A 1ª Vara do Júri de Porto Alegre deu início, na manhã desta quinta-feira (26), ao julgamento do réu acusado de assassinar o boxeador Tairone Luis Silveira da Silva, 17 anos. O ex-PM Alexandre Camargo Abe responde por homicídio qualificado por motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa da vítima. O crime ocorreu em 2011, em Osório, no Litoral Norte.
A sessão de julgamento começou pouco depois das 9h30min, com o sorteio dos jurados. Estão sendo ouvidas seis testemunhas — três indicadas pela defesa e três pela acusação. Uma delas é a mãe da vítima. Claudia da Silveira da Silva pediu justiça pelo crime contra o seu filho, lembrou traços de sua personalidade e sua relação com amigos e irmãos. Disse também que guarda até hoje o cinturão de Tairone e suas medalhas — o rapaz era considerado uma promessa do boxe gaúcho.
A sala em que ocorre a audiência é pequena, mas está lotada de familiares do boxeador. Em frente ao fórum, há faixas pedindo justiça, presas às grades, e fotos do boxeador. Uma delas diz que o "sonho de um campeão não pode morrer".
É a segunda vez que ocorre sessão de julgamento do ex-PM — que passou dois anos preso e foi expulso da corporação após o crime. Na primeira, em Osório, em abril deste ano, o conselho de sentença foi dissolvido após a defesa alegar que não havia segurança para o julgamento prosseguir. Moradores e familiares da vítima cercavam o fórum naquele dia. Com isso, a defesa conseguiu o desaforamento — transferência de comarca — para a Capital. O ex-PM foi preso preventivamente na própria sessão, sob a alegação do judiciário de que era necessário manter a ordem pública.
O promotor que trabalha na acusação é Eugênio Paes Amorim. Os advogados do ex-PM são Ezequiel Vetoretti e Rodrigo Grecellé Vares — os mesmos que atuaram na defesa do pai do menino Bernardo, Leandro Boldrini.
A previsão de duração do júri é de dois dias. No entanto, não se descarta que ele possa terminar ainda nesta quinta-feira caso haja agilidade nos depoimentos.
O crime
Segundo o Ministério Público, o boxeador passava em frente à residência do réu, no dia 11 de março de 2011, quando foi chamado por ele, mas seguiu caminhando. O MP declara que o acusado "passou a acompanhá-lo, na mesma direção pela calçada, e sacou da cintura uma pistola Taurus". Depois, segundo a denúncia, atirou e atingiu o rapaz duas vezes.
Para o MP, o crime ocorreu por causa "da intolerância do réu com o grupo de jovens que se reunia com a vítima nas proximidades de sua casa". Segundo testemunhas, Abe reclamou disso várias vezes. Para a promotoria, o assassinato também está ligado ao "sentimento de inveja e frustração de não impor o bastante sua condição de policial à vítima, que tinha projeção nacional dentro do esporte que praticava".
A promotoria também afirma que "tais sentimentos teriam aflorado com o fato de a vítima não ter atendido seu chamado e, em represália, sentindo-se ultrajado e desprezado, efetuou os disparos fatais, impedindo qualquer espécie de reação". A investigação apurou que o policial já havia proferido ameaças a Tairone.
O ex-PM admite ter atirado, mas, segundo o Tribunal de Justiça, alega que agiu em legítima defesa.