O inquérito sobre a morte do engenheiro Gustavo dos Santos Amaral em uma abordagem da Brigada Militar em Marau, em abril deste ano, foi encaminhado pela Polícia Civil ao Judiciário nesta segunda-feira (3). A investigação, que concluiu que o brigadiano agiu em legítima defesa imaginária ao atirar contra o rapaz, confundindo um celular com uma arma, ficou parada na delegacia da cidade por 42 dias.
A remessa ao judiciário foi anunciada pela chefe de polícia do Rio Grande do Sul, Nadine Anflor, à família, em encontro no Palácio da Polícia. A delegada reuniu-se com familiares da vítima, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e o movimento Vidas Negras Importam após GaúchaZH informar, na última semana, sobre o não encaminhamento da investigação ao fórum.
A chefe de polícia explicou à família que a remessa não ocorreu da forma eletrônica porque o sistema da polícia e o do judiciário ainda não são compatíveis, o que, segundo ela, está sendo ajustado. Também disse que devido à pandemia havia outros inquéritos na fila para serem entregues fisicamente no fórum e não seria justo passar um caso na frente dos demais.
A delegada também defendeu o entendimento ao qual o delegado Norberto Rodrigues chegou em seu inquérito, e se colocou à disposição da família.
— A gente tem que compreender a posição da família que perde um ente querido e nada que se faça vai trazer de volta. É legítimo o movimento. A gente compreende que talvez o resultado não tenha satisfeito a expectativa da família, que em nossa visão é um trabalho que parece ter sido benfeito, bem conduzido — declarou Nadine.
O caso, agora, fica sob responsabilidade do Ministério Público (MP). O promotor de Marau, Bruno Bonamente, deverá definir se oferece denúncia, pede mais investigações ou arquiva o caso. A família não concorda com a conclusão do delegado, enquanto a defesa do policial entende o resultado como legítimo.
A deputada Luciana Genro, da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, que acompanhou a reunião, declarou que Gustavo foi vítima de racismo.
— Esperamos que esse entendimento possa ser revertido no curso do processo. A própria Brigada Militar concluiu que houve crime em seu inquérito interno. Gustavo era um jovem negro que foi morto enquanto ia ao trabalho, vítima do racismo estrutural que existe na sociedade brasileira — criticou.
Os advogados José Paulo Schneider e Ricardo de Oliveira de Almeida enviaram nota à reportagem na qual "refutam qualquer interferência externa":
"A defesa aguarda por uma célere e justa análise das investigações, alertando para a necessidade de que as autoridades responsáveis sigam realizando seus trabalhos com autonomia e imparcialidade. As decisões do presente caso, sejam quais forem, devem ser tomadas a partir das provas coligidas aos autos, sem qualquer interferência externa".