Vingança do tráfico é a hipótese mais provável para explicar o assassinato do tenente aposentado da BM Jairo Chagas Pires, 60 anos, morto com dois tiros na madrugada de sábado (22), em Viamão. A opinião é de colegas de profissão e familiares do PM reservista, que compareceram ao seu velório.
Pires retornava para casa quando teve seu carro, um Fiat Argo, alvejado por três tiros, nas proximidades do número 90 da Rua José Bonifácio, Bairro Santa Isabel, em Viamão. Dois disparos atingiram o militar: um atravessou o rosto, o outro acertou o peito, causando a morte.
A suspeita é de que Pires teve o carro bloqueado por outro veículo ou por uma moto. Os tiros foram deflagrados de cima para baixo, como se o atirador estivesse num ângulo superior. O militar foi encontrado ainda com vida. Socorrido por um filho, foi levado até uma Unidade de Pronto Atendimento de Viamão, onde morreu durante atendimento médico.
A perícia encontrou no carro, caído sobre o carpete, o revólver Taurus calibre .38 de propriedade de Pires. Estava com uma cápsula deflagrada, o que indica que ele ainda reagiu ao ataque. Até por isso, policiais civis e militares realizaram buscas em hospitais e postos de saúde durante todo o sábado, na esperança de localizar alguém ferido no tiroteio com o tenente, mas não encontraram.
Colegas de Pires do 18º Batalhão de Polícia Militar, de Viamão (onde ele serviu por último) e policiais civis realizaram incursões em pontos de tráfico ao longo do dia e ao anoitecer. Pelo menos três pessoas com antecedentes criminais, que estavam próximas ao local do homicídio, foram detidas para averiguação, mas liberadas em seguida, por não existirem provas de que estejam envolvidas no assassinato.
Pires, mesmo aposentado, continuava trabalhando. Fazia a segurança de uma farmácia na Avenida Liberdade, em Viamão. Quando souberam que ele tinha sido atingido por tiros, familiares até pensaram em assalto. Mas, como nada foi levado do veículo do tenente e ele já estava longe da farmácia, a suspeita é de que tenha sido assassinato premeditado.
Embora aposentado há 11 anos, Pires era conhecido por desafiar as regras impostas por traficantes no Bairro Santa Isabel, onde residia. Conhecidos dele dizem que o PM aposentado causou muito incômodo para os criminosos do Beco do Borel e ruas Chile e Aparecida, onde existem conhecidos pontos de tráfico. Até por esse motivo, esses foram os primeiros locais vistoriados ontem por PMs e policiais civis. O tenente também teve um familiar assassinado por traficantes.
— Ele sempre foi linha de frente. Não aceitava cara feia de ninguém, antes ou depois de aposentado — descreve a viúva, Marisa.
Pires deixou três filhos e uma filha. Dos quatro, três atuam na área de segurança privada.