A Polícia Civil confirmou, na manhã desta terça-feira (19), que já recebeu mais de cem denúncias de mulheres que afirmam terem sido abusadas sexualmente pelo médico gaúcho Klaus Brodbeck. Cirurgião plástico famoso nas redes sociais, ele foi alvo de uma operação policial na última terça-feira (13), cuja investigação iniciou após denúncia de 12 vítimas.
Klaus foi preso na última sexta-feira (16), em Gramado, na serra gaúcha. A defesa afirmou que o médico é inocente.
A delegada Jeiselaure Souza disse ao Timeline, da Rádio Gaúcha, que o primeiro caso que chegou ao conhecimento da polícia foi registrado no ano de 2003. Uma das denúncias narra fatos ocorridos em 1998. Sem entrar em detalhes, ela disse que a delegacia já havia encaminhado os casos.
— No ano de 2021, houve um novo registro de ocorrência em relação a essa conduta do médico. Nesse sentido então, juntamos todas as investigações anteriores que estavam em andamento. Tem crime que não prescreveu, um crime de 2016, portanto, dentro do que se era possível, estava dando o devido encaminhamento. É uma delegacia com muitos procedimentos — argumentou Jeiselaure, que assumiu a DP em 2020.
A delegada disse que a análise das denúncias permite concluir que os crimes repetem um padrão em todos esses anos.
— O que nós apuramos no contexto desses crimes avaliados é que há um padrão de conduta, inclusive com a repetição de atos que vêm desde muitos anos. Na verdade, notamos justamente isso: atos sequenciais que trazem consequências e abalos às mulheres, algumas que não voltaram a consultas nem com ele nem com médico nenhum — complementou.
A polícia segue recebendo denúncias e, após isso, deve decidir pelo indiciamento do médico. Ainda não há definição em quais crimes ele será enquadrado, já que relatos seguem chegando às equipes. No entanto, a polícia tem até 26 de julho para concluir o inquérito, tendo em vista o prazo de 10 dias para indiciamento após a prisão do investigado, que ocorreu no último dia 16.
Namorada do médico é investigada
Em outra frente, a polícia investiga a namorada de Klaus, Amanda Vasconcellos. Após a revelação do caso, ela postou vídeos nas redes sociais fazendo ameaças contra as pacientes que vêm relatando casos à polícia. Amanda pode responder por coação no curso de processo, calúnia e difamação.
Em um dos vídeos, ela disse que as denúncias seriam armação de ex-funcionários do médico. Afirma que "tudo vai ser esclarecido" e faz ameaças, afirmando, por exemplo, que gostaria de raspar a cabeça de uma das mulheres e fazê-la confessar.
— Tu vai pagar, tu vai se arrepender do que tu fez. Disso tu pode ter certeza. Hoje tu fez, amanhã tu vai receber de volta. Não vai ficar assim — diz ela em uma das imagens.
Os vídeos foram gravados na casa do cirurgião plástico, segundo a delegada Jeiselaure Rocha de Souza, titular da 1ª Delegacia de Polícia Especializada no Atendimento à Mulher da Capital. De acordo com Jeiselaure, após as ameaças, algumas mulheres desistiram de prestar depoimento contra o médico:
— Nós notamos que, de um dia para o outro, a partir da publicação dos vídeos, pelo menos 10 mulheres desistiram de depor.
A delegada ressalta que as mulheres não devem se sentir "coagidas ou ameaçadas" e que procurem a polícia para prestar depoimentos. As ameaças serão investigadas "com muito rigor", completou a Jeiselaure.
A namorada do médico foi ouvida pela polícia na última quinta-feira (15). Um pedido de prisão contra ela foi realizado, mas a Justiça negou.
GZH tenta contato com a namorada do médico, mas não obteve retorno até o momento.
As vítimas
Reportagem do Fantástico, da TV Globo, revelou que entre as vítimas está uma mulher que à época tinha apenas 14 anos.
— Ele botou a minha mão na virilha dele. Ele tava excitado. Eu era uma menina de 14 anos — contou.
Outra disse que foi sedada para uma cirurgia e que quando acordou notou que havia sêmen em seu corpo.
— Quando eu acordei eu estava numa sala de recuperação. E nisso eu fui no banheiro, eu notei que tinha uma secreção estranha em mim. Que não era da urina. O delegado me disse que ele já tinha outros tipos de ocorrência desse gênero, e que provavelmente ele tinha feito uma coisa mesmo — narrou.
Posição da defesa
O advogado de Klaus, Gustavo Nagelstein, afirmou que o seu cliente se declara inocente dos fatos. Ele também diz estranhar o alto número de vítimas, uma vez que diz ter tido o conhecimento de somente "cinco ou seis inquéritos" quando seu cliente prestou depoimento.
— Com certeza é inocente, ele se diz totalmente inocente. Nosso papel é assegurar a defesa dele. O problema é que ele já foi julgado pela opinião pública, mídia, redes sociais. Estamos remontando à idade média — argumentou o advogado.
Ainda segundo Nagelstein, sobre os casos antigos, não cabem discussão neste momento.
— Me parece que se isso não virou processo judicial ou se ele foi absolvido, não cabe agora falar — concluiu.
Como fazer denúncias
A Delegacia de Polícia Especializada no Atendimento à Mulher da Capital pode ser contatada pelos telefones (51) 98402-2495/98682-9585 ou pelo WhatsApp da Polícia Civil: (51) 98444-0606.