Jerry Adriano dos Santos Oliveira, 45 anos, mobilizava amigos e familiares para arrecadar doces, que pretendia doar para crianças durante o Natal em Viamão, na Região Metropolitana. O motorista não teve tempo de concluir a ação solidária. Foi assassinado na noite da última sexta-feira (10) durante corrida que realizava para um casal. O corpo dele foi localizado no porta-malas do veículo e a dupla detida pela polícia.
A iniciativa de Zezé Jerrynho, como era conhecido por viver cantarolando as músicas da dupla Zezé di Camargo e Luciano, não surpreendeu quem o conhecia. Esse tipo de ação era algo comum para o motorista de personalidade extrovertida, que se dedicava a plantar árvores junto à RS-040 e enviava aos conhecidos oportunidades de emprego, para auxiliar quem estava precisando.
— Era muito alegre, onde chegava cativava as pessoas. Estava sempre tentando transmitir felicidade para todo mundo. Nunca via ele para baixo. Ia distribuir essas cestinhas na comunidade — recorda Belatamir de Oliveira, 27 anos, casada com o sobrinho do motorista.
A designer gráfica está entre os familiares envolvidos em mobilização que pede justiça pelo crime que vitimou Jerrynho. Os parentes e amigos mandaram confeccionar camisetas e organizam protesto para as próximas semanas. O condutor trabalhou como motorista de ônibus da Viação Alto Petrópolis por quase 13 anos, e era bastante conhecido em Viamão.
— Ele tinha muitos amigos. Não tínhamos noção sobre quem eram muitas pessoas que estavam no velório. Onde ele passava, fazia amizade. As pessoas adoravam ele. A ideia dele era sempre melhorar a cidade, melhorar tudo. Sempre que podia, pegava uma mudinha e plantava na RS-040 — conta Belatamir.
Desempregado, há cerca de dois meses migrou para o transporte por aplicativo. Chegou a adquirir outro veículo para poder realizar as corridas com mais conforto. Jerrynho era casado e vivia com a esposa e o enteado de sete anos em Viamão.
— Ele sempre ajudava meu filho a fazer os trabalhos da escola. Quando ele morreu, meu filho disse: “mataram meu pai. Meu pai é o melhor pai do mundo” — relata a esposa de Jerrynho, Adriana Celinara, 38 anos.
Em casa, o motorista deixou as cestinhas preparadas que pretendia distribuir para as crianças. A ação estava sendo realizada junto com a esposa.
— Ele era uma pessoa maravilhosa, foi a melhor pessoa que apareceu na minha vida. Ele amava muito. Um ser humano iluminado. Ele fazia a gente voltar a rir do nada. Meu marido foi uma pessoa maravilhosa. Não fazia mal para ninguém. Só buscava ajudar as pessoas. Tirava dele para ajudar as pessoas — recorda Adriana.
Jerrynho deixa ainda outros dois filhos, de sete e 24 anos, de relacionamento anterior. O corpo do motorista foi sepultado no Cemitério Jardim da Paz.
A investigação
Na noite em que foi morto, segundo a Polícia Civil, o condutor realizava corrida por fora do aplicativo. Teria atendido o chamado de uma adolescente de 16 anos, que estava em Quintão, no Litoral Norte, com o namorado, de 19 anos. Os dois acabaram detidos pela Brigada Militar na noite de sexta-feira após se acidentarem com o carro de Jerrynho, na RS-040, próximo ao pedágio.
O corpo do motorista de app estava dentro do porta-malas do Sandero, com pés e mãos amarrados e um pano no pescoço. A adolescente foi encontrada num matagal próximo e o namorado em um posto de combustíveis. Os dois, em depoimento, admitiram ter cometido o crime, mas apresentaram versões distintas. A garota afirmou que pretendiam assaltar o motorista, mas que terminou num latrocínio, e o rapaz preso disse que havia recebido R$ 1 mil para cometer o assassinato.
O caso foi registrado inicialmente como roubo com morte e chegou a ser encaminhado à 1ª Delegacia de Polícia de Viamão, no entanto, durante a apuração acabou remetido à Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
– O mais provável é que tenha sido um homicídio, que eles queriam mesmo matar o motorista. Mas ainda não conseguimos apurar o porquê. Temos indícios que apontam que eles queriam matar. Teria uma possível dívida com eles, queriam cobrar essa dívida – afirma a delegada Caroline Jacobs, da DHPP de Viamão.
A policial diz que ainda investiga qual o vínculo entre o casal e o motorista, que não tinha antecedentes criminais. A adolescente e o namorado, detidos em flagrante, devem ser ouvidos novamente pela investigação, que também tem colhido depoimentos de familiares e pessoas próximas à vítima.
– Alguns pontos são controversos nos depoimentos e versões deles. Queremos entender também com os familiares se era costume dele fazer essas corridas ou não – afirma a delegada.
Quando foi detido, o casal relatou que parte do dinheiro que estava com eles era do motorista. Nenhuma arma foi apreendida com a dupla, que relatou que o motorista teria sido morto por eles no bairro São Lucas, em Viamão. A causa da morte, que ainda deve ser confirmada pela perícia, teria sido esganadura.