Uma operação mobiliza autoridades em busca do menino de sete anos que a própria mãe confessou à Polícia Civil ter atirado no Rio Tramandaí, em Imbé, no Litoral Norte. Nesta sexta-feira (30), 14 bombeiros faziam a procura, que será suspensa até este sábado (31) de manhã.
Quatro embarcações são usadas: duas lanchas, um bote motorizado e um jet-ski. Além disso, um helicóptero da Polícia Civil auxilia, estendendo a área de visualização e podendo dar agilidade caso algo seja encontrado em outra praia, já que o rio é conectado ao mar.
Os bombeiros lutam contra o frio. O ecobatímetro com o qual o bote é equipado marcava temperatura de 5ºC na água do Tramandaí, que tem profundidade de cerca de cinco metros no ponto mais fundo. Para amenizar o impacto, os bombeiros usam roupas de neoprene, mas ainda assim está difícil.
— Um gelo — resume um deles, que arrumava o bote para entrar na água.
No início da tarde, os agentes se concentravam em procurar o menino perto das margens do rio, compostas de galhos e lodo. Para isso, de mãos dadas e em trio, caminhavam próximo das pedras. A iniciativa não surtiu resultado.
Simultaneamente, barcos ampliavam as buscas na área mais profunda. A correnteza era considerada fraca nesta tarde, cerca de 8 km/h, mas esteve mais forte nos últimos dias, o que pode ter feito o deslocamento do corpo.
O intervalo entre o momento em que o menino foi jogado no rio, na noite de quarta-feira (28), e o aviso dos bombeiros, na noite seguinte, também pode dificultar o trabalho.
— Foi um intervalo de 20 horas. A chegada da informação atrasou as buscas. Caso soubéssemos de imediato, essa história já estaria encerrada — declara o tenente Elísio Lucrécio, comandante dos bombeiros em Tramandaí e responsável pelas buscas.
Também aumenta o desafio a condição do mar, que está de ressaca durante toda a semana, aumentando a quantidade de água no rio e a sua profundidade.
A concentração das buscas ocorre próximo da barra de Imbé, às margens da Avenida Rio Grande. Desse ponto é possível visualizar a ponte que liga Imbé a Tramandaí. Durante a tarde, curiosos se aglomeravam para olhar o trabalho, incluindo algumas crianças.
A partir de sábado (31), quatro mergulhadores da Companhia Estadual de Busca e Salvamento (CEBS) auxiliarão no trabalho para poder se aproximar do fundo do rio. Uma embarcação da Marinha do Brasil também deve reforçar a operação.
Além do frio, os agentes sentem o impacto do crime: a maioria é pai ou mãe e está abalada com o relato, mas promete não esmorecer.
— A gente não para, a gente tem que achar esse corpo, a gente vai achar — garante o comandante, antes de embargar a voz. – A gente, que é pai, sente, se emociona.
O crime
A Polícia Civil prendeu em flagrante, por homicídio, uma mulher de 26 anos que confessou ter matado o filho de sete anos em Imbé, no Litoral Norte. Ela procurou a delegacia para registrar o desaparecimento do menino, mas acabou relatando ter dopado a criança e arremessado a criança no Rio Tramandaí.
Conforme o delegado Antônio Carlos Ractz, a mulher detalhou como teria ocorrido o crime. A mãe contou ter dopado a criança com fluoxetina e depois colocado o menino em uma mala, na madrugada de quinta. Em seguida, teria saído com a companheira da casa onde moravam, na área central de Imbé.
— Era uma mala de rodinhas. Ela saiu puxando e foi até o Rio Tramandaí, onde diz que retirou o corpo do menino e jogou na água. Ela não sabe se ele estava morto quando jogou. Nesse tempo todo de polícia, é uma das coisas mais horrendas que já vi — afirmou o delegado.
Embora tenha ouvido a mãe e a companheira, o policial optou no momento por autuar somente o flagrante da mãe. Isso porque percebeu indícios de que a companheira sofre de problemas mentais — a responsabilidade dela será apurada ao longo da investigação.
No depoimento, a mãe alegou que o menino era teimoso e que se negava a comer. Segundo o delegado, ela mesma relatou torturas físicas e psicológicas que eram impostas à criança.
O advogado da mãe, Bruno Vasconcelos, disse que iria se manifestar somente nos autos. Ainda assim, adiantou que a defesa reforçará que ela não matou a criança e, sim, que jogou o menino no rio em um ato de desespero após a criança morrer por causas ainda não informadas.