A corretora de imóveis Daniela Franco, 45 anos, havia usado os R$ 600 do auxílio emergencial ao qual tem direito para fazer compras e manter a família abastecida nas próximas semanas. A sua filha de 18 anos, Gisela, sofre de Síndrome de Sanfilippo, uma doença progressiva e degenerativa que a obriga a se alimentar por sonda ou com comidas pastosas.
As compras, entretanto, não chegaram na casa de Daniela. Quando ela chegou no prédio, todas as suas sacolas foram levadas em um assalto à mão armada.
A corretora conta que, por volta das 17h45min, ao voltar do supermercado, ela desembarcou do carro e tocou o interfone, para que a filha mais velha, Pietra, de 20 anos, descesse para ajudá-la a pegar as compras. Nesse momento, os criminosos abordaram ela e o motorista de aplicativo que a conduziu até a residência, que fica na zona sul.
— Eu fiquei segurando o portão do prédio e ela pegou o carrinho (disponibilizado pelo condomínio aos moradores). Quando ela e o motorista descarregaram a última sacola, vieram dois homens armados. Colocaram a arma na cabeça da minha filha, começaram a gritar. Botaram todas as sacolas de volta no carro e fugiram. A compra foi de R$ 473 e eles levaram tudo.
Daniela se diz revoltada com o episódio.
— Esse auxílio vem em um momento muito complicado que todo mundo está passando. É uma revolta muito grande, ter que ver minha filha passando por isso, ver eles levarem tudo, inclusive o carro do motorista. Nunca mais eu vou pedir para ela descer para me ajudar — afirma. O veículo do motorista de app roubado pelos bandidos foi um HB20 preto.
Nas sacolas, estavam frutas, verdumes e legumes serviriam para fazer os cremes para a filha. Além das duas jovens, Daniela mora também com a mãe:
— Fiquei mais de duas horas no mercado, olhando, escolhendo o que estava mais em conta. A gente aqui em casa come qualquer coisa, mas ela não.
Alimentação é apenas uma das despesas da família de Daniela. Gisela passou a apresentar a síndrome aos 7 anos, quando começou a regredir nas atividades da escola. Hoje, ela precisa tomar 22 remédios por dia. Em um ano, Daniela afirma que gastou R$ 12.800 em fraldas. Além dos remédios, que consegue via judicial e pelo plano de saúde, a corretora tem um gasto médio mensal de cerca de R$ 2.500.
Para dar conta das despesas, a autônoma realiza campanhas e recebe ajuda de amigos e pessoas que se solidarizam com a história.
— Ela tem 18 anos, 1m75cm, mas é como se tivesse cinco. É o nosso bebê.
Causada pela deficiência de uma enzima, a Síndrome de Sanfilippo é genética, causa atraso mental e alterações no comportamento. De forma progressiva, a capacidade de concentração, fala e visão também pode ser afetada.
— Quem me conhece, sabe que a nossa vida já não é fácil. Eu fico me perguntando por que algo assim acontece com a gente. Sei que todo mundo passa por isso, todo mundo já foi assaltado. Mas é um choque, porque se soma a toda a nossa situação.
Desde 2017, quando a caçula ficou cinco meses internada em uma UTI pediátrica, Daniela conta que não consegue um trabalho formal. Ela tem dificuldade de conseguir emprego, em razão do cuidado com Gisela.
— Quando os filhos nascem, a gente costuma dizer que não dorme mais. Eu sinto que não durmo desde 2017. Chega uma hora que você só pensa em desistir, mas eu não posso. Eu não desisto por elas.
Como ajudar
Para ajudar a família, é possível entrar em contato pelo telefone (51) 9 9106-7209 ou pela página do facebook de Gisela.