Uma digital encontrada pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) em um caminhão furtado foi decisiva para a Polícia Civil prender cinco homens apontados em investigações como membros de uma quadrilha especializada em furtos de veículos novos em concessionárias no Rio Grande do Sul. O mesmo grupo é suspeito de agir em sete municípios: Bento Gonçalves, Dois Irmãos, Portão, Porto Alegre, Restinga Seca, Santa Cruz do Sul e Santa Maria. Além disso, também há indícios contra a mesma organização no furto de automóveis Audi em Criciúma, Santa Catarina.
O quebra-cabeças começou a ser montado a partir do furto mais recente cometido pelo bando. Na madrugada de 16 de julho, uma concessionária de caminhões às margens da RS-240, em Portão, foi atacada. Em silêncio e sem violência, criminosos levaram três caminhões da marca DAF. Os veículos eram zero-quilômetro, não estavam emplacados e não tinham seguro. Segundo a polícia, são avaliados em R$ 1,2 milhão.
Trinta horas depois, por meio da análise de câmeras de segurança da concessionária e de ruas próximas, a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de São Leopoldo localizou o galpão onde os veículos haviam sido deixados, no bairro Industrial, em Novo Hamburgo. Foi aí que entrou em atuação a perícia papiloscópica.
— Deparamos com o caminhão e começamos a buscar material biológico. Fizemos a coleta no volante e em outros pontos que não podemos revelar. Aplicamos um pó de revelação na superfície dos pontos suspeitos e, depois, preservamos em uma fita adesiva o resultado do material revelado. Isso foi levado para um banco de digitais para a comparação com as armazenadas, até que chegamos ao nome desse homem — detalhou o papiloscopista envolvido no trabalho, que prefere não ter o nome publicado por questões de segurança.
A digital encontrada era do homem apontado como o líder da quadrilha, responsável pelo planejamento dos crimes. A partir do nome dele e da prisão em flagrante de um outro investigado, a Polícia Civil passou a monitorar os contatos. Chegou a outras cinco pessoas que seriam envolvidas nos mesmos fatos e pediu a prisão de todas. O Judiciário expediu todas as ordens de forma temporária.
Na terça-feira (20), a operação Heavy Duty foi às ruas para cumprir os mandados. Os cinco homens presos foram encontrados em diferentes endereços de São Leopoldo. Entre eles, está o líder da quadrilha. Na casa, foram encontrados R$ 8,7 mil em notas de R$ 2, R$ 5 e R$ 10. Para a polícia, as cédulas de valores pequenos são provavelmente usadas dessa forma para não atrair a atenção durante compras e distribuição de valores.
— É um grupo criminoso altamente especializado. Eles agem sempre com expertise, com bastante preparação, antecedência. No caso de Portão, passaram um mês inteiro preparando o evento. Esses mesmos indivíduos estão envolvidos em crimes em quase todo o Estado. Essas cidades citadas são somente onde há investigações, mas suspeitamos existir muitas outras — explicou o delegado Ayrton Figueiredo Martins Júnior, da Draco de São Leopoldo.
De acordo com o policial, o grupo chegou a constituir uma empresa falsa somente para locar o galpão onde foram deixados os caminhões roubados em Portão.
Os dados da investigação estão sendo repassados para as delegacias das outras cidades gaúchas e a de Criciúma.
A Draco de Santa Cruz do Sul, que realizou a operação em conjunto com a unidade de São Leopoldo e investigava dois furtos ocorridos em agosto, também obteve e cumpriu mandados de prisão preventiva contra dois dos homens presos em São Leopoldo. Eles foram levados até a cidade do Vale do Rio Pardo para que sejam submetidos ao reconhecimento de vítimas de um furto ocorrido naquela cidade.
— Nos casos daqui, o indivíduo entrava na concessionária, bem vestido, fingindo estar falando ao celular. Circulava pelo pátio, monitorando os funcionários e veículos, até que, em dado momento, entrava em um veículo e saia — explicou o delegado da Draco de Santa Cruz, Marcelo Chiara.
Os nomes dos presos não foram revelados pela polícia devido a maioria das prisões serem temporárias e o inquérito ainda não ter sido remetido ao Judiciário.