Um sistema de segurança com câmeras de alta resolução, nobreak e chip para acesso direto à internet é a aposta de integrantes da Associação dos Moradores e Amigos do Bairro Auxiliadora (AMA) na tentativa de coibir assaltos, furtos e demais delitos nas ruas do local, na zona norte de Porto Alegre. As imagens ficam sob responsabilidade de uma empresa parceira dos moradores, que desenvolveu o protótipo, e serão enviadas à polícia sempre que crimes forem registrados, na tentativa de ajudar na captura de suspeitos e a elucidar investigações.
As imagens das ruas são captadas pelo chamado Astro 4.0, uma caixa preta com as duas câmeras acopladas, que é instalado em prédios e comércios que integram o projeto na região. De acordo com o presidente da associação, João Volino, quatro equipamentos já foram instalados, há cerca de 15 dias, em uma fase de testes. Eles foram colocados no quarteirão formado pelas avenidas Nova York e 24 de Outubro e as ruas Mata Bacelar e Xavier Ferreira.
A inauguração oficial do sistema, intitulado Vigilância Colaborativa, ocorrerá neste sábado (19), às 14h30min, nos fundos de um supermercado na Rua Xavier Ferreira.
— A ideia é suprir a carência das forças de segurança de ter imagens do interior dos bairros. Porque as câmeras da prefeitura e ficam normalmente em áreas mais movimentadas da cidade. Então as equipes da polícia acabam dependendo de câmeras de segurança de moradores, precisam pedir autorização, o que atrasa o trabalho de identificação dos envolvidos e de captura deles. Com esses sistema, poderemos fornecer as imagens o mais rápido possível — explica Volino.
Funciona assim: quando um morador percebe ou é vítima de algum crime, avisa pelo WhatsApp a empresa responsável pelos equipamentos, a ProteRisco. As imagens são então selecionadas pela empresa e enviadas para a polícia. A ideia é que diversos detalhes — como por onde o suspeito fugiu após a ação — ajudem na captura de criminosos. Essas imagens também poderão servir para investigações da Polícia Civil.
Segundo Volino, ao perceberem um aumento de ocorrências no bairro ainda no ano passado, moradores e comerciantes começaram a debater alternativas para tentar conter o problema. A contratação de empresas de vigilância, com guardas de ruas e monitoramento 24 horas de câmeras, foi aventada, mas o serviço traria custos mais elevados, explica o presidente. No caso do Astro 4.0, o valor sai a partir de R$ 800 por caixa. O custo é dividido entre os moradores.
No bairro Auxiliadora, os moradores estimam que sejam necessárias 200 caixas para cobrir todo o perímetro — cada uma tem alcance efetivo de até 50 metros. A previsão é de que até março sejam instaladas 50.
O produto foi idealizado pelo engenheiro e especialista em segurança, David Nahon. Já o desenvolvimento do equipamento foi feito pela ProteRisco, que custeou um investimento inicial de cerca de R$ 50 mil.
Segundo Volino, os moradores também apresentaram a ferramenta para demais associações de bairros:
— Foi uma ideia muito bem aceita por nossos moradores e também por associaçoes de outros bairros. Estamos esperançosos de que isso nos ajude a ter mais segurança. Esperamos que quem comete esses crimes passe a evitar os locais onde sabem quem estão sendo filmados, que serão identificados. Que sirva para minizar esses ataques em nossos bairros.
Imagens não serão divulgadas nas redes, garante presidente
Para evitar que as imagens de assaltos e demais crimes acabem sendo compartilhadas no WhatsApp e em redes sociais, o que poderia expor vítimas e moradores, o presidente da associação afirma que o material será enviado pela empresa apenas para a polícia. O objetivo é garantir que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) seja respeitada. A norma regulamenta o tratamento de dados pessoais de pessoas por parte de empresas públicas e privadas. Os equipamentos também só serão colocados em imóveis privados.
Para chegar a um modelo considerado "ideal", Volino afirma que os moradores tiveram reuniões com integrantes da prefeitura da Capital e das polícias militar e civil.
O secretário de Segurança da Capital, coronel Mario Ikeda, ponderou que, desde que as câmeras sejam colocadas em imóveis privados e posicionadas para filmar a via pública, não há restrições.
— É algo positivo que as pessoas utilizem essas câmeras, e as imagens obtidas por moradores costumam ser usados pelas autoridades. É claro que é preciso cuidado no compartilhamento, para não expor vítimas ou moradores. Quanto mais usarmos a tecnologia a favor da segurança pública, para nos ajudar na prevenção de crimes e na identificação de criminosos, melhor — pontua Ikeda.
Em uma reunião nesta quinta-feira (17), o projeto foi apresentado para a diretora do Departamento de Polícia Metropolitana (DPM), Adriana Regina da Costa. A delegada informou que a polícia irá acompanhar a iniciativa feita pelos moradores, e avalia como positivo o engajamento da associação:
— São movimentos importantes para que a gente possa se aproximar dos bairros, desenvolver esse contato mais próximo. Sempre é válido e é muito positivo esse engajamento da associação na área da segurança pública. Nós ainda iremos avaliar como se dará esse trabalho, mas é comum usarmos imagens de prédios e comércios, cedidas por moradores, quando fazemos investigações. Ainda mais se essa imagem tiver boa qualidade, é um ponto de partida importante.
O diálogo também ocorreu entre os moradores e integrantes do 11° Batalhão de Polícia Militar (BPM), que atende a região. À frente do Comando de Policiamento da Capital (CPC) - órgão ao qual os batalhões são subordinados -, o coronel Fernando Gralha Nunes também avaliou a medida como positiva e afirmou que a corporação está disponível para ajudar com orientações, inclusive no cumprimento de questões legais.
— O comandante de cada batalhão tem autonomia para avaliar se esse tipo de material será utilizado, acredito que cada caso será avaliado individualmente. Mas saudamos todo tipo de iniciativa que venha para auxiliar e ficamos sempre à disposição para ajudar — comenta Nunes.