Três meses após um crime que chocou o município de Araricá, no Vale do Sinos, o caso segue sem desfecho. Na noite de 4 de junho, a blogueira Karuel Barbosa, 24 anos, jogava videogame com o namorado, Adair Silva, 31 anos, na sala do apartamento dele, quando criminosos invadiram o local. Foram disparados cerca de 80 tiros — usando armas de calibre pesado, inclusive fuzil.
Diante desta execução brutal, a polícia ainda não conseguiu avançar na investigação para apontar quem está por trás dela. A suspeita é de que o caso esteja vinculado ao tráfico de drogas.
Na residência onde a jovem vivia, em Campo Bom, a cerca de 20 quilômetros de onde foi morta, Isabel Felix, 42 anos, e Vilson Barbosa, 57 anos, mantêm o quarto da filha intacto: as paredes que ela pintou de lilás, a cama de solteiro cheia de bichos de pelúcia, o quadro na parede com o diploma do curso de maquiagem e as fotos dela adolescente e com o namorado.
Foi dali que ela saiu, já de pijama, na noite de 4 de junho para ir à casa do namorado no município vizinho. Quando receberam a notícia sobre o ataque a tiros no apartamento de Adair, os pais acreditavam que a filha estivesse dormindo no quarto dela. A jovem havia enviado uma mensagem para o celular da mãe, avisando que retornaria na manhã seguinte.
— Está complicado, difícil. O quarto dela está do jeitinho que ela deixou. A mãe dela chora dia e noite, não dorme. A gente sabe que isso vai ser para toda a vida. Essa dor, essa falta. A lembrança dela sempre vem, mas às vezes é pior — desabafa Vilson.
Na próxima quarta-feira, dia 9 de setembro, Karuel completaria 25 anos. E os pais já preveem que será uma data ainda mais difícil de ser enfrentada.
A jovem era alegre, gostava de paparicar a família, dava presentes para a mãe, que costumava acompanhá-la nos trabalhos como modelo e influencer digital. As duas viviam juntas, muito apegadas. A filha chegou a tatuar no braço a frase "Eu sou parte da sua vida e você é toda minha história", em homenagem à mãe.
Para tentar minimizar o sofrimento, Isabel passa por tratamento psiquiátrico e psicológico. Também ingressou em um grupo de Campo Bom para mães que tiveram perdas. Todas as quintas-feiras, no início da noite, participa dos encontros. A família acredita que ter uma resposta sobre o que motivou o crime poderá ajudar a enfrentar o luto.
— Vamos toda a semana na delegacia. A gente confia no que eles estão fazendo, mas ainda não temos resposta nenhuma. É muito complicado. Meu medo é que fique assim, sem solução. Quero saber o porquê, quem foi. Precisamos saber. Ter alguma resposta vai nos ajudar bastante — afirma o pai.
Responsável pela investigação, o delegado Fernando Pires Branco afirma que todas as medidas possíveis para o caso foram tomadas, mas, até o momento, sem desfecho. O policial evita divulgar detalhes do que foi feito ao longo da apuração, mas afirma que o tema foi tratado como prioridade e que não há perícias pendentes.
— Não deixaria um caso dessa envergadura sem adotar as medidas cabíveis. Não posso detalhar esse tipo de informação, que pode prejudicar o caso. De todas as diligências que fizemos até agora, nenhuma nos levou à autoria dos fatos. Seguimos trabalhando no caso — disse.
Ainda conforme o policial, a principal linha apurada segue sendo de que o crime tenha vinculação com o tráfico de drogas. O alvo seria Adair, mas a jovem acabou sendo morta porque estava no local.
— Tudo indica que se trata de execução por conta disso, do tráfico de drogas — disse.
Influencer digital
Karuel atuava como influenciar digital em Campo Bom, município onde morava. Divulgava, nas suas redes sociais, produtos como roupas, maquiagens, itens de beleza, entre outros.
Semanas antes do crime, havia alcançado os 70 mil seguidores — atualmente, a página no Instagram, mesmo sem atualizações, possui 98,9 mil. Além do universo digital, a jovem também trabalhava como maquiadora e garçonete em um restaurante.
O casal se conheceu em uma festa há cerca de três anos. Adair residia em Araricá, município de 5 mil habitantes a cerca de 20 minutos de carro de Campo Bom. A jovem costumava ir visitá-lo, mas como trabalhava, não permanecia muito tempo. A família relata que Karuel afirmava que o namorado dizia trabalhar com criptomoedas.
Na noite do crime, ela havia chegado há pouco tempo na casa do namorado, quando quatro homens armados com pistolas, espingarda e fuzil invadiram o imóvel. Após uma conversa de cerca de um minuto, os dois foram executados.