Três corpos foram encontrados carbonizados dentro de um carro na madrugada do dia 28 de janeiro, em São Bernardo do Campo, região do ABC, em São Paulo. De acordo com a polícia, há possibilidades de que a filha do casal esteja envolvida no crime, que resultou na morte de mãe, pai e filho — o último, de 16 anos. Veja o que se sabe, até agora, sobre o caso:
O que aconteceu?
Na madrugada de 28 de janeiro, bombeiros receberam a denúncia de um carro em chamas na Estrada do Montanhão, em São Paulo. No veículo, foram encontrados três corpos carbonizados — dois deles, no porta-malas. O local da ocorrência fica a cerca de 6 quilômetros do condomínio de sobrados em Santo André, onde a família morava.
Quem eram as vítimas?
Uma família de três pessoas: Flaviana e Romuyuki Gonçalves (mãe e pai ) e o filho Juan Victor Gonçalves, de 16 anos. Flaviana era proprietária de duas perfumarias, enquanto Romuyuki era prestador de serviços para uma montadora.
Quem são os suspeitos do crime?
Ana Flávia Gonçalves, 24, filha do casal e irmã do adolescente, e Carina Ramos, 31, namorada de Ana Flávia há dois anos.
As duas suspeitas, segundo a polícia, caíram em contradições diversas vezes nos depoimentos. De acordo com familiares das vítimas, a transferência de um carro teria gerado uma discussão na família dias antes das mortes. Também há relatos de que o namoro de Ana Flávia com Carina não era bem aceito pelos pais. Carina, inclusive, era proibida de frequentar a casa dos sogros — que suspeitavam do envolvimento dela com facções criminosas na favela onde as duas moravam.
A polícia solicitou a prisão de ambas, que estão detidas no 7º Distrito Policial (DP) de São Bernardo. A partir de análise no celular das suspeitas e de depoimentos de testemunhas, os policiais consideraram o envolvimento de mais pessoas no crime.
De acordo com testemunhas, um homem de 1,9m foi visto na casa da família, ajudando Ana Flávia e Carina a retirar objetos pesados de dentro da residência e colocar dentro do carro. Ele foi identificado como Juliano de Oliveira Ramos Júnior, primo de Carina.
Em segundo depoimento, Carina apresentou nova versão sobre o crime. Ela disse que o primo a procurou para pedir informações sobre a condição financeira dos parentes de Ana Flávia. Por isso, a polícia solicitou prisão temporária de 30 dias para Juliano, que se encontra em uma cadeia para presos provisórios em São Caetano do Sul.
O primo de Carina confessou o envolvimento no assassinato, e acusou a prima e a filha das vítimas de participação no caso. Ele também relatou que o roubo de R$ 85 mil foi planejado como assalto para o dia 27, junto às mulheres e a outros dois comparsas, Guilherme Ramos da Silva e Michael Robert dos Santos, e que a família foi torturada e morta pois o valor não foi localizado no cofre da residência.
Ambos os comparsas denunciados estão presos, sendo um deles detido em flagrante por porte ilegal de arma, um revólver calibre 22. Na casa de Guilherme, a polícia encontrou o videogame do adolescente morto, além da TV da família e uma arma. Michael foi preso no interior de São Paulo e chegou ao Deic de São Bernardo na terça-feira (4) para prestar depoimento.
O advogado de defesa de Ana Flávia e Carina afirma que as duas são inocentes. Na segunda-feira (3), elas decidiram permanecer em silêncio durante depoimento à polícia.
O que a polícia concluiu até agora?
Exames realizados pelo Instituto Médico Legal (IML) Central constataram que a causa da morte dos três corpos carbonizados foi traumatismo craniano, em decorrência de pauladas na cabeça. Então, as vítimas foram mortas antes de terem os corpos queimados na Estrada do Montanhão.
A residência da família estava completamente revirada quando a polícia chegou. Panelas com alimentos crus foram encontradas na cozinha, indicando preparativos de uma refeição que não foi finalizada. Objetos de valor foram levados, como joias, TV, videogame, dinheiro em espécie que somam a quantia de R$ 8 mil em moeda nacional e estrangeira, além de uma arma antiga quebrada, que pertenceu ao avô da suspeita, Ana Flávia. Exames comprovaram a presença de sangue humano nas escadas, nas roupas e na máquina de lavar, entre outros ambientes da casa.
Imagens das câmeras de segurança do condomínio mostram a entrada e a saída do carro de Ana Flávia no dia do crime e Carina com capuz, sentada em um banco do local.
Segundo a polícia, para simular o roubo, o primo de Carina e os dois comparsas chegaram à casa em um Fiat Palio, no mesmo momento em que Carina e Ana Flávia. Na casa, anunciaram o assalto. Os criminosos colocaram um saco na cabeça do adolescente e o espancaram, com o objetivo de fazer com que o pai falasse a senha do cofre — no entanto, ele não sabia a senha, o que fez o grupo decidir esperar Flaviana.
Ao chegar, ela foi rendida pelos criminosos e abriu o cofre, que estava vazio. Ao ver isso, o grupo decidiu, então, matar a família, com o aval de Ana Flávia e Carina.
Ana Flávia, de acordo com o depoimento de Ramos Junior, o primo de Carina, indicou a morte do irmão primeiro, para que ela ficasse com a herança — que seria, em princípio, dividida entre todos os integrantes do crime. Enquanto pai e filho eram mortos, a mãe estava vendada e amarrada.
Depois disso, os corpos foram colocados no veículo da família que saiu do condomínio logo em seguida, junto ao Fiat Palio de Ana Flávia. Após comprar combustível, os suspeitos foram até a Estrada do Montanhão, local onde os corpos foram encontrados carbonizados.
A polícia ainda afirma que Carina se vestiu com roupas de Flaviana para dirigir o Jeep da família sem chamar a atenção.
Qual a motivação para o crime?
Na terça-feira (4), a polícia disse não ter mais dúvidas sobre o envolvimento do grupo nem do planejamento do crime por Ana Flávia e Carina. Mas não tem certeza sobre a motivação do crime. A cogitação é de que o grupo mirava na herança que o casal deixaria após a morte.
A polícia trabalha com a hipótese de uma possível briga familiar. A outra linha de investigação seria de um latrocínio — roubo seguido de morte — mal-sucedido. A arma usada para matar as vítimas ainda está sendo procurada.
A investigação ainda tenta identificar um sexto suspeito, que teria ido à Estrada do Montanhão com um carro, para ajudar o grupo a fugir.