Os sequestradores pediram R$ 2 milhões para libertar a médica Tamires Regina Gemelli da Silva Mignoni, 30 anos, sequestrada na manhã da última sexta-feira (16) em Erechim, no norte do Rio Grande do Sul, e libertada por policiais civis cerca de 128 horas depois, na noite desta quarta-feira (21), na cidade de Cantagalo, no Paraná.
O pagamento do resgate não foi efetuado. A polícia encontrou o cativeiro em que a médica era feita refém e prendeu três pessoas — dois homens e uma mulher.
Segundo o delegado Sander Cajal, diretor do Departamento Especial de Investigações Criminais (Deic) do RS, em nenhum momento os sequestradores aceitaram baixar o valor pedido.
A ação policial — coordenada pelo delegado João Paulo de Abreu, titular da Delegacia de Roubos do Deic — começou logo após a médica ter sido abordada por um casal ao sair de uma unidade de saúde em Erechim, às 11h20min de sexta-feira, e seguiu até o momento em que o cativeiro foi estourado pelos agentes gaúchos, por volta das 19h de quarta.
O local fica a 400 quilômetros de distância de Erechim e a cerca de 35 quilômetros da cidade de Laranjeiras do Sul (PR), onde o pai de Tamires é prefeito. No cativeiro, a vítima não foi amarrada ou amordaçada e, apesar do temor, não foi maltratada.
Cajal diz que foi o sequestro mais longo desde que começou a atuar no Deic, em 2016.
— A integração começou com policiais de Erechim, depois de Santa Catarina e do Paraná, mas teve muito mais, como o trabalho de inteligência. Eles (os criminosos) sabiam muito bem o que estavam fazendo, eram organizados — diz.
Logo após o sequestro
Após ser abordada pelo casal e colocada em um carro, Tamires foi levada para Itá, em Santa Catarina, onde uma casa foi alugada para que o grupo pernoitasse. Depois, um carro foi alugado, e o trio seguiu para Chapecó. De lá, foram para Cantagalo, onde ficava o cativeiro, em uma casa em uma região de classe média.
Segundo Cajal, o primeiro contato com a família foi ainda na sexta-feira, avisando que a médica havia sido sequestrada e que o resgate pedido era de R$ 2 milhões. Os criminosos sempre ligaram para o pai de Tamires.
O segundo contato foi só na terça-feira, mas a polícia já tinha informações de que os sequestradores estavam no Paraná, até porque a família da vítima é daquele Estado. A chamada "prova de vida" ocorreu na quarta, quando a médica falou com o pai e disse que estava bem, sendo alimentada e bem tratada.
No total, 27 policiais gaúchos participaram da operação de resgate, além de agentes de Santa Catarina e do Paraná. Também houve apoio das polícias Militar e Rodoviária da região.
Do grupo de gaúchos, 15 foram para Cantagalo, e os demais seguiram no Rio Grande do Sul fazendo análises e levantamentos. Além da integração, o delegado Cajal destaca o trabalho de apuração e inteligência, como monitoramento e mapeamentos. Segundo ele, foi possível, já nos primeiros dias, rastrear os suspeitos e seguir seus passos.
Cativeiro estourado
Após o trabalho de análise e inteligência, começou a ação policial de forma direta. Na cidade de Cantagalo, com cerca de 13 mil habitantes, foi preso o primeiro suspeito, um taxista que, segundo a investigação, ajudou nos contatos e na logística do cativeiro.
Os detalhes das prisões serão divulgados a partir de sexta-feira (23), quando a equipe do Deic retornar ao Rio Grande do Sul.
Oito possíveis locais de cativeiro foram levantados e monitorados pelos policiais dos dois Estados. A Justiça concedeu mandados de busca rapidamente, e a equipe da Delegacia de Roubos foi em um desses pontos e conseguiu libertar a médica.
Tamires estava sendo vigiada por uma mulher, uma dona de casa que receberia R$ 5 mil pela ação criminosa. Ela, inclusive, estava junto com outro comparsa no momento do sequestro em Erechim. O homem foi preso logo na sequência. Ele é vigilante do Banco do Brasil em Laranjeiras do Sul e havia pedido licença médica, na semana passada, devido a dores nas costas. Um quarto suspeito já foi identificado, mas ainda não localizado.
Todos os quatro investigados são de Laranjeiras do Sul. Apesar disso, a chefe de Polícia do Rio Grande do Sul, delegada Nadine Anflor, diz que, em princípio, não há indícios de questões políticas ou de envolvimento de familiares no crime.
— A cidade (Laranjeiras do Sul) é pequena e com certeza todos se conhecem. Não descartamos cunho político, por isso a investigação continua, mas, no momento, acreditamos que a motivação foi financeira mesmo — explica.
O vigilante preso foi, no passado, filiado a partido político, mas por enquanto, a polícia trabalha com a hipótese de que os sequestradores queriam apenas os R$ 2 milhões. A médica está bem e segue com a família no Paraná.