Desde que Valdir Saggin, 55 anos, conhecido como Dico, recebeu a progressão para o regime semiaberto, em setembro do ano passado, as polícias da Região Sul estavam atentas para uma possível fuga. E com razão. Com ficha que soma 96 anos de pena, o catarinense, um ex-policial militar condenado pela execução de dois agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), por roubos, extorsões e sequestro, entre outros crimes, já esteve entre os mais procurados em Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Nesta semana, o foragido voltou outra vez para a prisão, após ser recapturado pela Brigada Militar na zona norte de Porto Alegre.
Em dezembro, quando Saggin teve mandado de prisão expedido pela Justiça, por não ter mais se apresentado na casa prisional onde cumpria pena em Porto Alegre, as polícias passaram a se mobilizar para tentar localizar seu paradeiro. No fim da tarde da última terça-feira, foi preso no bairro Rubem Berta. Segundo o tenente-coronel Rogério Stumpf Pereira Junior, responsável pelo Comando de Policiamento da Capital (CPC), a prisão aconteceu a partir de informações obtidas por meio da Operação Angico – ofensiva criada pela BM para combater ataques a bancos no Estado.
— Dentro do programa do RS Seguro, no eixo de combate ao crime, fazemos esse levantamento, por meio da área de inteligência, dos movimentos de grupos vinculados a crimes violentos, como os assaltos a bancos. Recebemos aqui no CPC a informação de uma situação que poderia vir a acontecer. E que um dos alvos desse monitoramento da Operação Angico estaria em Porto Alegre, nessa região do 20º(Batalhão de Polícia Militar). Fizemos levantamento com área de inteligência, coletamos dados, informações e conseguimos localizar o foragido — afirmou o oficial.
Para a prisão, segundo a BM, foram mobilizados os policiais do 20º BPM, que localizaram o foragido em uma casa no Beco do Paulino. Além dele, também foi preso um casal, e um veículo roubado foi apreendido — um Fiat Uno Way vermelho, que havia sido levado em 31 de dezembro no bairro Lami, no extremo sul de Porto Alegre. No momento da prisão, nenhum dos três reagiu à abordagem.
— Empregamos as tropas de policiamento reforçado, a força tática do 20º BPM. Ele não teve chance de reação. Conseguimos localizar ele e mais duas pessoas. Era ele o foco da ação — disse o tenente-coronel Stumpf.
Conforme o comandante do CPC, a informação que a inteligência da BM apurou é de que o foragido estaria envolvido no planejamento de um ataque a banco no município de Guaporé, com uso de explosivos. No município da Serra foi preso outro foragido, que, segundo a BM, estaria envolvido na mesma ação. Sem fornecer maiores detalhes, o delegado Thiago Zaidan, interino na Delegacia de Polícia de Guaporé, disse que as capturas se deram por meio da troca de informações entre as instituições e que o caso é investigado.
Sequestros
Apesar de ser natural de Catanduvas, em Santa Catarina, Saggin possui boa parte do histórico no Rio Grande do Sul. Em dezembro de 2016, já havia sido preso em Sapucaia do Sul pela equipe da Delegacia de Repressão a Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), durante investigação por crime de roubo e extorsão no município de Taquara, no Vale do Paranhana. Ele era apontado como chefe de uma quadrilha especializada em sequestros.
Em julho daquele ano, um empresário de 68 anos foi sequestrado por criminosos e mantido em cativeiro na área rural de Nova Hartz, no Vale do Sinos, por três dias. A família foi obrigada a pagar o resgate para que ele fosse libertado. A operação do Deic, em outubro de 2016, desarticulou a ação do bando. Saggin e outros réus respondem a processo por este caso. Ele chegou a ser indiciado também por outro sequestro no Vale do Sinos, mas acabou absolvido pelo crime em 2018.
Titular da Delegacia de Repressão a Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), o delegado João Paulo de Abreu afirma que a polícia estava atenta ao fato do preso ter se tornado foragido — desde antes disso já havia receio de que ele pudesse escapar, ao progredir para o regime semiaberto. Mas, conforme o policial, apesar do histórico de periculosidade do criminoso, até o momento não havia investigação aberta que relacionasse o foragido a ataques a bancos.
— Não havia nenhuma investigação que desse conta de que ele estaria passando a se vincular a crimes contra instituições bancárias, ou com uso de explosivos, visando a subtração de valores, não se tinha. É uma informação que vai ser apurada — afirma o delegado.
Histórico
Um dos principais crimes que pesa contra o ex-PM — que foi expulso da corporação em Santa Catarina ainda nos anos 1990 — aconteceu há quase duas décadas também no Estado vizinho. Os agentes da PRF Rodrigo Zonta de Oliveira e Airton Machado Borges foram mortos a tiros em Joinville, no dia 13 de abril de 2001, após abordarem o veículo que Saggin estava com um comparsa. Os dois acabaram presos pela Polícia Federal um mês depois, no Paraná.
Em abril de 2003, o caso levou o criminoso protagonizar o primeiro júri popular da Justiça Federal de Joinville. Sob forte escolta, o ex-PM ingressou no Fórum, onde, em depoimento, confirmou que usou uma escopeta dos próprios policiais para cometer o crime. Saiu de lá condenado a 41 anos e oito meses de prisão — essa foi a maior condenação recebida por ele.
Saggin acumula 96 anos, nove meses e 25 dias de pena – desses foram cumpridos 30 anos, cinco meses e 20 dias, restando 66 anos, dois meses e 15 dias a cumprir. O criminoso possui condenação por dois episódios de porte de arma, um deles em maio de 2015 em Sapucaia do Sul, três casos de roubos e extorsão registrados em Santa Catarina e no Paraná nos anos de 1990, 1997 e 2002, um caso de sequestro e cárcere privado, em janeiro de 2002 em Curitiba, no Paraná, e um estelionato, em 1990.
Segundo a Susepe, Saggin progrediu do regime fechado para o regime semiaberto, em setembro, e foi transferido para o Instituo Penal Irmão Miguel Dario, em Porto Alegre. Vinte dias depois, em 30 de setembro, ele não compareceu à conferência de presos realizada diariamente. A Susepe diz que no mesmo dia foi gerado ofício de captura.
Após a prisão desta terça-feira, Saggin retornou para o regime fechado e, segundo a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), foi encaminhado para a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc)
Contraponto
GZH procurou a Defensoria Pública, responsável pela defesa de Saggin, que se manifestou por meio de uma nota. Confira:
“A Defensoria Pública informa que atua na defesa do réu Valdir Saggin. Em agosto de 2020 (segundo a Susepe, ele progrediu em 10 de setembro), ele obteve progressão de regime, do fechado para o semiaberto. Com a confirmação da nova prisão, a instituição informa que, por dever constitucional, segue acompanhando o apenado, visando garantir os direitos da ampla defesa e do contraditório”.