Gritando palavras como "justiça" e "covardes", cerca de 200 pessoas fizeram uma caminhada em Alvorada, na Região Metropolitana, na manhã deste sábado (9), em protesto pela morte do vendedor ambulante Wagner de Oliveira Lovato, 40 anos. Ele foi agredido por dois homens em frente a um açougue da cidade, há uma semana, e acabou morrendo na noite do último domingo (3) devido à gravidade dos ferimentos.
A passeata começou por volta das 10h, em frente ao prédio da prefeitura, e seguiu até o local do crime, na Avenida Presidente Getúlio Vargas. O número de pessoas foi estimado pelas autoridades de segurança — Brigada Militar e Guarda Municipal acompanharam o grupo durante o trajeto, de cerca de 300 metros.
O açougue segue fechado e, na grade do estabelecimento, foram colados diversos cartazes e balões brancos. Uma parte dos manifestantes usava camisetas com a foto de Lovato, enquanto outra vestia roupas pretas, além de carregar cartazes, balões e apitos.
Prima da vítima, Taiamanda Lovato, 22 anos, disse que o objetivo principal foi realizar uma passeata pacífica, porque era dessa forma que o tio vivia. Ela, que esteve no local das agressões na semana passada e teve de dar, inclusive, a notícia do falecimento, destaca que haverá protestos em todas as instâncias, da polícia até a Tribunal de Justiça, para que ninguém esqueça do crime.
A filha da vítima, Natalie Lovato, 22 anos, e a esposa, Rubia Masuhin, 35, também participaram da caminhada. Emocionada, a mulher falou que o marido era uma pessoa querida pelos amigos e que foi morto em um ato que sempre condenou, a violência. Ela ainda não contou sobre a morte para um dos filhos mais novos do casal. Ao final do ato, Rubia soltou uma pompa branca. O local da manifestação foi limpo pelos participantes.
O crime
Segundo a Polícia Civil, Lovato foi ao Shopping das Carnes, na noite de sábado, e teria reclamado do preço de alguns produtos antes de sair do local. Luciano Ribeiro, amigo do gerente do estabelecimento, conforme as imagens, foi ao encontro do cliente e, na calçada, houve uma discussão.
Lovato levou um soco e caiu no chão, batendo a cabeça. Desacordado, o gerente, Luciano Monteiro, que estaria embriagado e de folga, foi ao local e chutou a cabeça da vítima. O ambulante foi socorrido, mas, no dia seguinte, no domingo, morreu no hospital.
Os dois agressores foram presos.
Contrapontos
O que diz Luciano Monteiro
O advogado Gilson D'Ávila Machado afirma que em nenhum momento houve intenção de matar a vítima. "Foi uma briga, uma discussão que não se sabe o real motivo. Meu cliente estava embriagado. É notório, não tem como dizer que não. O andar dele na gravação demonstra isso. Ele nem sabe dizer porque se deu essa discussão." A defesa confirma que ele não estava trabalhando e não estava uniformizado e afirma que, por estar bêbado, perguntou ao Wagner porque ele saiu do açougue sem comprar nada. "Ele não se lembra nem porque começou a discutir. O que aconteceu foi uma fatalidade e ninguém espera que um soco vai matar uma pessoa. Em nenhum momento existe a vontade de matar. Foi discussão e briga que, infelizmente, levou ao óbito do Wagner. E sentimos muito por isso", afirma Machado.
O que diz Luciano Ribeiro
O advogado Eduardo Andreis se manifestou por meio de nota:
"Primeiramente, lamentamos profundamente o resultado fatal vitimando o Sr. Wagner, o que nunca foi desejado em nenhuma hipótese. Lamentamos sobretudo pela família deste trabalhador. Tratou-se de uma fatalidade derivada de uma discussão, cujo desfecho foi um acidente fatal. Nunca imaginou que de um soco pudesse resultar o falecimento de outro ser humano. Ao ver a gravidade, Luciano tentou acudir Wagner, inclusive sendo agredido pelas testemunhas a socos e pontapés. Ficou para prestar seus esclarecimentos às autoridades policiais e judiciárias, sem fugir de sua responsabilidade culposa. Deseja o esclarecimento total e a realização da Justiça."
O que diz o Shooping das Carnes
Em nota, afirma lamentar "profundamente" a morte de Lovato e que está "adotando todas as medidas possíveis para auxiliar as autoridades na apuração das responsabilidades neste ato criminoso em frente ao estabelecimento".
Segundo o texto, divulgado no início da semana, "o funcionário envolvido neste episódio inaceitável, que não estava em atividade de trabalho no momento do crime, foi afastado pela empresa e está sob custódia da polícia".