Seguindo tendência que já vinha sendo acompanhada em meses anteriores, a maior parte dos indicadores de violência no Rio Grande do Sul permaneceram em queda em novembro. As mortes de mulheres por questões de gênero — os feminicídios — caminham na direção oposta. Dados divulgados nesta quinta-feira (12) pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) mostram que em novembro 11 mulheres foram assassinadas no Estado. No mesmo período do ano passado, foram oito.
Indicadores de crimes como homicídio, furto, roubo e furto e roubo de veículos seguem apresentando queda. O número de latrocínios (roubo com morte) manteve-se estável.
A chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor, reconhece que o crime contra mulher ainda desafia as forças de segurança. Se por um lado a tipificação recente permitiu o aumento na contabilização dos casos, ampliando a lupa sobre este crime, por outro, há dificuldade em reduzir quando a mulher não procura apoio:
— Diminuir homicídio é mais fácil do que combater feminicídio. No homicídio, tu identificas o líder da quadrilha, isola a facção, com investigação se indicia toda a cadeia envolvida, faz operação de contenção na comunidade, sufoca a área e mostra que ali homicídio não pode acontecer. Agora, o feminicídio é silencioso. Algumas vezes, é seguido de suicídio do agressor. São duas pessoas doentes. Se a mulher não denuncia, a gente não tem como alcançar essa família.
Tendo o combate ao feminicídio como uma das principais metas da sua gestão, Nadine reforça as ações que já têm sido adotadas, como a abertura de mais uma Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), esta semana, em São Leopoldo — agora são 23 em todo Estado. Além das DPs espacializadas, sete Delegacias de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) do Estado, que funcionam 24 horas, contam com um espaço para acolhimento diferenciado das vítimas, nas chamadas salas das margaridas. Taquara, Campo Bom e Farroupilha devem ser as próximas cidades a receberem os espaços.
— O policial tem de saber que precisa atender diferente para que a mulher se sinta acolhida para denunciar. Não se abre esse espaço (sala das margaridas) sem a capacitação de todos da equipe. Se a mulher sequer fez ocorrência, é um crime muito difícil de evitar — pontua Nadine.
Segundo a chefe de polícia, também há campanhas de prevenção que focam na mudança de cultura de crianças e adolescentes.
O vice-governador e secretário da Segurança Pública, Ranolfo Viera Junior, concorda que há mais dificuldade em reduzir os índices de feminicídio no Rio Grande do Sul. Segundo ele, além das ações já adotadas pela Polícia Civil, haverá aumento de 162 policiais militares nas Patrulhas Maria da Penha:
— As instituições estão fazendo sua parte, mas há necessidade de se trabalhar na conscientização, para que as mulheres procurem ajuda. E também a conscientização do agressor.
Na avaliação do vice-governador, a redução dos demais indicadores tem relação com a implementação do programa RS Seguro e a integração entre as forças policiais, incluindo as guardas municipais e as polícias rodoviárias. Foram 126 vítimas de homicídios no Estado em novembro deste ano, de acordo com a SSP, contra 189 no mesmo período de 2018, uma redução de 33%. Apenas na Capital, foram 18 pessoas assassinadas.
— O número de vidas poupadas é algo significativo para nós. E esse programa toca na territorialidade. Trabalha com evidências científicas e governança. Nossa base é integração, inteligência e investimento qualificado. Somado a isso, temos o trabalho de homens e mulheres, os agentes da segurança pública, que mesmo com quatro anos de salários parcelados, têm abnegação e dedicação a sua missão — afirma Ranolfo.
Os indicadores envolvendo veículos também seguem em queda em novembro. Foram 829 ocorrências de roubos de veículos. No mesmo período de 2018, foram 1.206 — queda de 31%. A redução de furtos foi mais tímida: foram registrados 1.050, em 2019, ante 1.051 em 2018.
— O crime de roubo de veículo acaba gerando o latrocínio. Reduzindo o roubo de veículos, conseguimos, indiretamente, baixar os índices de roubos com morte — afirma Ranolfo.
O número de latrocínios (roubo com morte) manteve-se estável: foram oito latrocínios em novembro de 2019, e o mesmo número em igual período do ano passado. Apenas em Porto Alegre, foram três casos no mês.
Comandante-geral da Brigada Militar, coronel Rodrigo Mohr Piccon, acredita que o uso da inteligência policial para lidar com crime organizado e o aumento de abordagens de veículos e pessoas suspeitas têm refletido na melhora dos números.
— Temos uma maior proatividade policial que tem causado grandes efeitos — avalia o coronel.