A prisão de um dos envolvidos no triplo homicídio que chocou Passo Fundo, no norte do Estado, em maio deste ano, foi marcada por policiais recebidos a tiro, negociação em meio à tensão e ameaças. O suspeito detido na segunda-feira (28) é o ex-policial militar Luciano Costa dos Santos, 49 anos, que estava foragido desde julho. Santos é apontado como o responsável por recrutar e contratar os dois homens que mataram Diênifer Padia, 26 anos, seu cunhado Alessandro dos Santos, 34, e a sobrinha Kétlyn Padia dos Santos, 15.
O ex-PM estava escondido em um apartamento, no 10ª andar de um prédio localizado no bairro São Cristóvão, também em Passo Fundo, junto da esposa e da filha. Cerca de oito agentes participaram da ação de captura. Após arrombar a porta do imóvel, os policiais foram recebidos com disparo de arma de fogo.
Ao verificar que a mulher e a filha do foragido estavam dentro da residência, os agentes deram início à negociação para a rendição do homem, que se entrincheirou no local. Após a liberação das familiares, as tratativas duraram cerca de três horas, marcadas por momentos de tensão, segundo o delegado Diogo Ferreira, da Delegacia de Repressão de Ações Criminosas Organizadas (Draco) do município, à frente ação.
— Tiveram diversos momentos tensos. Tiveram alguns momentos em que ele estava com a arma em punho e apontada para nós, mas depois os ânimos foram se acalmando e conseguimos resolver e contornar toda essa situação — explicou Ferreira.
Enquanto resistia à ação da polícia, Santos também portava um artefato explosivo de fabricação caseira. Além desse material, uma carabina, um rifle, armas brancas e munição foram apreendidos no local.
O delegado destaca que a polícia vinha monitorando a volta do foragido ao município há cerca de três semanas. Com base no trabalho de inteligência, foi decidido que o melhor dia para efetuar a prisão seria na última segunda-feira. O ex-PM já havia sido preso em 19 de junho, mas acabou colocado em liberdade poucos dias depois. Com o avanço do inquérito, novo mandado de prisão foi expedido contra ele.
Duas pessoas seguem foragidas
Com a prisão de Santos, duas pessoas suspeitas de envolvimento no crime estão presas. Eleandro Roso está detido desde junho. Inquérito da Polícia Civil aponta que Roso, que teve um relacionamento extraconjugal e uma filha com Diênifer, seria o mandante do crime.
Outras duas pessoas seguem foragidas. Uma delas é a esposa de Roso, Fernanda Rizzotto, 41 anos, e a outra é Claudiomir Rizzotto, 52, irmão de Fernanda. Segundo a apuração policial, Fernanda pediu a Rizzotto para que encontrasse alguém que tirasse a vida de Diênifer.
Rizzotto contatou o ex-PM Luciano Costa dos Santos e, segundo a investigação, fez a encomenda do crime. No passado, Santos e Rizzotto trabalharam juntos em um posto de combustíveis em Passo Fundo.
A delegada Daniela Minetto, responsável pelo inquérito, afirma que a polícia não conseguiu identificar os dois indivíduos recrutados por Santos e responsáveis por matar os três integrantes da mesma família.
— Os executores, infelizmente, não conseguimos chegar na identificação deles e, em princípio, a gente tem as investigações de forma esgotadas. Só se houver um dado novo para que a gente consiga reabrir o caso nesse sentido — informou a delegada.
O caso
Diênifer Padia, 26 anos, o cunhado Alessandro dos Santos, 34, e a sobrinha dela Kétlyn Padia dos Santos, 15, foram asfixiados e amarrados dentro de casa na noite de 19 de maio. A investigação revelou que o alvo do assassinato era Diênifer e que Alessandro e Kétlyn foram mortos pois estavam na cena do crime.
A Polícia Civil apontou no inquérito que Diênifer foi vítima de feminicídio, provocado por uma traição. Eleandro Roso é dono de uma propriedade de suinocultura em Casca, onde Diênifer trabalhou por três anos. Além de ex-chefe da vítima, é também pai da sua filha mais nova. Roso e Diênifer tiveram um relacionamento extraconjugal que só veio à tona após o nascimento da criança. Essa relação teria desencadeado o plano para acabar com a vida da jovem de 26 anos.
Além de Roso, Fernanda, Rizzoto e Santos, a esposa do policial militar, Monalisa Kich Anunciação, também foi indiciada. Ela teria feito o levantamento do local do crime antes dos assassinatos.
Os cinco são réus no processo, após a Justiça aceitar a denúncia do Ministério Público. Segundo o promotor Cristiano Ledur, já aconteceram duas audiências de instrução em novembro e dezembro, nas quais testemunhas foram ouvidas. A fase de instrução ainda não terminou, já que precisam depor ainda duas pessoas apontadas pela acusação e as da defesa.
Contrapontos
Representante legal de Luciano Costa dos Santos, o advogado Flavio Algarve afirmou que o cliente "desde o início nega as acusações feitas e agora terá oportunidade, na próxima audiência, de prestar os esclarecimentos a respeito do fato".
"Está ocorrendo um equívoco em algumas informações divulgadas, Luciano não está sendo acusado de ter praticado os homicídios, mas sim de ter intermediado a ação, contratando os autores, que até hoje não foram identificados. Na prática responde como se tivesse sido ele quem cometeu o assassinato, mas esse esclarecimento precisa ser feito", diz trecho da nota repassada pelo defensor.
Algarve, que também representa Monalisa, afirma que sua cliente nega a imputação de ter feito o reconhecimento do local do crime.
Advogado de Eleandro Roso, Rodrigo Salomão afirma que a defesa não tem nenhuma manifestação a fazer sobre o processo a não ser a de que seu cliente é inocente.
Em depoimento à polícia no início do inquérito, Fernanda Rizzotto, negou participação no crime. Ela e o irmão Claudiomir Rizzotto seguem foragidos.