Um ano após a prisão de Daniel Lopes da Silveira, 39 anos, por suspeita de se passar por policial federal para cometer estelionatos, uma das mulheres que relata ter sido vítima dele diz que busca por justiça — a GaúchaZH o réu alegou ter sido vítima de vingança. Depois de ficar sete meses detido no Presídio Central, em Porto Alegre, ele recebeu o direito de permanecer em liberdade, com uso de tornozeleira eletrônica e responde na Justiça Federal a duas ações penais.
A mulher, que prefere ter a identidade mantida em sigilo, conta ter acumulado dívidas de mais R$ 70 mil, e diz que ainda lida com os problemas financeiros gerados há mais de dois anos, além dos danos psicológicos. Ela relata que ele também afirmava ser policial federal e chegou a morar com ela.
— Os prejuízos que ele causou são enormes. Tudo que tenho conquistei, não tirei de ninguém. As vítimas somos nós. E estamos pagando pelo que ele fez. Ele enganou, mentiu, para se aproveitar das pessoas e precisa pagar. A palavra aqui não é vingança e sim justiça. Só quero justiça e nada mais. Quero que ele devolva tudo que tirou. Que repare os danos psicológicos, sociais, morais e financeiros. A fiança que pagou representa muito pouco do que ele deve às pessoas — afirma.
Ela diz que Daniel chegou a pegar dinheiro emprestado inclusive com familiares dela, que nunca devolveu. Conta também que, após descobrir que havia sido vítima de golpe, precisou passar por tratamento psicológico e que até hoje arca com as dívidas deixadas.
— Nunca imaginei passar por uma situação dessas. Quem vê de fora pode julgar, pensar que nós que caímos no golpe porque queríamos posição social. Mas não foi isso. Fui iludida, enganada, por uma pessoa que se passou pelo que não era. Jamais precisei casar com um policial federal por interesse. Sempre trabalhei e me sustentei sozinha. Ele não é a vítima, é culpado do que fez essas pessoas passarem — afirma.
O caso foi descoberto em julho do ano passado, depois que a então companheira de Daniel, moradora da Região Metropolitana, procurou a PF. A assistente social, mãe de uma filha dele, contou aos policiais ter descoberto que Dan forjava ser agente federal há um ano e meio. Relatou que o companheiro saía de casa vestido com uniforme e guardava na residência colete com emblema da PF e armas — os materiais foram apreendidos (todos falsos, segundo a PF, assim como os armamentos eram de airsoft).
A palavra aqui não é vingança e sim justiça. Quero que ele devolva tudo que tirou. Que repare os danos psicológicos, sociais, morais e financeiros.
VÍTIMA
A partir do relato da primeira mulher, um grupo de outras ex-companheiras passou a procurar a polícia e relatar situações semelhantes. Ouvidas pela investigação, contaram que ele costumava andar armado e enviar fotografias como se fosse policial. Daniel foi preso de forma preventiva em 24 de julho do ano passado em shopping em São Paulo, onde mantinha relacionamento com outra mulher. Depois, foi trazido para o Rio Grande do Sul, onde permaneceu detido, até o início deste ano.
Os processos
Na Justiça Federal, Daniel responde a duas ações penais: uma relativa à dois casos de estelionato e por uso indevido de sinal público, que aguarda sentença e a outra, por quatro estelionatos, uso de documento falso e falsificação de documento público, em fase inicial. Outros três casos, onde não havia envolvimento direto do nome da PF, foram remetidos para a Justiça Estadual de Cachoeirinha, na Região Metropolitana, Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, e Criciúma, em Santa Catarina.
Responsável pela defesa de Daniel na primeira ação, o advogado Elton Soares, de Caxias do Sul, sustenta que o cliente não cometeu os estelionatos. O advogado reafirma que Daniel recebeu o direito de permanecer fora da prisão, com monitoramento por tornozeleira eletrônica e diz que agora ele aguarda a sentença.
— A defesa reitera a inocência do réu. Os fatos não se deram exatamente como constam na peça acusatória — argumenta.