O policial militar temporário Giovane Gaspar da Silva, que participou das agressões que levaram à morte o autônomo João Alberto Silveira Freitas, era funcionário da empresa Vector, que prestava serviços para o setor de “prevenção e perdas” no Carrefour do Passo D’Areia.
GZH confirmou que, ao contrário do que outros funcionários contaram em depoimento à polícia depois do crime, afirmando que Giovane era um cliente que estava fazendo compras no local, o policial trabalhava, sim, no supermercado.
Por meio de nota oficial emitida na sexta-feira, o Grupo Vector, que tem sede em São Paulo e filial em Canoas, explicou que “a empresa não atuava na área de vigilância do supermercado, mas, sim, na fiscalização de prevenção e perdas”. Também informou que “rescindiu por justa causa os contratos de trabalho dos colaboradores envolvidos na ocorrência”.
A reportagem questionou os nomes desses colaboradores e recebeu como resposta que eram Giovane e o Magno Braz Borges. Sobre a função que desempenhavam, a assessoria de comunicação da Vector esclareceu que eles “tinham a função de fiscal de piso, qualquer anormalidade deveria ser reportada para a segurança do estabelecimento e que, por isso, não tinham a necessidade do registro de vigilante”.
Com base nisso, o advogado do policial temporário, David Leal, disse que a quinta-feira (19) era o primeiro dia de trabalho de Giovane no local e que faltava apenas uma hora para sair do serviço quando o fato aconteceu.
— Não entrei em detalhes da relação dele com essa empresa. O que ele me disse é que um colega havia convidado ele para trabalhar lá e aquele era o primeiro dia. Ele nem pretendia continuar, pois ele e a esposa estavam se dedicando a estudar para o concurso da Polícia Rodoviária Federal. É um rapaz de 24 anos, sem qualquer problema policial na ficha — contou o advogado.
Para a Polícia Civil, Giovane atuava, sim, como segurança. O que se viu nas imagens feitas por testemunhas e captadas pelas câmeras do supermercado indica que Giovane e Magno agiram sem acionar colegas que seriam do citado setor de segurança. Eles próprios retiram a vítima do interior do Carrefour e a agridem no estacionamento. Depois de alguns minutos, surgem na cena outros homens com crachás, que seriam, portanto, funcionários do supermercado.
Uma situação que chama atenção é o fato de as duas funcionárias que prestaram depoimento no flagrante feito pela Polícia Civil terem registrado em suas falas que o policial era um “cliente”.
Adriana Alves Dutra, agente de fiscalização do Carrefour, disse que “estava no setor de bazar quando foi chamada para atender a situação de um cliente que estaria em atrito com outra funcionária. Relatou que, ao chegar ao local, um cliente que trajava roupa preta, que soube ser policial militar, estava apaziguando a situação e já conversava com a vítima na intenção de acompanhá-la com o fiscal de piso Magno até a saída".
Adriana é a mulher de branco que aparece em imagens tentando impedir que testemunhas gravem as agressões e que diz para a mulher da vítima: “A gente só quer imobilizar ele. Se a senhora conseguir acalmar ele, eu tiro todo mundo de cima dele”. Adriana é investigada pela polícia por participação no crime.
Outra funcionária terceirizada que depôs, Jéssica Saldanha dos Santos relatou que “um outro rapaz, não sabe dizer o nome, que conheceu na data de hoje, fez um gesto para apaziguar a situação e acompanhar o cliente junto com Magno à saída. Que esse rapaz estava trajando uma roupa preta, mas não trabalha como segurança no Carrefour”.