A localização de dois corpos na manhã desta quarta-feira (16) no município de Condor, no noroeste do Rio Grande do Sul, confirmou o desfecho trágico de um crime com início horas antes em Júlio de Castilhos, na Região Central. Para a polícia, ao entardecer da terça-feira (15), Everton Luiz Rodrigues, 38 anos, atacou Liana dos Santos Gomes, 35, e o então namorado dela, Andrio Andrade Mazzarro, 29. Após assassinar o técnico agrícola a tiros, Rodrigues teria sequestrado a ex-companheira, que também acabaria morta. Depois disso, conforme a investigação, cometeu suicídio.
A inconformidade com o término de um relacionamento teria sido, mais uma vez, o pano de fundo para mais um feminicídio — morte de mulher em contexto de gênero. Rodrigues e Liana estavam separados desde o fim do ano passado — eles eram pais de uma menina de dois anos. No entanto, o homem não teria se conformado com o rompimento. Por isso, segundo o relato de familiares dela à polícia, teria passado a ameaçar a ex-companheira. Em julho, Liana procurou a Polícia Civil e chegou a obter medida protetiva contra ele.
A ordem judicial não impediu, segundo aponta a apuração do caso, que ele planejasse a execução a mulher e o namorado dela. Pouco antes dos corpos dos dois serem encontrados no Noroeste, os policiais localizaram no quarto da casa de Rodrigues uma carta. No documento, que teria sido endereçada aos pais dele, detalhava o plano de matar o casal, e depois tirar a própria vida.
No fim da tarde de terça-feira, Liana e Mazzarro foram até a propriedade onde residem os avós dela, no interior de Júlio de Castilhos. Os dois tinham ido levar os idosos até a casa deles e, quando deixavam o local, foram surpreendidos por Rodrigues. Quatro disparos teriam atingido Mazzarro, que não resistiu. Na sequência, o atirador teria obrigado a ex a ingressar no carro dele, um Vectra. Nas redes sociais, familiares de Liana começaram a divulgar apelos para que notícias sobre o paradeiro dela fossem repassadas à polícia.
Enquanto isso, a polícia também buscava pelo paradeiro dos dois. Durante a procura, os policiais chegaram a estar próximos do local onde o veículo seria encontrado na manhã de ontem. Por conta da chuva, e como já era noite, não foi possível visualizar o carro. Liana também enviou mensagem a uma amiga, onde informava que estaria próxima de Passo Fundo, no norte do RS. A polícia não sabe se ela foi obrigada pelo ex-companheiro a indicar esse paradeiro.
Durante a manhã de quarta, enquanto ainda eram feitas buscas pelos dois, moradores do interior de Condor, encontraram o Vectra pouco depois das 8h. Os corpos dos dois, com marcas de tiros, estavam dentro do veículo. Liana foi atingida por um disparo na cabeça e Rodrigues por um tiro no peito. A arma estava do lado de fora, a alguns metros do veículo. A polícia acredita que ele possa ter matado a vítima dentro do veículo, atirado nele mesmo do lado de fora e então retornado para o carro.
O Instituto-Geral de Perícias esteve no local ainda durante a manhã. A perícia deverá indicar quando aconteceram as mortes. O ponto onde os corpos foram encontrados a fica a cerca de 125 quilômetros de onde Liana foi levada.
O casal
Mazzarro e Liana eram namorados havia cerca de três meses. Ela era servidora do Instituto Federal Farroupilha (IFFar), onde ocupava a função de assistente em administração desde o ano de 2008. Segundo a instituição, ela chegou a atuar na Reitoria e no Campus Júlio de Castilhos, onde estava atualmente lotada. O instituto decretou três dias de luto oficial e suspendeu as atividades acadêmicas e administrativas.
Na manifestação, o IFFar lamentou a perda e afirmou que repudia com veemência casos de feminicídio e desenvolve ações permanentes de conscientização sobre a igualdade de gênero com a comunidade acadêmica. "Mais do que nunca, precisamos discutir a violência, em todas as suas manifestações, para que esses crimes não se repitam", afirma o comunicado assinado pela reitora Carla Comerlato Jardim e o diretor do Campus de Júlio de Castilhos, Rodrigo Carlotto.
Tradicionalista, Mazzarro atuava como músico e compositor. Ele era técnico agrícola e prestava serviço de assessoria na área. Também trabalhava como representante de produtos agrícolas no município e região. O corpo dele foi sepultado na tarde de ontem no Cemitério Municipal de Júlio de Castilhos.