Uma quadrilha de traficantes de Eldorado do Sul — e que tem ligação com grupos de outras cidades da Região Metropolitana — foi desarticulada nesta sexta-feira (15) durante operação policial com mais de 80 agentes. Para tentar garantir a venda de entorpecentes, as negociações e até mesmo execuções, os investigados mantinham uma rede de informações e possuíam uma "escala" de serviços.
O esquema contava com apoio de informantes, grupos de WhatsApp e monitoramento constante das autoridades jurídicas e da segurança pública. Os principais alvos eram delegacia de polícia, quartel da Brigada Militar e foro e sede do Ministério Público (MP). Até 10h, havia 12 presos.
Segundo a investigação, eles também acompanhavam a movimentação e o abastecimento de veículos oficiais em postos de combustíveis. O objetivo era se antecipar a alguma movimentação — para a ofensiva desta sexta, as 40 viaturas usadas foram abastecidas em outra cidade.
O delegado Guilherme Dill, responsável pela investigação e titular da Delegacia de Eldorado do Sul, diz que os líderes do grupo centralizavam todas as informações a partir do município e mantinham relações com uma facção criminosa gaúcha para tráfico de armas e de drogas.
Para evitar prejuízos financeiros e até mesmo prisões, os criminosos cooptaram alguns moradores — ainda se apura se houve ameaça ou não — para repassar informações privilegiadas. Segundo o delegado, foi possível comprovar essa verdadeira rede de informações para auxiliar na movimentação da organização na cidade, com o objetivo de proteger o tráfico e as atividades paralelas.
Foi identificado, por exemplo, um funcionário de um posto de combustíveis onde viaturas da BM, Polícia Civil e Polícia Rodoviária Federal (PRF) frequentemente abastecem — muitas vezes, antes de alguma operação ou ação importante. Dessa forma, o papel deste suspeito seria buscar informações ou no mínimo avisar a quadrilha via grupos de WhatsApp.
Dill destaca que não somente o abastecimento, mas qualquer movimentação policial deveria ser repassada. Também se verificou que os criminosos mantinham sob observação diária os principais prédios públicos de segurança em Eldorado do Sul.
— Nenhum tipo de ação ou afronta, como observação diária e constante das atividades públicas, serão toleradas. Se for necessário, mais investigações serão iniciadas e mais ações ostensivas serão organizadas para repreender os atos criminosos — diz Dill.
Em um áudio divulgado pela polícia, dois integrantes do grupo trocam informações sobre movimentação policial em Eldorado do Sul durante troca de plantão dos agentes:
Escala de serviço
O diretor da 2ª Delegacia Regional Metropolitana, delegado Mario Souza, participou da operação e ressalta que a quadrilha tinha todas as funções específicas organizadas e divulgadas entre os integrantes e, para garantir que as principais atividades fossem desempenhadas, havia uma "escala de serviço".
A investigação apurou que os 16 suspeitos identificados até o momento se dividiam em funções específicas: gerência territorial, recolhedores de ativos, contadores, vendedores, olheiros e, por fim, o patrão.
— As escalas eram diárias e semanais, sempre especificando as funções a serem exercidas. Por isso, se equiparavam às escalas militares, com horários de entrada e saída, destacando indivíduos superiores e inferiores de forma hierárquica — ressalta Souza.
Ao todo, os mais de 80 agentes cumpriram 16 mandados de prisão temporária e outros 16 de busca e apreensão. A maioria em Eldorado do Sul e um deles em Guaíba. Os nomes dos suspeitos não foram divulgados até o momento.