O que começou com o possível sequestro de uma mulher de 29 anos por traficantes em Florianópolis, Santa Catarina, terminou com a falsa vítima presa e mais três detidos em um motel na madrugada desta terça-feira (2). Familiares, moradores de Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, foram coagidos a pagar pelo resgate. Parte do valor chegou inclusive a ser repassado aos criminosos, até a Polícia Civil descobrir que se tratava de uma farsa.
Em chamadas de vídeos feitas pelos supostos sequestradores, a mulher aparecia amarrada, enquanto uma arma era apontada para sua cabeça. Nas imagens, a mulher aparentava estar ensanguentada. Em um dos áudios, os bandidos forjavam estar agredindo a suposta vítima, que gritava ao fundo. Em outro, os criminosos exigiam que o dinheiro fosse entregue em uma hora.
— São 5h10min do dia 1º de novembro. Se não brotar o dinheiro até as 6h10min, amanhã (terça-feira, 2) a senhora comemora o primeiro Finados dessa imundície e de repente de mais alguns — ameaçou o falso sequestrador.
As mensagens foram encaminhadas para a mãe dela, que mora em Santa Cruz do Sul. Os primeiros contatos começaram ainda no fim da manhã de domingo (30), e o registro foi feito na madrugada seguinte. Em um primeiro momento, a exigência era de R$ 1 mil, que deveriam ser pagos em 15 minutos. Depois do primeiro pagamento, passaram a querer mais R$ 9 mil — a família acabou enviando R$ 4,8 mil. Os bandidos passaram então a extorquir mais R$ 9 mil.
— As chamadas vinham do celular da filha, que aparecia amarrada e com saco na cabeça. Nas últimas ligações, ameaçavam vir a Santa Cruz do Sul e fazer mal a outros familiares — detalha o delegado Marcelo Chiara Teixeira, de Santa Cruz do Sul.
Como se tratava de um possível sequestro, a equipe da 1ª Delegacia de Repressão a Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), especializada no combate desse tipo de crime no Estado, passou a investigar o caso na noite de segunda-feira (1º).
— A filha de fato teria relações pretéritas com o tráfico de drogas. Teria sido presa, perdido droga, isso implicado em prejuízo financeiro para o grupo criminoso, do qual ela tomava parte. Por isso, teriam a sequestrado para que fosse pago valores a título de compensação dessa perda — explica o delegado João Paulo de Abreu, que coordena a equipe antissequestro no RS.
Os policiais de Santa Cruz do Sul foram mantidos em contato direto com os familiares, enquanto a equipe da Capital tentava descobrir onde ficava o cativeiro. Por meio do monitoramento dos telefones utilizados, inclusive o da própria falsa vítima, e outros meio de investigação, os agentes descobriram que os suspeitos de envolvimento no sequestro tinham feito compras nas proximidades de um motel no norte de Florianópolis.
A equipe da Divisão Antissequestro da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Santa Catarina foi acionada para ir até o local e confirmar se os criminosos realmente poderiam estar ali. Os agentes confirmaram que a mulher estava no motel, com outros três homens, e que haviam se hospedado ali há alguns dias.
Fim da farsa
A investigação já havia levado a polícia suspeitar de que o crime pudesse estar sendo orquestrado pela própria refém. O falso sequestro foi confirmado quando os policiais ingressaram no quarto do motel no norte de Florianópolis, onde a vítima estaria sendo mantida. Segundo o delegado Anselmo Cruz, no local estava a mulher e os três comparsas.
Dentro do quarto, havia tinta vermelha, entre outros objetos, usados para simular o sequestro e os ferimentos. As roupas da mulher, blusa branca e calça jeans, tinham sido pintados com a tinta, para forjar ser sangue. Conforme a polícia, o sequestro teria sido planejado pela falsa vítima para extorquir os familiares, em razão de problemas com drogas. Os quatro foram presos pelo crime de extorsão.
— A mãe recebeu a notícia que a filha estava forjando o sequestro e que estava presa em Santa Catarina. Já era uma hipótese que a família acreditava ser possível. Ela agradeceu pelo trabalho e pelo empenho. Não tenho notícias se ela chegou a falar com a filha. Mas se sentiram mais tranquilos, não só em relação à mulher que estaria sequestrada, mas também a todos eles que foram ameaçados em Santa Cruz do Sul, outros familiares — afirma o delegado João Paulo.