Marco Gilberto Müller Becker Filho, preso por lesar cerca de 80 pecuaristas em todo o Estado com prejuízo de mais de R$ 30 milhões, prestou depoimento na terça-feira (29), no Presídio Estadual de Caçapava do Sul, onde está preso há uma semana. Conforme o delegado Antônio Firmino de Freitas Neto, o investigado disse que o esquema envolvia outras pessoas no processo de compra, venda e entrega do gado. No grupo, participariam, segundo Filho, servidores públicos.
O delegado afirmou que, para não atrapalhar as investigações, não pode informar em quais órgãos os servidores trabalham. Caso as suspeitas se confirmem, poderá se configurar, além do crime de estelionato, organização criminosa.
Becker Filho disse ainda que teria sido vítima dos intermediários que trabalhavam com ele. Ele conta que, em algumas ocasiões, entregavam bois mais velhos, que valem menos que os terneiros. Relata ainda que os animais eram entregues com peso menor do que o pago.
— O boi de soberano vale muito menos que um terneiro. Ele (Becker Filho) também era enganado na pesagem. Entre outras coisas, também vimos na investigação que tinha gado que pela nota deveria ir para um local, e no meio do caminho era desviado para outro. Ele (Becker Filho) disse que não sabia. Possivelmente as pessoas que trabalhavam com ele e para ele, contribuíam para esse crime. Inclusive, investigamos a participação de entidades públicas no crime também, que teriam facilitado essa ação. Mas, precisamos ter muita cautela, não posso falar mais para não atrapalhar as investigações — explica Firmino.
Por esses motivos, Becker Filho alegou ter tido prejuízos que o impossibilitaram de pagar as dívidas. O preso ainda relatou que tentou fazer empréstimos para quitar as contas, mas acabou sendo preso na terça-feira da semana passada (22).
GZH fez contato com a advogada do investigado, Ana Elisa Teleska, por ligação e também por mensagem, mas ela não respondeu. Há dois inquéritos em andamento investigando o suspeito, que está preso preventivamente. Um deles na delegacia da Polícia Civil em Formigueiro, onde está a maioria das vítimas e onde Becker reside. Outro inquérito está sob o comando do delegado André Mendes, da Delegacia de Polícia Especializada na Repressão aos Crimes Rurais e Abigeato (Decrab), com sede em Bagé, já que muitos outros produtores da fronteira também foram lesados.
Firmino tem 30 dias a contar da prisão para a conclusão do inquérito, já Mendes precisaria encerrar o procedimento na sexta-feira, porque a prisão de Becker foi decretada pela Justiça de Bagé. No entanto, em ambos os casos, deve haver o pedido de prorrogação dos prazos.