Na tarde desta sexta-feira (1°), o Coral da Comunidade Luterana Cristo de Porto Alegre se apresentará mais uma vez, num momento inesperado e triste para todos. Os colegas farão a última homenagem a Cláudio Rogério Gowert, 55 anos, morto durante assalto na Zona Norte. Avô coruja, pai de duas filhas e casado há três décadas, o empresário teve a vida abreviada durante roubo de veículo no bairro Anchieta.
Natural de Pedro Osório, no sul do Estado, Cláudio vivia em Porto Alegre há mais de 30 anos. Casado, tornou-se pai de duas filhas e mais recente avô de um menino. Vivia com a família no bairro Humaitá, também na Zona Norte, e era dono de uma empresa de telecomunicação. Estava trabalhando na manhã de quinta-feira, quando foi abordado por dois criminosos, que tentavam roubar seu carro, e acabou morto com um tiro na nuca.
A tragédia desestabilizou a família, amigos e a Comunidade Luterana Cristo da Capital, da qual ele fazia parte há 20 anos. Além de frequentar os cultos, todas as semanas, Cláudio participava dos ensaios do coral. Integrava também o Coro Masculino 25 de Julho, com o qual chegou a viajar para a Alemanha em 2017.
Entre os sonhos do empresário, segundo a família, estava o de voltar a visitar a Alemanha. Quando retornou da Europa, comentou diversas vezes sobre a sensação de segurança que encontrou lá. Em Porto Alegre, tinha medo da violência, da qual acabou vítima.
— Sempre falava da violência, que lá fora era bem diferente, que gostou muito. E incentivava as filhas a irem também. O sonho dele era ir de novo – recorda o primo Joel da Cunha Gowert, 53 anos.
Desde que se mudou para Porto Alegre, em 1992, Joel convivia quase que diariamente com Cláudio. As famílias costumavam se visitar e fazer churrasco juntas. Na manhã de quinta-feira, telefonou para o primo e combinaram detalhes de um serviço que realizariam na próxima semana – os dois atuam no mesmo ramo. Antes de desligar, Cláudio disse que estava chegando no cliente. Era o local onde acabaria morto.
— Amigo de todas as horas, boas e ruins, sempre. É muito triste perder alguém assim. A gente sabe que acontece, mas quando bate na tua porta é difícil. É inexplicável. Tenho quase certeza que ele não reagiu. Era calmo. Muito família. Deixa a esposa, filhas, neto. Perderam o pilar da família — desabafa o primo.
É inexplicável. Tenho quase certeza que ele não reagiu. Era calmo. Muito família. Deixa a esposa, filhas, neto. Perderam o pilar da família
JOEL GOWERT
Primo
O perfil prestativo de Cláudio era conhecido também na comunidade luterana da qual era integrante. O momento de despedida do empresário, com presença do coral que participava, será realizado na tarde desta sexta-feira no Cemitério Luterano. O pastor Ismar Pinz será um dos responsáveis por conduzir a cerimônia.
— Ele sempre teve esse perfil de atuação dentro da comunidade. Sempre foi muito solícito, prestativo, inclusive com a parte técnica do som, da transmissão ao vivo. Estava ali e ajudava. Um cara bastante tranquilo, brincalhão. Quando precisava, se coloca à disposição para ajudar. Chegou a participar da diretoria da comunidade — afirma.
O caso atingiu a comunidade, que está perplexa, segundo o religioso. Na noite de quinta-feira, Cláudio deveria participar do ensaio do coral, justamente o dia no qual acabou vítima do crime. O grupo chegou a pensar em desistir do ensaio, pelo abalo. Mas optou por ensaiar dois hinos para serem entoados durante a cerimônia de sepultamento nesta tarde. O enterro está previsto para ser realizado às 15h.
— É um sentimento de não acreditar no que aconteceu, nessa situação trágica e triste. É esse sentimento que atingiu boa parte da comunidade — diz o pastor.
Investigação
Segundo a delegada Laura Lopes, da 4ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre, uma testemunha do crime e outro prestador de serviços que estava no local do crime já foram ouvidos. O colega contou que chegou ao local antes de Claudio e que estava dentro da empresa no momento do crime. A polícia não quis detalhar o depoimento da testemunha para não atrapalhar o andamento das investigações.
O que se sabe até o momento é que Claudio chegou ao local sozinho para fazer um atendimento em uma empresa. Ele estacionou o veículo, um Siena, e chegou a desembarcar uma escada que seria usada no serviço. Depois disso, ele retornou ao carro para buscar outras ferramentas. Foi neste momento que o crime aconteceu.
Dois assaltantes abordaram o empresário, que foi atingido por um disparo de arma de fogo na nuca. A delegada acredita que Claudio tenha sido baleado do lado de fora do carro, mas o veículo dele será periciado. O Siena, que pertencia à empresa dele, foi levado pelos criminosos e abandonado logo depois, próximo do limite entre Porto Alegre e Alvorada.
A polícia ainda tenta esclarecer o que motivou o criminoso a disparar contra a vítima. Não se sabe se chegou a haver luta corporal com os bandidos. Segundo a delegada, não foram obtidas imagens de câmeras do local do crime.