Foi em Capão da Canoa, no Litoral Norte, que agentes do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) localizaram um empresário de Gravataí, na Região Metropolitana, um dos alvos de uma ofensiva contra o tráfico de drogas. O homem de 45 anos era o último suspeito de integrar o grupo ainda procurado pela investigação. A organização criminosa, com origem no Vale do Sinos, é apontada como responsável por distribuir maconha em grande escala para a Grande Porto Alegre.
Os agentes chegaram até o empresário nessa quinta-feira (20), após realizarem dias de buscas no município do Litoral. O morador de Gravataí foi encontrado pelos agentes quando deixava um apartamento onde estava hospedado para permanecer na praia com familiares. Com prisão preventiva por tráfico e associação para o tráfico decretada pela Justiça, ele inicialmente se identificou em nome de outra pessoa, mas acabou admitindo quem era e foi detido.
O preso é proprietário de uma fábrica de móveis em Gravataí e participa de campeonatos de kart. Segundo o delegado Alencar Carraro, da 3ª Divisão de Investigação do Narcotráfico, o empresário se aproveitava dos treinos e competições para estabelecer relacionamentos com mais pessoas e obter novos compradores para os entorpecentes.
Até então, sem antecedentes policiais, o preso foi indiciado pela Polícia Civil pelos crimes de tráfico de drogas e associação para o tráfico. O homem não teve o nome divulgado em razão da Lei de Abuso de Autoridade. O empresário já havia sido ouvido pela polícia ao longo da investigação, mas negou que atuasse no tráfico de drogas. O delegado afirma, no entanto, que as provas obtidas ao longo da apuração apontam para o contrário.
— As nossas investigações são fortes e robustas no sentido de que ele é ligado ao narcotráfico, principalmente na análise de telefone celular. Não foi encontrado drogas com ele. No depoimento, ele não disse que é traficante, e sim usuário. Mas na época em que foi ouvido, ele não sabia da existência dos áudios — afirma o delegado Carraro.
Durante a ação que resultou na prisão dele os policiais inclusive utilizaram um veículo que havia sido apreendido ao longo da apuração.
— Uma coincidência e uma situação bem interessante, graças à sensibilidade do Poder judiciário estamos conseguindo retirar bens de traficantes e utilizar contra o tráfico —diz o delegado.
Idosos no tráfico
A operação realizada no Litoral Norte foi chamada de Old Man II, isso porque uma primeira etapa já havia sido colocada em prática anteriormente. Em novembro, durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão em Gravataí e Canoas, dois idosos, de 62 e 66 anos, foram presos. Com eles, foram apreendidos um revólver, com numeração raspada, dinheiro, munição, porção de entorpecentes e materiais para embalar drogas.
Em junho, já havia sido preso outro idoso de 60 anos em Gravataí, no bairro Morada do Vale III, com 81,5 quilos de maconha, R$17 mil, um revólver calibre .38 e munição. Também foram apreendidos na ação dois celulares. A partir dali, a polícia conseguiu aprofundar as investigações contra esse grupo criminoso, que seria responsável por fornecer as drogas para o preso.
Com autorização da Justiça, foram extraídas dos aparelhos celulares apreendidos mensagens com evidências sobre a venda de drogas. Nas conversas, eram usadas expressões como “limãozinho de 50”, como referência à compra de maconha pelo valor de R$ 50,00. O detido é apontado como responsável por redistribuir para outras pessoas na Região Metropolitana, especialmente em Cachoeirinha, Gravataí e Canoas.
Ao longo da investigação, a polícia identificou usuários, que confirmaram terem comprado as drogas com os idosos. Um caso que despertou a atenção dos policiais foi a descoberta de que um dos idosos recebia pagamento mensal de um rancho, por parte de um funcionário público, que faria uso dessa forma para adquirir drogas. Segundo o delegado, mesmo presos, membros do grupo criminoso seguiram agindo. A polícia descobriu diálogos envolvendo o idoso preso em Gravataí e o empresário do setor moveleiro.
Indiciamento
O inquérito sobre o caso foi encaminhado à Justiça ainda em dezembro, com o indiciamento de sete pessoas, que acabaram denunciadas pelo Ministério Público. Ao todo, cinco pessoas foram presas durante as investigações. Entre eles, está o homem apontado como líder desta organização criminosa.
Atualmente preso no Presídio Central, o investigado de 35 anos havia sido detido em julho. Com antecedentes por tráfico de drogas, e outros crimes, ele é apontado pela investigação como uma liderança responsável por distribuir cerca de 40 toneladas de maconha anualmente na egião Metropolitana.
Também foram indiciados os três idosos, pelos crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico e posse irregular de arma de fogo com numeração suprimida. Segundo o delegado Carraro, uma das suspeitas é de que o grupo criminoso tenha tentado se usar do fato de serem idosos, que não despertariam a atenção da polícia, para dar seguimento às ações de tráfico.
A polícia indiciou ainda um homem de 36 anos, morador de Gravataí, com inúmeros antecedentes policias pela prática de tráfico de drogas e outro de 45 anos. Segundo o Denarc, as investigações contra o grupo criminoso continuam com foco no combate à lavagem de dinheiro.
Contraponto
Responsável pela defesa do empresário, o advogado Flavio Eduardo Barreto Correa afirma que o cliente é usuário de drogas, e possui parentesco com uma pessoa presa durante a investigação, mas que não tem envolvimento com o tráfico de drogas. Afirma também que ele já prestou esclarecimentos à polícia, neste mesmo sentido.
— A prisão dele nesse momento não tem justificativa. Não é pessoa que ofereça risco à sociedade. Todas as vezes que foi chamado, prestou seus esclarecimentos. Não há qualquer indicativo patrimonial ou de qualquer situação que dê conta que ele seja associado ao tráfico. Ele contatou algumas pessoas para adquirir drogas para uso — afirmou.
O advogado disse ainda que o cliente possui atividade laboral lícita, e que reside com a família. Segundo a defesa, já havia sido cumprido mandado de busca na casa dele em novembro, mas nada de ilícito havia sido localizado.
— Essa investigação foi encaminhada à Justiça, e lá não houve pedido de prisão. Surpreendentemente a polícia, a partir desses fatos, fez segundo pedido de prisão para investigados, sendo que esses fatos que motivaram a prisão já estão no processo tramitando — disse o advogado.