Presa desde a última sexta-feira (20), a suspeita de envenenar os dois enteados com chumbinho, Cíntia Mariano Dias Cabral, de 49 anos, usava as redes sociais para fazer declarações para os filhos do marido. Detida no Rio de Janeiro, ela seria a responsável pela morte da jovem Fernanda Carvalho, de 22 anos, em março e, dois meses depois, teria tentado repetir a prática com o irmão dela, de 16 anos. As suspeitas vieram à tona quando o adolescente foi internado após consumir um prato de feijão preparado pela madrasta.
Neste mesmo período, Cíntia postou vídeos com o marido e os dois enteados com declarações de amor. Em uma das publicações, enquanto Fernanda ainda estava internada após passar mal em casa, a madrasta lhe desejou melhoras e escreveu: "Todos familiares amigos à sua espera. Força, Nana, todos por você sempre".
Com a piora do quadro clínico da enteada, em 21 de março, a mulher postou outro vídeo com uma música gospel e uma foto da jovem: "Você vai vencer! Eu creio".
Fernanda foi internada em 15 de março com mal-estar e dificuldade para respirar. Após 13 dias, ela morreu no hospital.
Na época, os médicos atestaram a morte de Fernanda em decorrência de causas naturais. As suspeitas de envenenamento surgiram quando seu irmão mais novo passou mal, com sintomas semelhantes aos apresentados por ela, após um almoço servido pela madrasta e precisou ser levado, às pressas, para o hospital, no último dia 15.
Antes disso, nos dias 22 e 24 de março, Cíntia fez outras quatro postagens com mensagens religiosas, sempre com desejos de recuperação para a enteada. Em uma delas, compartilhou uma foto em que aparece ao lado do marido, do enteado, e do namorado de Fernanda.
No dia 29, a mulher ainda postou nova imagem da jovem com a música Estrelinha, de Marília Mendonça: "Quando bater a saudade/ Olhe aqui pra cima/ Sabe lá no céu, aquela estrelinha/ Que eu muitas vezes mostrei pra você?/ Hoje é minha morada; A minha casinha".
De acordo com a 33ª Delegacia de Polícia (DP), em Realengo, o irmão mais novo de Fernanda deu entrada no Hospital Municipal Albert Schweitzer, na zona oeste da capital fluminense, com "tonteira, língua enrolada, babando e com a pele branca após comer feijão servido por Cíntia".
O jovem foi submetido a uma lavagem estomacal e a um exame de sangue, que detectou níveis elevados de chumbo em seu organismo. A mãe dos jovens procurou a delegacia para registrar a suspeita de envenenamento no mesmo dia.
Os policiais foram até a casa de Cíntia para recolher o feijão para análise laboratorial. Ela foi levada para a 33ª DP, em Realengo, para prestar depoimento, onde teve a prisão decretada.
No mandado de prisão, a juíza Raphaela de Almeida Silva, da 3ª Vara Criminal do TJ-RJ, diz que a liberdade da madrasta "poderá causar prejuízos irreparáveis para o prosseguimento das investigações policiais": "Isso porque poderá exercer pressão sobre as testemunhas, levando em conta que os presentes na residência no momento do crime são familiares, filhos inclusive da suspeita".