Um grupo de cerca de 30 criminosos fortemente armado atacou uma transportadora de valores em Guarapuava, a 255 quilômetros de Curitiba, na região centro-sul do Paraná, na noite deste domingo (17). A ação teria começado por volta das 23h e teria seguido até o início da madrugada. O 16º Batalhão de Polícia Militar (BPM) da cidade também foi alvo de diversos disparos de fuzil. Os autores do crime ainda incendiaram caminhões nas entradas do BPM. Três pessoas, entre elas dois policiais militares, ficaram feridas.
Conforme o comandante do 16º batalhão, coronel Joas Marcos Carneiro Lins, a ação durou cerca de três horas e o alvo era a Proforte, empresa de transporte de valores, que não chegou a ser roubada. Segundo ele, os criminosos fugiram sem conseguir executar o assalto que tinham planejado.
— Já tínhamos um plano de contingência, devido aos fatos que estavam ocorrendo em várias regiões do Estado. Assim que o ataque foi iniciado, conseguimos bloquear os acessos para as rodovias e eles fugiram para a área rural, onde ainda estão sendo procurados — disse.
A cidade, de 183 mil habitantes, foi acordada por tiros e rajadas de fuzil. Nas redes sociais, moradores relatavam "noite de terror" com barulho de tiros, incêndio em veículos e reféns. O movimento de quadrilhas especializadas em grandes assaltos em cidades do interior tem sido chamado de "novo cangaço".
Os criminosos chegaram no centro da cidade em ao menos sete carros blindados e se dividiram. Enquanto um grupo atacava a Proforte, outro atirava contra o batalhão. Dois veículos foram incendiados em frente à unidade para dificultar a saída dos policiais. Outros dois veículos foram queimados na rodovia BR-277, que dá acesso à cidade, segundo o Corpo de Bombeiros.
Moradores que estavam nas ruas foram tomados como reféns. Um grupo foi obrigado a formar um cordão humano para coibir a ação da polícia. Além dos dois policiais feridos, um morador foi atingido por um tiro no braço. Ele foi atendido em uma unidade de saúde municipal e passa bem. Moradores relataram que os bandidos atiraram contra postes e transformadores de energia para deixar a cidade às escuras.
O coronel Lins afirma que houve dois confrontos com os criminosos em fuga e alguns deles podem ter sido feridos. No início desta manhã, o cerco aos assaltantes continuava nas áreas rurais, com apoio da PM de cidades vizinhas. Viaturas do Exército também circulavam pela região, mas não havia informações sobre a prisão de suspeitos. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres afirmou ter enviado agentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal para dar apoio à cidade.
"Achava que era de fogos de artifício"
O gaúcho Andre Petterson, natural de Rio Pardo, mora desde 2008 em Guarapuava. Ele reside a menos de um quilômetro do quartel de Guarapuava e perto do centro da cidade.
— Ali pelas 23h, a gente começou a ouvir uns barulhos, mas eu achava que era de fogos de artifício. Era muito barulho, muito barulho, como se fosse bateria de fogos, mas era diferente. Jamais imaginei que fossem tiros. Aquilo durou de cinco a 10 minutos. Depois que parou, meu filho me ligou. Ele trabalha em um restaurante aqui e falou: "Olha, estão atacando a cidade. São bandidos, atacaram o quartel da Polícia Militar" — disse.
Petterson afirmou que muitas informações falsas chegaram, como relatos de que a casa do prefeito da cidade teria sido atacada também. O secretário municipal da Saúde de Guarapuava, Jonilson Pires, divulgou um áudio desmentindo esses boatos (veja abaixo).
De acordo com a jornalista Andréa Alves, do portal Agora Notícias de Guarapuava, um veículo blindado do Exército foi levado às ruas da cidade e os militares foram convocados.
— Os criminosos fugiram pelo aeroporto e por uma estrada de chão, sentido de Palmirinha, um distrito aqui mesmo em Guarapuava. Segundo relato de um policial, trocaram tiros na entrada da Palmirinha. Os criminosos estavam em sete veículos, abandonaram dois e seguiram em cinco — afirmou.
Andréa Alves também conseguiu conversar com um dos policiais que teria sido baleado. O cabo José Douglas Bonato foi operado e razão de uma fratura na perna, e não corre risco de morrer. Já o cabo Ricieri Chagas foi internado e entubado em uma unidade de terapia intensiva (UTI) e apresenta quadro estável. Familiares e amigos pedem orações e doação de sangue, de acordo com o G1.
Nos stories do Instagram, o portal Clic Regional também divulgou vídeos e relatos dos moradores da cidade. Nas imagens, é possível visualizar caminhões em chamas.
"Novo cangaço"
O episódio tem sido comparado ao grande assalto a um banco de Criciúma, em Santa Catarina, quando cerca de 30 homens com fuzis bloquearam as ruas da cidade, fizeram reféns, incendiaram veículos e roubaram R$ 125 milhões. Esse crime ocorreu em novembro de 2020.
Já em agosto do ano passado, um ataque a bancos em Araçatuba, no interior paulista, teve reféns amarrados em carros usados pelos bandidos como "escudos humanos". A ação terminou com três mortos.
A ação de quadrilhas especializadas em grandes assaltos é conhecida nos meios policiais como "novo cangaço". O termo faz referência aos bandos itinerantes que atacavam quartéis e roubavam instituições financeiras em pequenas cidades do sertão nordestino, entre os séculos 19 e 20.
Nos últimos 10 anos, as quadrilhas têm se notabilizado por usar grande poder de fogo, com armas de uso restrito, para amedrontar cidades inteiras. Os alvos com frequência são agências bancárias ou transportadoras de valores, o que possibilita acesso a grandes quantias de dinheiro. Os grupos se aproveitam de uma estrutura policial reduzida em cidades do interior para a realização dos grandes assaltos.