Mesmo em período de confinamento, com menor circulação de pessoas nas ruas, o crime de estelionato segue em alta no Rio Grande do Sul. Em março houve aumento de 6% nos golpes registrados, em relação ao mesmo período do ano passado. Foram 2.165 ocorrências no Estado ao longo do mês, ou seja, média de 70 casos por dia. O dado é um dos indicadores criminais divulgado nessa semana pela Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Segundo a Polícia Civil, os golpistas estão se aproveitando desse período, onde há maior circulação de informações sobre um tema importante como o coronavírus, para aplicar outros tipos de estelionato. Para isso, por exemplo, fingem que estão fazendo por telefone cadastro para recebimento de vacinas, de brindes e até doação de álcool gel e de máscaras. O auxílio emergencial - benefício concedido pelo governo federal para trabalhadores autônomos — também é usado para ludibriar as vítimas e obter dados pessoais.
— Já era esperado que tivéssemos uma redução dos golpes presenciais, como o conto do bilhete, por exemplo, que exige esse contato com a vítima, e incremento nesse tipo de ocorrências a distância. Sempre que existe uma situação que mobiliza as pessoas e resulta em envio de mensagens, um fato social, e os golpistas se aproveitam disso. Nesse caso, é a covid-19, onde eles usam diversos argumentos. As pessoas têm de redobrar os cuidados nessa época — alerta a titular da Delegacia do Idoso de Porto Alegre, delegada Cristiane Ramos.
Os idosos estão justamente entre as vítimas em potencial dos estelionatários. Mas, nesse caso, costumam ser alvo em telefonemas, onde são enganados por meio da conversa. A facilidade de convencimento é uma das características comuns dos estelionatários. Os criminosos conseguem fazer com que a vítima acredite que eles representam algum órgão oficial.
E há também um perfil diverso de golpista, que está por trás de fraudes que envolvem links, sites e aplicativos na internet. Como no caso do falso cadastro para liberação do auxílio emergencial. Nesse caso, como não há contato com a vítima, o estelionatário é alguém com conhecimento em informática. Esse é uma das trapaças onde os criminosos utilizam ainda outra estratégia diferenciada, que é a disseminação em massa. E, para isso, usam a própria vítima.
— Eles orientam que ela encaminhe a mensagem para o máximo de pessoas possível. A vítima acaba se tornando um vetor de disseminação do golpe, que vai atingir outros. É preciso estar muito atendo para isso. Nenhuma informação oficial vai te pedir isso, para espalhar a mensagem assim. Existe sempre uma vantagem em troca para o golpista — explica a delegada.
Segundo o delegado André Anicet, da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), outras trapaças já conhecidas seguem fazendo novas vítimas, como o golpe dos nudes, na qual a vítima acaba sendo extorquida, a clonagem de WhatsApp e o falso depósito. Uma das estratégias dos criminosos, alerta, é se passar por alguém com funções como policial, para ganhar credibilidade e até exigir que a vítima envie documentos.
A maioria desses golpes visa, de maneira geral, capturar informações pessoais das vítimas e, com isso, cometer outros delitos ou conseguir valores em dinheiro. Para isso, os golpistas podem pedir até mesmo informações sobre contas bancárias e cartões de crédito. A orientação é ficar atento e não repassar dados por telefone ou internet. Outra dica importante é alertar os conhecidos sobre os golpes existentes. Caso a pessoa seja vítima, é preciso registrar o crime. Para isso, pode ser usada a Delegacia Online da Polícia Civil.
Alguns golpes
Vacina e álcool gel
Nessa modalidade, o golpista telefona para números aleatórios. A vítima atende e é informada que está sendo realizado um cadastro. Usam, por exemplo, como motivação aplicação de vacinas, distribuição de álcool gel e máscaras, e também entrega de brindes, como chocolates. Para isso, pede que a vítima repasse dados pessoais, como nome completo, CPF, RG e informações sobre cartões bancários. Essas informações são usadas para aplicar outros golpes e obter dinheiro.
Como se proteger
Não repasse informações pessoais para desconhecidos. Se ficar na dúvida, entre em contato diretamente com o órgão oficial. Desconfie de promessas de brindes ou outro tipo de recompensa, pois são formas usadas pelos golpistas para atrair as vítimas. Entre em contato com uma pessoa próxima e relate o que está acontecendo. Ela pode te auxiliar a perceber que é um golpe.
Auxilio emergencial
O benefício do governo federal concedido para trabalhadores autônomos também é alvo dos estelionatários. Por links falsos na internet ou mesmo aplicativos, prometem realizar o cadastro para liberação do valor.
Para isso, repassam mensagens com endereços de sites, onde é preciso preencher um formulário. Dessa forma, os golpistas também conseguem obter os dados das vítimas.
Como se proteger
Fique atento para o endereço do site que será acessado. Os governamentais possuem o final "gov.br". Já os usados pelos golpistas podem contar outros endereços. Outra dica é observar quem é o desenvolvedor do aplicativo antes de baixá-lo. O oficial é desenvolvido pela Caixa Econômica Federal - essa informação sobre o nome do desenvolvedor pode ser consultada antes de baixar o app. Pesquisas em sites oficiais também servem para verificar se a informação é verdadeira.
Nudes
É outro tipo de trapaça que segue sendo aplicada e tem como alvo homens, geralmente de meia idade. Uma jovem faz contato pelas redes sociais e os dois trocam fotos íntimas.
Algum tempo depois, a vítima recebe telefonema ou mensagem de um homem que se identifica como pai da jovem, como advogado ou mesmo policial. Ele afirma que ela é menor de idade e passa a extorquir a vítima para que repasse dinheiro.
Como se proteger
Evite começar conversas por meio de aplicativos de mensagens com perfis desconhecidos. Não repasse fotos íntimas pela internet, principalmente para desconhecidos. Evite conversas por meio de aplicativos com prefixo telefônico desconhecido. Não faça depósitos, transferências ou pagamentos para desconhecidos.
Clonagem de Whats
Pode alegar que precisa conferir se o celular é mesmo da vítima (com base em algum anúncio que ela tenho feito na internet), ou que a pessoa está prestes a receber algum brinde e até mesmo convite para algum evento. Caso informe o código, a pessoa terá o WhatsApp acessado pelo golpista, que poderá, por exemplo, pedir dinheiro emprestado aos contatos.
Como se proteger
Uma das formas mais simples é ativar a verificação em duas etapas na sua conta. Assim, o aplicativo exigirá que o golpista informe esse número, que só você saberá. É possível acionar a função pelo próprio WhatsApp.
Falso depósito
O golpista entra em contato com a pessoa que fez algum anúncio em aplicativo ou site. Ele se mostra interessado em adquirir o item anunciado. Então realiza um depósito de um envelope vazio e envia o comprovante para a vítima, que remete o objeto para o estelionatário. A vítima só se dá conta do golpe quando percebe que o pagamento não foi efetivado.
Como se proteger
Só entregue ou transfira o bem negociado depois da confirmação do pagamento (confirmação da Transferência Eletrônica Disponível - TED).
Comparativo
- Março de 2020 - 2.165 (70 casos por dia)
- Março de 2019 - 2.032 (65 casos por dia)
- Variação - aumento de 6%
Fonte: SSP-RS