A Polícia Civil deflagrou na madrugada desta quinta-feira (5) a Operação Sinaloa, com 67 mandados judiciais sendo cumpridos em seis cidades da Região Metropolitana. Desses, 32 são ordens de prisão preventiva contra suspeitos de cometer homicídios relacionados ao tráfico de drogas. Os alvos são ligados à facção Bala na Cara. Até o momento, 21 foram presos.
A ação, desencadeada por 250 policiais, é resultado de oito meses de investigações feitas pela Delegacia de Polícia Civil de Glorinha, embasadas em flagrantes, depoimentos e interceptações telefônicas. Foram obtidos áudios em que o gerente da facção, recolhido na Cadeia Pública de Porto Alegre (Presídio Central), encomenda morte de rivais.
O bando é investigado por seis assassinatos ocorridos desde 2020, todos no Vale do Gravataí. Algumas mortes são de integrantes de quadrilhas rivais. Outras, de compradores de droga que não pagaram dívidas.
—Eles ameaçaram consumidores de entorpecentes e cometeram homicídios. Um dos atentados, com vários disparos, foi contra uma mulher que eles suspeitam que trabalha para duas facções, a deles e uma rival — descreve o delegado que supervisiona a ação policial, Juliano Ferreira, titular da 1ª Delegacia Regional Metropolitana, que abrange a área onde ocorreram os crimes investigados.
Num dos áudios transcritos no inquérito, o gerente da facção, de dentro da prisão, comanda a entrega de armas a colaboradores.
— Tem de buscar aí em Gravataí um “oitão” (revólver calibre .38) e uma “doze” (escopeta calibre 12). Tá ali numa lavagem, o Gordo sabe onde é. Tá separado já, duas carga para cada um. E tem mais dois oitão lá em Glorinha. Tem como tu passar ali? Senão vou correr uns guri pra pegar.
O outro quadrilheiro responde:
— Ô, meu, eles tão num sítio ali na Miraguaia, com dois oitão. O menor tá ali, te esperando.
O outro confirma:
—Então tá, se mocozeia ali no mato que eu mando pegar os dois “ferro” ali então. Vou te passar o número dele. Tem 30 cartuchos.
Após pegarem as armas, os bandidos monitoram uma boca-de-fumo rival, em Glorinha. E relatam por whatsapp a movimentação ao patrão, no presídio.
- Já fomos na biqueira ali, tem uma viatura perto, estacionada. Vou esperar mais um pouco. Se o cara não aparecer aqui, vou furar toda essa casa a bala.
Após pegarem as armas, os bandidos monitoram uma boca de fumo rival, em Glorinha. E relatam por WhatsApp a movimentação ao patrão, no presídio.
— Já fomos na biqueira ali, tem uma viatura perto, estacionada. Vou esperar mais um pouco. Se o cara não aparecer aqui, vou furar toda essa casa a bala.
Como o alvo não apareceu, a quadrilha decide atirar. E transmite por vídeo ao vivo, pelo WhatsApp, ao chefe no Presídio Central.
Estão sendo cumpridas ordens judiciais em seis cidades da Região Metropolitana: Glorinha, Gravataí, Viamão, Alvorada, Porto Alegre e Canoas. Também são feitas buscas em dois presídios, na Capital e em Canoas.
A chamada Operação Sinaloa deve seu nome justamente à semelhança da facção gaúcha com o Cartel de Sinaloa, um dos principais do México, “guardadas as devidas proporções”, ressalva Juliano Ferreira.