Mesmo após perder o movimento das pernas ao ser baleado em um assalto, o policial da Brigada Militar Jean Cássio de Vargas, 29 anos, vai continuar servindo à população. Acostumado com a farda marrom da polícia, o soldado agora vai usar a vermelha do Corpo de Bombeiros Voluntários de Sobradinho, cidade onde mora.
O policial está afastado do combate ao crime nas ruas desde que foi atingido por um tiro disparado por um bandido ao reagir a um roubo a ônibus no bairro Menino Deus, em Porto Alegre, em 2018. Um dos disparos atingiu sua coluna e o deixou paraplégico.
O convite para participar foi feito pelos coordenadores do Corpo de Bombeiros Voluntários da cidade. O grupo é composto por pessoas que decidiram se aperfeiçoar em combate às chamas, resgate e salvamento no município gratuitamente. A unidade surgiu pela demanda da cidade, já que o batalhão estadual dos Bombeiros mais próximo fica a 45 quilômetros de distância.
A ideia é que o soldado possa fazer funções administrativas, como o registro de ocorrências, o controle das guarnições, cadastro de bombeiros e o atendimento telefônico. A esposa dele, a professora Daniela Trindade, 41, também preencheu ficha de inscrição para fazer parte dos bombeiros.
— Fizeram o convite e eu prontamente aceitei. Voluntariado é um trabalho que sempre adorei. Acho maravilhoso servir as pessoas — diz o policial.
Vargas explica que os bombeiros voluntários da cidade, que atuam há 19 anos, são considerados fundamentais na região, já que há muitas estufas de secagem de fumo.
Na Brigada Militar, o soldado ainda está com o futuro indefinido. Não se sabe se ele será colocado na reserva, já que não pode seguir em atividades, mesmo que administrativas. Há uma lei aprovada que permite que policiais com deficiência possam fazer monitoramento de câmeras e outros serviços internos, mas ainda não foi regulamentada. O novo comando-geral da Brigada Militar está se movimentando para colocá-la em prática.
Soldado ganhou carro adaptado
Na última quarta-feira (13), o soldado recebeu como doação um carro adaptado da comunidade de 14 bairros de Porto Alegre. O veículo é automático. Para facilitar o uso, o comando para acelerar e frear foi colocado em um controle ao alcance da mão do motorista.
O carro tem o valor de R$ 76 mil, mas foi vendido por uma revenda da Capital a preço promocional, por R$ 41 mil. A empresa conseguiu gratuitamente o valor da adaptação e reduziu o lucro, informou o gerente de operações da revenda, José Luiz Moreira.
Arma do soldado falhou
O soldado foi baleado na noite de uma segunda-feira, dia 11 de junho de 2018, durante um assalto a ônibus no bairro Menino Deus, na Capital. Mesmo em férias e sem a farda, decidiu reagir à ação dos criminosos, na altura da Avenida Érico Veríssimo.
O soldado estava dentro do coletivo da linha Paulino Azurenha quando dois homens anunciaram o assalto. Um ficou próximo do cobrador e o outro pegaria pertences dos passageiros. Vargas conta que se levantou e anunciou voz de prisão, mas os ladrões prosseguiram e um deles puxou uma arma. O policial tentou disparar, mas a arma falhou.
— Quando dei a voz de abordagem, ele largou o saco e puxou de baixo da camisa a arma. Nesse momento, eu fui dar um disparo, mas a arma falhou. Deu uma pane que não consegui identificar o que era. Não consegui resolver e ele deu dois disparos. Um de raspão e um segundo que fez maior estrago — lembrou.
O soldado conta que o tiro perfurou o rim e atingiu sua coluna. Ele passou seis meses no hospital.