Um assumido ex-agente da repressão que integrava a Operação Condor (colaboração entre as ditaduras militares sul-americanas) foi preso em uma ação organizada pelo setor de inteligência da Brigada Militar (BM) em Viamão, na Região Metropolitana, na tarde desta sexta-feira (4). O uruguaio Mário Ronald Neira Barreiro foi encontrado em um sítio, onde apresentou documentos falsos.
Barreiro possuía um mandado de prisão em aberto por uma condenação do Tribunal de Justiça, em março de 2019, devido ao uso de documentos falsos. Ao ser preso em Viamão, no bairro Universal, apresentou uma identidade funcional como se fosse um coronel do Exército Brasileiro, uma Carteira Nacional de Habilitação, uma farda da BM e outros documentos supostamente falsificados.
Um integrante do setor de inteligência da BM, ouvido por GZH, afirma que o monitoramento do criminoso levou dias, já que ele apresenta facilidade em se esconder. Suspeita-se que a experiência adquirida na época em que serviu aos militares uruguaios o deu condições para dificultar a ação dos agentes. A operação contou com apoio da inteligência ligada ao Comando-Geral e ao 18º Batalhão (Viamão).
Essa é pelo menos a quarta vez em que Mário Neira Barreiro é preso. Antes de ser condenado por crimes comuns no Brasil, como roubos, o uruguaio se notabilizou por ter assumido que espionou o ex-presidente brasileiro João Goulart, o Jango, deposto por militares em 1964 e exilado na Argentina. O agente uruguaio e colegas de espionagem declararam que tinham a missão de seguir Jango onde ele fosse (Uruguai ou Argentina).
Ainda em sua última prisão, o colunista de GZH Humberto Trezzi recordou que Neira ganhou fama ao garantir - em entrevistas a vários jornais, inclusive Zero Hora - que Jango foi assassinado, envenenado de forma a simular um ataque cardíaco. O veneno teria sido misturado a pílulas que o ex-presidente tomava para evitar um infarto.
Após a redemocratização, Neira fugiu para o Brasil, temeroso de ser punido por crimes praticados em favor dos militares de seu país. Aqui foi preso pela primeira vez em 1999. Portava radio-comunicadores, coletes à prova de bala e foi condenado por formação de quadrilha e roubo. Ainda preso, pediu no começo dos anos 2000 asilo ao governo brasileiro, sob alegação de ser perseguido político no Uruguai. No país vizinho, ele está condenado por crimes comuns, como assalto a uma financeira.
O laudo da exumação do ex-presidente Jango, apresentado pela Polícia Federal em 2014, foi inconclusivo. Não foram encontradas substâncias tóxicas ou de remédios que pudessem provocar a morte do ex-presidente. O documento, no entanto, não descarta a hipótese de envenenamento porque se passaram 37 anos entre a morte e a exumação. O laudo também não permite afirmar se ele foi vítima de morte natural ou infarto.