas Norte e Leste são as que concentram maior circulação de motocicletas e automóveis furtados ou roubados. As avenidas Protásio Alves, Bento Gonçalves, Assis Brasil e Baltazar de Oliveira Garcia figuram no topo do ranking das vias que mais geram alertas ao sistema, monitorado pela Secretaria da Segurança de Porto Alegre.
O cercamento eletrônico da Capital conta com 365 câmeras, instaladas em locais estratégicos, capazes de fazer um raio X de todas as placas de veículos que cruzam por elas. Desse total, 132 estão em pardais, 47 em lombadas e 186 são câmeras exclusivas de leitura. Cerca de 21% de todos os veículos registrados em ocorrência de furto e roubo em Porto Alegre têm as placas lidas por esse sistema.
Em média, de janeiro a setembro de 2021, o monitoramento de 1 milhão de veículos foi realizado diariamente. Neste ano, houve pico em 5 de fevereiro, quando 1,8 milhão de veículos tiveram suas placas lidas pelo cercamento. Diretor do Departamento de Comando e Controle Integrado (DCCI), o coronel Marcel Vieira Nery explica que entre as variáveis que influenciam a recuperação de um veículo roubado ou furtado estão local, horário, disponibilidade de viaturas próximas e a própria rota do veículo a partir do momento em que é identificado.
— Existe probabilidade grande de o veículo monitorado ser recuperado. Como atividade suplementar à do policial, o cercamento é excelente pois ajuda na atuação investigativa e incrementa nosso trabalho com mais alertas, mais inteligência que complementa ação humana. Quanto mais tecnologia tiver agregada aos sistemas, mais conseguimos antecipar as ações.
Prisões
Após abordagens feitas a partir de alertas do cercamento, 197 pessoas foram presas de janeiro a setembro de 2020 e 179 neste ano.
— O desfecho é a prisão, seja por receptação, clonagem ou pelo próprio furto e roubo do veículo. E esse número é significativo mas não suplanta a atividade de inteligência, de prevenção, mas é um reforço importante — pontua Nery.
Sem o sistema de câmeras, em operação desde 2018, as abordagens ocorreriam de forma mais aleatória, em barreiras policiais ou quando a guarnição se desse conta de um veículo furtado ou roubado.
— Nesse caso temos atuação direcionada, o sistema nos permite trabalhar com mais assertividade. Com a abordagem específica do alvo, a probabilidade de prisão é grande e é relevante. Na pior das hipóteses, se reconhece o veículo e recupera o bem. Na melhor, prende, elucida o crime e recupera o bem. Isso mostra a eficiência do sistema — avalia o coronel.
1 milhão de placas monitoradas diariamente
Ao ser identificado pelas câmeras do cercamento, um alerta é enviado a um policial em serviço no DCCI, que verifica se a placa confere com a foto do veículo e dispara avisos para grupo em aplicativo de mensagens e outro à guarnição mais próxima do local para organizar o cerco. Esse procedimento é feito em segundos.
Não são todas as vias que têm cercamento, mas locais que são considerados postos-chave e que quem vai sair da cidade não tem como evitar
MARCEL VIEIRA NERY
diretor do DCCI
Um desses alertas aconteceu na madrugada de 22 de agosto, quando um Clio furtado cruzou na Avenida Assis Brasil. Policiais do 6º Batalhão de Polícia de Choque foram chamados para abordar o motorista quando já trafegava na Baltazar de Oliveira Garcia. Ao consultar os dados do veículo, confirmaram que estava furtado. O condutor foi preso em flagrante por receptação. O veículo havia sido levado por ladrões 14 dias antes, no bairro Rubem Berta.
— O que se busca com cercamento é que seja o mais discreto possível para que as pessoas não se deem conta. Não são todas as vias que têm cercamento, mas locais que são considerados postos-chave e que quem vai sair da cidade não tem como evitar — diz o diretor do DCCI, coronel Marcel Vieira Nery.
Por ler mais de 1 milhão de placas por dia, o cercamento também funciona como um banco de dados significativo que auxilia na investigação de outros crimes, aponta o secretário de Segurança da Capital, Mário Ikeda:
— Qualquer criminoso que cometa crime usando um carro, seja com placa quente ou não, quando a polícia descobre a identificação desse veículo, o sistema consegue dar à polícia a dinâmica desse trajeto, abastecendo o inquérito com informações e prova material. Lançando essa placa no sistema, conseguimos ver onde o carro circulou em outras datas. É uma ferramenta que associa informações.
Armazenamento
As imagens ficam armazenadas por um ano. O sistema, em muitos casos, permite identificar e mostrar o veículo na cena do crime, o que dá qualidade à prova, explica a diretora Departamento de Polícia Metropolitano, delegada Adriana Regina da Costa. Um desses casos aconteceu em abril deste ano, quando a Polícia Civil identificou suspeitos de quebrar vidraças em série em Porto Alegre e Viamão. Dois homens de Gravataí foram localizados após os agentes obterem a placa do caminhão baú de cor branca que aparecia em várias imagens de câmeras de segurança. Com a inserção da placa no sistema, foi possível refazer o trajeto dos ataques.
— Primeiro, se descobriu o veículo, lançou-se no sistema e se verificou a hora em que outros ataques aconteceram, fica tudo registrado — aponta Ikeda.
Conforme o secretário, estão previstos investimentos de ampliação da estrutura — compra de mais cem câmeras — e de mais inteligência ao sistema, para que seja capaz de ler outras informações do veículo e possa se tornar mais eficiente.
— Isso também facilita a segurança do policial, quando ele não sabe que aquele carro pode ser roubado ou furtado, fará uma abordagem com grau de atenção menor. Do contrário, o padrão de abordagem muda. E isso o ajuda — compara Ikeda.