Como forma de ajudar o soldado da Brigada Militar (BM) que perdeu o movimento das pernas ao ser baleado em um assalto a ônibus, moradores de 14 bairros de Porto Alegre reuniram-se para doar dinheiro e comprar um carro adaptado para ele. O gesto de solidariedade ameniza os problemas enfrentados pelo policial Jean Cássio de Vargas, 29 anos, desde o dia 11 de junho de 2018, quando foi atingido por dois tiros ao reagir a ação criminosa.
O carro, um Onix, foi entregue em uma solenidade na sede do 9º Batalhão de Polícia Militar nesta quarta-feira (13). O veículo é automático. Para facilitar o uso, o comando para acelerar e frear foi colocado em um controle ao alcance da mão do motorista.
— O carro vai me dar mobilidade. Até o momento eu só fico em casa, faço fisioterapia em casa também. Vai me ajudar a ir aos locais no dia a dia, ir no hospital, ir no comércio. É uma forma de retomar a rotina — agradeceu o policial.
O policial mora em Sobradinho com a esposa, a 230 quilômetros de Porto Alegre. Quando chegou no batalhão, viu o seu futuro carro o aguardando, envolto por uma capa azul-marinho. Ele sabia o modelo, mas vivia a expectativa de poder dirigi-lo. Durante a solenidade, quando o tecido que cobria foi retirado, Vargas se emocionou e abraçou o comandante do batalhão.
— Faria tudo de novo. É dever do policial militar de proteger a sociedade, um instinto — relatou o PM.
A esposa do policial, a professora Daniela Trindade, 41, afirmou que o carro vem em ótima hora para a família. Contou que ficou afastada do trabalho por mais de seis meses e só agora conseguiu retornar às salas de aula.
— O Jean estava muito em casa, acomodado. Só que ele não gosta de estar pedindo favor para a família. Agora, vai retomar a independência dele — reconheceu.
O comandante do 9º Batalhão da Brigada Militar, Luciano Moritz Bueno, foi um dos homens que liderou a rede de solidariedade. O coronel percebeu, durante uma conversa com o soldado, a vontade dele de conseguir voltar a se locomover.
— É um reconhecimento da comunidade para as forças de segurança. O soldado, em defesa da sociedade, restou gravemente ferido. Ele estava representando o Estado. Hoje, está lesionado, em uma cadeira de rodas. Dessa forma, conseguimos, com ajuda da comunidade, devolver parte da mobilidade e da qualidade de vida a esse policial — declarou o oficial.
O carro tem o valor de R$ 76 mil, mas foi vendido por uma revenda da Capital a preço promocional, por R$ 41 mil. A empresa conseguiu gratuitamente o valor da adaptação e reduziu o lucro, informou o gerente de operações da Jardine, José Luiz Moreira.
Morador da região das Ilhas, o empresário Moises Schneider foi um dos doadores. Ele explicou que foi destinada uma conta para que os vizinhos repassassem o valor. Em 10 dias, todo o valor necessário foi arrecadado.
Arma do soldado falhou
O soldado foi baleado na noite de uma segunda-feira, dia 11 de junho, durante um assalto a ônibus no bairro Menino Deus, na Capital. Mesmo em férias e sem a farda, decidiu reagir a ação dos criminosos, na altura da Avenida Érico Veríssimo.
O soldado estava dentro do coletivo da linha Paulino Azurenha quando dois homens anunciaram o assalto. Um ficou próximo do cobrador e o outro pegaria pertences dos passageiros. Vargas conta que se levantou e anunciou voz de prisão, mas os ladrões prosseguiram e um deles puxou uma arma. O policial tentou disparar, mas a arma falhou.
— Quando dei a voz de abordagem, ele largou o saco e puxou de baixo da camisa a arma. Nesse momento, eu fui dar um disparo, mas a arma falhou. Deu uma pane que não consegui identificar o que era. Não consegui resolver e ele deu dois disparos. Um de raspão e um segundo que fez maior estrago — lembrou.
O soldado conta que o tiro perfurou o rim e atingiu sua coluna.
—No momento em que fui atingido já não senti mais minhas pernas— recordou, com a voz trêmula.
O soldado foi levado no próprio ônibus até o Hospital de Pronto Socorro (HPS), onde passou por cirurgia. Ele ficou seis meses internado no Hospital da Brigada Militar.
O PM trabalhava no grupo da Rocam, o pelotão de motos do 9º Batalhão da Brigada Militar. Estava na corporação há um ano e seis meses, mas havia concluído o curso de soldado havia apenas quatro meses. Agora, está afastado, se recuperando. O soldado ainda planeja o futuro na profissão, mas diz que o momento é de ficar mais próximo da família.