Maior cidade da Região Metropolitana, Canoas encerrou 2019 com redução de 45% no número de vítimas de homicídios em relação ao ano anterior. Dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP) apontam que 65 pessoas foram assassinadas no ano passado. Em 2018, foram 119. É o menor número em 13 anos — em 2006, haviam sido 62 mortes violentas. Os indicadores criminais da cidade e novos investimentos em segurança pública, capitaneados pela prefeitura, foram divulgados em coletiva de imprensa na manhã desta terça-feira (28).
As autoridades que lideram a segurança na cidade de 510 mil habitantes, segundo estimativa do IBGE, apontam que a integração entre Brigada Militar (BM), Polícia Civil e Guarda Municipal foi imprescindível para se chegar a este resultado. Além do trabalho em conjunto, o uso de inteligência e compartilhamento de dados são outros fatores apontados como responsáveis por derrubar o número de mortes violentas.
Na avaliação do responsável pela 2ª Delegacia Regional Metropolitana, delegado Mario Souza, reduzir homicídios é complexo, depende de rapidez na troca de informações e contato imediato entre as polícias para que a prisão dos assassinos seja feita em flagrante.
— Não tem como adivinhar quando vai acontecer, mas tem como agir rápido. A determinação é de que a Delegacia de Homicídios busque realizar a prisão em flagrante, com apoio da BM, quando a cena do crime ainda está quente — afirma Mario Souza.
A nova postura se refletiu no aumento do número de prisões efetuadas pela Polícia Civil em Canoas, que quase triplicou em 2019: foram 147, ante 51 em 2018. As investigações permitem a responsabilização de quem executou o crime, do mandante, de eventuais pessoas que auxiliaram ou deram guarida aos criminosos. Para o delegado, elevar o número de prisões de assassinos diminuiu a impunidade e desmobiliza organizações criminosas.
— Certamente, o maior número de responsabilizações, prisões e ordens judiciais cumpridas chega às organizações criminosas como um prejuízo maior. Nossa avaliação é de que, se tiver morte, vai ter um prejuízo ainda mais elevado aos grupo, do que se não tiver. O homicídio está custando mais caro para eles em Canoas. E é a regra: onde tiver este crime todas as ações possíveis serão implementadas com mais energia — salienta o delegado.
À frente do 15º Batalhão da Polícia Militar (BPM) em Canoas, tenente-coronel Jorge Dirceu Filho afirma que uso de inteligência e de integração permite que, em 99% dos homicídios, se descubra a autoria do crime em até quatro dias. Segundo ele, uma ferramenta chamada de Polígonos de Inteligência permite que a BM acesse dados de registros de ocorrências do passado, relacionando com casos atuais. Também possibilita maior precisão no planejamento do policiamento ostensivo.
— A integração dos bancos de dados de inteligência não se tinha em anos anteriores. Isso dá celeridade no acionamento das equipes, da Polícia Civil e BM, e na preservação do local do crime.
Entre os bairros de Canoas que apresentaram maior redução de criminalidade está o Rio Branco que, segundo o comandante, chegou a registrar vários meses com ocorrências zeradas de roubo a pedestre.
O prefeito de Canoas, Luiz Carlos Busato, entende que a queda no número de mortes violentas ocorreu porque a integração permitiu que todos se sentissem parte do projeto. Ao longo do último ano, a prefeitura comprou 45 viaturas e cedeu mais da metade delas à BM e à Polícia Civil, o restante foi repassado a Guarda Municipal e a agentes de trânsito.
Roubo de veículos ainda é desafio para a cidade
Enquanto indicadores como homicídio, latrocínio e furto de veículo estão em queda, o roubo de veículo apresentou aumento. Em 2019, houve crescimento de 2,5% neste crime: foram 685 ocorrências, ante 668 registros em 2018. Tanto a Polícia Civil quanto a Brigada Militar atribuem esse movimento a falta de cercamento eletrônico da cidade.
No entendimento do comandante do 15º BPM, a posição geográfica de Canoas — cortada por rodovias movimentadas e de fácil acesso, como as BRs 116, 448 e 386 — também torna o trabalho da polícia mais complexo:
— Quem rouba um carro e ingressa na rodovia, até pela velocidade empregada, dificulta a abordagem. Depois que caiu na rodovia, fica difícil de ser detectado. No ano passado, tivemos uma ocorrência de carro roubado em Canoas, que em 22 minutos o veículo já estava em Cachoeirinha, com a placa clonada.
A Brigada Militar tem mapeado quadrilhas que estão agindo na região. De acordo com o tenente-coronel, quase 70% de todos os carros roubados e furtados em Canoas são recuperados em até 24 horas. Isso se deve, segundo o comandante, ao fato de as quadrilhas subtraírem os veículos e posicioná-los em determinados locais já mapeados pela polícia.
Prefeitura anuncia investimentos de R$ 18,5 milhões
Ao divulgar números que mostram a redução dos indicadores de criminalidade na cidade, o prefeito de Canoas, Luiz Carlos Busato, anunciou R$ 18,5 milhões na compra equipamentos e inteligência para a segurança pública da cidade. O centro de monitoramento integrado da cidade, que já conta com 156 câmeras, passará a ter mais cem equipamentos, entre eles, câmeras de reconhecimento facial e de leituras de placas. O espaço também receberá novo mobiliário.
O Executivo municipal também confirmou a compra de 132 armas: 60 não letais, 60 pistolas, seis carabinas calibre 40 e seis espingardas calibre 12, além de 10 motocicletas 850 cilindradas — veículos que serão usados pela BM e Guarda Municipal.
O investimento também inclui 210 equipamentos de proteção individual para agentes, 30 rádios digitais veiculares, 50 rádios digitais portáteis e 140 computadores, que serão distribuídos para Polícia Civil, Guarda Municipal e BM. Todos estes aparelhos somam investimento de R$ 10 milhões, recurso obtido pela prefeitura em um empréstimo junto ao Badesul. Outros R$ 8,5 milhões, captados via crédito no Banrisul, serão usados na compra de um DataCenter da segurança, que servirá como um banco de dados integrado usado pela prefeitura e os demais órgãos de segurança.
— Esse investimento fecha nossa ideia de projeto: a primeira parte foi a integração e o investimento. Agora, vamos entrar com inteligência. As pessoas não querem saber se a segurança pública é um dever do Estado, elas querem mais segurança. Então, adotamos isso como um problema nosso, o que tem sido um grande diferencial em Canoas — avalia o prefeito.