Morto enquanto trabalhava em uma obra em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, o pedreiro e azulejista Aleichan de Lima Schenkel, 27 anos, havia avisado a esposa que trabalharia todos os domingos até o final do ano. O esforço de fechar 2021 sem folgas bancaria a viagem da família no final do ano para Brusque, em Santa Catariana, onde visitariam parentes. Esse e outros planos acabaram interrompidos na manhã do dia 6 de novembro, quando Schenkel levou um golpe de faca no coração ao tentar se afastar de um bate-boca.
O crime aconteceu por volta das 7h, em uma casa no bairro São Jorge. Schenkel foi contratado para fechar janelas. A mulher que contratou o pedreiro tinha intenção de vender a casa, deixada de herança pelo ex-marido, e repartir a herança com a filhas. Seu ex-cunhado morava no térreo do sobrado e entendia que também tinha direito sobre o imóvel. Por isso, era contra a obra.
Era o primeiro dia de trabalho de Schenkel no local. Na manhã do assassinato, a vítima estava no imóvel quando percebeu uma discussão e decidiu sair da casa para se afastar. Ao chegar no pátio, recebeu uma paulada nas pernas, caiu e foi atingido com uma facada no peito. O ex-cunhado da proprietária da casa foi preso pelo crime.
— Foi sem motivo nenhum. Ele não fez nada e foi morto. Quando ele viu que estavam brigando, estava saindo para rua para deixá-los se resolverem, e o cara foi atrás dele mesmo assim. Ele não concordava com a obra, não queria que a casa fosse vendida — lamenta Letícia Freitas da Cunha, 23 anos, com quem Schenkel mantinha relacionamento há três anos e tinha uma filha de um ano e sete meses.
Letícia é amiga de infância de uma das filhas da dona da casa e frequentou o imóvel quando criança. O auto de prisão foi efetuado pela Delegacia de Polícia e Pronto-Atendimento (DPPA) de Novo Hamburgo na data do crime. A titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegada Ariadne Langanke, confirma que a vítima não tinha relação com a desavença familiar e nenhum desentendimento anterior com o homem preso pelo crime.
— Ele não tinha nada a ver. Foi contratado para fazer a obra, houve essa briga familiar em razão da obra e foi morto com uma facada. Pelo que se sabe, não havia rixa anterior. Nada com a vítima — afirma a delegada.
A Justiça converteu a detenção do suspeito em prisão preventiva. Na Polícia Civil, ele é investigado por homicídio qualificado por motivo fútil.
Natural de Novo Hamburgo, Schenkel era o único filho homem em uma família de quatro irmãos. Morava em uma casa alugada no bairro São José com a esposa e a filha. O casal vivia com a expectativa de se mudar para o apartamento recém-comprado em São Leopoldo. A troca de endereço aconteceria em 2022, assim que o imóvel estivesse concluído. Na casa nova, planejavam ter o segundo filho.
Na noite anterior ao crime, Schenkel e Leticia passaram a noite acordados devido à tosse da filha. A menina conseguiu dormir às 6h, quando ele saiu para trabalhar. Não voltou mais.
— Não tem lógica. Não tem porquê. Não entendo, parece uma pegadinha e que a qualquer momento ele vai entrar na porta. Toda noite eu rezo para acordar de manhã e isso ter sido um pesadelo. Começo a me beliscar para ver se acordo e é mentira.
Empenhado no trabalho, Schenkel trabalharia todos os dias da semana até o fim de 2021. Não teria folga para juntar dinheiro para a família viajar em dezembro. Com a perda do marido, Leticia depende de ajuda de amigos e parentes para se manter.
— Tudo acabou. Como vou pagar o financiamento? Não tenho como conseguir sem ele. Era a nossa energia. Eu dependia do trabalho dele. Agora eu e minha filha estamos desemparadas. Era um parceiro, não reclamava de nada, estava sempre sorrindo. Não tinha tempo ruim. Perdemos tudo, nossa referência. Só quero que o homem que fez isso não seja solto — diz Leticia.
A morte provocou revolta entre amigos, familiares e vizinhos, que neste sábado (13) farão protesto pedindo justiça. A manifestação começa a partir das 14h e sai da frente do Ginásio de Esportes Rola Bola, no bairro Redentora.