O segurança acusado de torturar um suspeito de furto usando uma máquina de choque, dentro de uma sala do supermercado Extra do Morumbi, na zona oeste da capital paulista, se apresentou nesta sexta-feira (20) no 89º DP. O crime teria ocorrido, segundo a polícia, em meados de 2017.
Este é o segundo caso de tortura, dentro de supermercados em São Paulo, registrado pela polícia em menos de um mês. A primeira vítima, um adolescente de 17 anos, também foi amarrado, amordaçado, despido e chicoteado após tentar furtar barras de chocolate do supermercado Ricoy, em Vila Joaniza, na periferia da zona sul da capital.
Segundo a delegada Roberta Guerra Maransaldi, o segurança confessou a participação no crime e indicou mais cinco pessoas que teriam ajudado da sessão de tortura, sendo quatro funcionários do mercado e mais um vigia da empresa terceirizada de segurança que presta serviços no estabelecimento. A identidade dos suspeitos não foi informada.
A vítima, ainda não identificada, foi levada à sala após supostamente ser flagrada tentando furtar um pedaço de carne do estabelecimento. Apesar de o caso ter ocorrido há mais de um ano, as imagens da tortura foram divulgadas somente agora. Um inquérito foi instaurado para investigar o caso, nesta quinta-feira (19).
Imagens feitas com celular mostram a vítima sendo agredida com uma máquina de choque, além de ser obrigada a afirmar: "galera, não rouba mais no Extra Morumbi", ou ainda, "eu errei e me ferrei."
Em outro momento de violência, também registrado com um celular, a vítima aparece com uma corda amarrada em seu pescoço enquanto é espancada com um objeto parecido com um cabo de vassoura.
Apesar de o suspeito ter confessado o crime, ela irá responder ao caso por enquanto em liberdade, disse a delegada Roberta. Ela acrescentou que o segurança admitiu que foi ele quem usou a máquina de choque contra a vítima. O acusado também entregou a participação de cada um dos outros cinco suspeitos na sessão de tortura.
A delegada afirmou ainda que já identificou outros suspeitos e que já tem os primeiros nomes de outros dois.
Imprescritível
Ariel de Castro Alves, advogado e conselheiro do Conselho Estadual de Direitos Humanos (Condepe), afirmou que, como crime ocorrido no Extra é de tortura, mesmo que tenha ocorrido há mais de um ano "ele não prescreve".
— Este é mais um caso contundente de tortura praticada por seguranças. A tortura ocorre quando alguém é submetido, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de castigo — destacou o advogado.
A pena para este tipo de crime varia de dois a oito anos de reclusão.
Resposta
O Extra afirmou ter tomado ciência sobre o caso em 12 de setembro e que, imediatamente, iniciou uma investigação interna para apurar a ocorrência e tomar as providências necessárias.
"A rede lamenta profundamente que tal comportamento possa ter ocorrido em uma de suas unidades, uma vez que proíbe o uso de qualquer tipo de violência, por meio de suas políticas internas", diz trecho de nota.
O supermercado, que integra o Grupo Pão de Açúcar, acrescentou que desligou o funcionário responsável pela área de prevenção da loja Morumbi, além de afastar a empresa e os seguranças dela até a conclusão da investigação interna.
Acrescentou também que, independentemente do resultado da investigação, nada justifica um ato como esse e que a empresa tem integral interesse na apuração dos fatos.
A empresa de segurança Comando G8, que fazia os trabalhos de segurança no Extra Morumbi, disse que registrou um boletim de ocorrência no 21º DP (Vila Matilde) no último dia 13. Porém, as investigações foram transferidas para o 89º DP (Portal do Morumbi), responsável pela região onde o crime ocorreu.
"A empresa não compactua com esse tipo de atitude e não aceitará esse comportamento de nenhum de seus 7.200 colaboradores, que passam constantemente por treinamentos, avaliações técnicas e psicológicas a cada 12 meses", afirma trecho de nota.