A Polícia Civil concluiu o inquérito da morte do empresário Jair Silveira de Almeida, ocorrida no dia 31 de outubro, em Porto Alegre. Seis pessoas foram indiciadas por homicídio triplamente qualificado e por associação criminosa armada.
Mas a principal dúvida, sobre se o empresário seria mesmo o alvo da execução, não ficou esclarecida, e a investigação pode ter desdobramentos se surgirem novas pistas.
Os suspeitos foram denunciados pelo Ministério Público (MP) e já se tornaram réus pelos crimes na 2ª Vara do Júri da Capital. A polícia tem provas de que os envolvidos foram contratados para matar uma pessoa e de que receberiam valores por este trabalho.
— Não tem autor mediato, aquele que teria contratado a execução, não há elementos para indiciamento do suposto mandante. Fica em aberto a possibilidade de novas investigações caso surjam novas provas — explica o delegado Cassiano Cabral, da 3ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
A investigação não obteve elementos para afirmar se de fato Almeida seria o alvo dos matadores e qual seria a motivação para o crime. A suspeita de que ele fora morto por engano surgiu logo após a execução, que aconteceu na frente de uma clínica em que familiares do empresário trabalhavam e cujo prédio era alugado em nome dele, no bairro Anchieta.
O empresário foi morto com 11 tiros dentro de uma caminhonete Range Rover. No dia seguinte à execução, outro empresário, dono da Ranger Rover e casado com uma sobrinha de Almeida, procurou a polícia dizendo acreditar que ele seria o alvo do ataque a tiros. Ele também apontou um suposto mandante de sua morte. Ambos prestaram depoimentos no inquérito, trocando acusações. A suspeita não ficou comprovada.
— Temos provas de que os executores conversaram sobre uma execução e receber dinheiro como recompensa. Uma morte foi encomendada, mas não se sabe de quem. Nas tratativas, não mencionaram nome do alvo, características físicas, a profissão, a idade, nada. Tentamos tirar informação com os suspeitos presos, acordo de delação premiada foi proposto, sem sucesso — esclareceu o delegado Cabral.
Dados obtidos na investigação ainda intrigam a polícia. Por exemplo: horas antes do crime, um dos suspeitos avisa comparsas de que o alvo está no local. Isso indica que os criminosos estavam monitorando a movimentação na clínica e que teriam avistado o alvo dos disparos. Naquele horário, a Range Rover estava no local, mas o dono dela, que diz que seria o alvo dos matadores, não.
— Não sabemos se ao confirmar a presença do alvo eles se referiram a uma pessoa ou a um carro usado por determinada pessoa. Mas também temos de considerar que a forma como eles foram até o veículo, que estava com o vidro aberto (o que possibilitava que a pessoa fosse vista) e executaram o motorista, indica que sabiam o que estavam fazendo — comenta o delegado.
O esclarecimento sobre quem participou do crime começou com a prisão, horas depois da execução, de Roger Duarte Mello. Uma arma localizada no imóvel em que ele estava, em Cachoeirinha, foi identificada como uma das usadas no crime. Exame do Instituto-Geral de Perícias indicou que estojos expelidos pela pistola 9 milímetros eram compatíveis com estojos recolhidos no local da execução.
Outros dois dos suspeitos indiciados teriam escapado da casa em que Mello foi preso e foram identificados em imagens de câmeras de segurança: Jonas Ramos da Silva e Roger dos Santos Carvalho, conhecido como Barney. Jonas também teve impressões digitais localizadas em um dos carros usados na ação.
A análise de conversas telefônicas dos suspeitos indicou para mais dois envolvidos: Valdemir dos Santos Junior, conhecido como Babão e que teria participado da execução, e Tiago Soares da Silva, que seria o responsável por arregimentar o grupo para o serviço. O sexto acusado é Felipe Mancio dos Santos.
Eles foram indiciados por homicídio triplamente qualificado: por motivo torpe, por causar perigo comum, já que outras pessoas podiam ter sido atingidas pelos tiros, e por usar recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Roger Mello e Jonas estão presos. Os outros quatro réus estão foragidos.
A família de Almeida, que acompanhou a investigação, preferiu não se manifestar.
O crime
O empresário Almeida, 53 anos, foi morto na Rua Bartolomeu Bernardi, no bairro Anchieta, na Capital, em frente a uma clínica terapêutica, que funcionava em um prédio alugado em nome dele. A mulher de Almeida é sócia da clínica, juntamente a uma sobrinha dele, que é casada com o empresário que procurou a polícia dizendo acreditar que era o verdadeiro alvo da execução. No dia do crime, Almeida estava usando uma Range Rover de propriedade deste empresário.
Contrapontos
O que diz Marcelo Dorneles da Silva, advogado de Roger Mello:
"Vamos nos manifestar somente dentro do processo."
O que diz Fernando Franco da Cruz, advogado de Jonas Ramos da Silva:
"Prefiro me manifestar somente nos autos."