Em 20 de dezembro de 2020, o pastor Leomar da Rosa Machado, 54 anos, foi levado por três homens armados de dentro da própria casa, em Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana. Mais de um ano depois, sem saber se o familiar está vivo ou morto, parentes seguem esperando por respostas.
A polícia concluiu em março do ano passado o inquérito sobre o desaparecimento. Apesar de indiciar três pessoas por envolvimento no sequestro, a vítima não foi localizada. Enquanto isso, familiares vivem angústia diária, sem encontrar respostas completas para o que aconteceu com o pastor.
— Não tem um dia na minha vida que não choro pedindo a Deus solução. Já se passou esse tempo todo e nada foi feito, ninguém confessou, ninguém falou nada — desabafa a irmã, Valdirene Machado, 51, dona de casa.
As três pessoas apontadas como envolvidas no crime respondem por sequestro e cárcere privado — não foram indiciadas por homicídio por falta de provas (veja abaixo). O motivo para o sequestro seria o fato de o pastor estar loteando terrenos para famílias carentes na Vila Feliz, área de atuação de um traficante.
Sem qualquer envolvimento com o crime organizado, o religioso também ajudou famílias que estavam sendo expulsas pelos criminosos, fato que levou a polícia ao local e resultou na apreensão de 140 quilos de drogas um dia antes do sequestro. Dois dias após o sumiço do pastor, a casa dele foi incendiada e consumida pelas chamas.
Todos os meses, a cada dia 20, Valdirene usa seu perfil e grupos nas redes sociais para lembrar o caso e pedir ajuda para localizar o irmão. Em janeiro do ano passado, os familiares chegaram a realizar um protesto em frente ao fórum da cidade, pedindo justiça pelo caso. A situação vivida pela família naquele momento só se ampliou nos últimos meses.
— Imploro para que as pessoas falem, que quebrem esse silêncio. A minha esperança nunca perdi. Enquanto não me mostrarem ele morto, espero ele vivo — roga a irmã.
Valdirene lembra que o pastor Leo, como era conhecido, acordava dando bom dia e emendando: “Jesus te ama”. Ressalta que era um homem tranquilo e que pensava muito nos outros. A irmã conta que todas as semanas ele ia até a Ceasa buscar frutas e verduras para a comunidade.
— Tinha um grande coração — diz.
Ela relata ainda que o irmão não era pastor em uma igreja específica, mas palestrava em igrejas pentecostais da Região Metropolitana e se juntava a outros pastores em trabalhos para resgatar usuários de drogas das ruas. Quando sumiu, estava ajudando moradores a regularizarem a situação de ocupação de terrenos em uma área que seria visada por traficantes.
Segundo o Ministério Público, os três réus que respondem por sequestro e cárcere privado já foram citados e apresentaram defesa. Agora o processo segue com depoimentos de testemunhas e relatos dos próprios réus, além de apresentação de eventuais outras provas. Os nomes dos réus não foram informados. Dois estão presos na Penitenciária Estadual do Jacuí e um está solto.
Investigação
A investigação que indiciou três suspeitos identificou um traficante com atuação na área onde o pastor estava loteando os terrenos como mandante do crime. Além dele, foram indiciados outros dois homens, que teriam sido os autores do sequestro do religioso. Um quarto envolvido no crime, que teria sido o motorista durante o sequestro, mas não permaneceu dentro do carro na ação, não foi identificado.
Segundo o delegado Gabriel Borges, titular da 1ª Delegacia de Polícia de Sapucaia do Sul, embora a polícia acredite que o pastor tenha sido assassinado, não há provas materiais disso. Motivo pelo qual o trio não foi indiciado pelo assassinato.
— Nos casos em que se indicia pelo homicídio, mesmo sem corpo, tem-se provas, ainda que indiretas. No caso Eliza Samúdio, por exemplo, havia partícipe que confessou, e contou detalhes. Na nossa investigação, nenhum dos indiciados confessou, não tínhamos prova material nesse sentido. Tínhamos rumores de dentro da comunidade, que é extremamente coagida, por parte do crime organizado. Trabalhamos com provas, e não conseguimos prova concreta do homicídio — diz o policial.
Ao longo da investigação, a polícia recebeu inúmeras pistas falsas, que tentavam desviar a apuração do caso. Por mensagens e telefonemas, eram repassadas diferentes informações, que buscavam ludibriar os policiais.
No ano passado, conforme o delegado, foram realizadas diversas diligências para tentar encontrar o corpo do pastor ou alguma pista mais concreta do assassinato. Cerca de 30 testemunhas foram ouvidas durante o inquérito, e buscas foram realizadas em oito municípios.
— Sempre que surge informação, da possibilidade de localização do corpo, fazemos diligências. Surgindo novas informações, posso fazer novas investigações, instaurar novo inquérito, se for o caso. Nada me impede de fazer isso. Se o corpo vir a ser localizado, por exemplo, aí sim, teremos prova do homicídio — diz Borges.